De mãos dadas e braços para o alto, as tias cantavam: “Avôhai!”

Para Thelma

Maria era austera. Também era acolhedora. Mas levava um tempo. Embora fosse a mais velha das quatro irmãs, pediu que eu não usasse o “Dona”. Era somente Maria. Sua mãe, na hora da morte, disse: “Maria!, Maria!”. Como na canção de Milton Nascimento.

Tereza, Terezinha, Tetê. Com ela, não consegui tirar o “Dona”. Era Dona Terezinha, não sem alguma inveja de quem a chamava Tetê. Viúva muito jovem, com uma filha para criar, dedicou-se ao magistério, foi dar aulas de História, escreveu livros. Ao seu modo e em seu tempo, posso dizer que era uma verdadeira feminista.

Inês era da política, do grupo de Antônio Mariz, de um PMDB que não existe mais. Íntegra, reta. Política, para ela, era algo muito diferente do que temos visto por aí.

Zélia nos recebia (recebe) com as delícias da sua culinária. “Isso dá um livro de receitas”, disse certa vez a ela. A conversa, sempre muito franca, muito verdadeira.

As tias de Zé Ramalho.

Lembro delas agora porque, se viva estivesse, Dona Terezinha faria 90 anos neste domingo (04).

Seria dia daquela irresistível feijoada na sua casa do Miramar. A família, os amigos, muitos afetos.

Durante anos, frequentei sua casa. As conversas, as reuniões musicais, a melhor sopa do mundo, as opiniões marcadas por rara sinceridade.

Com a experiência que tinha, ela certamente me ensinou muitas coisas.

A sua lição mais importante talvez tenha sido sobre o perdão. A necessidade e a importância do perdão.

Maria, Tetê, Inês, Zélia.

As tias de Zé Ramalho.

Bonito era vê-las de mãos dadas e braços para o alto no momento em que o sobrinho fazia seu show.

Ele cantava: “Avôhai!”.

Elas respondiam em coro: “Avôhai!”.