Dia das Crianças: quais foram os filmes que você viu na infância?

Quando vi Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho, pensei em escrever um post sobre filmes que marcaram a minha infância. Acabei deixando para agora, 11 de outubro, véspera do Dia das Crianças. Começo com uma pergunta dirigida a quem lê a coluna: você lembra da primeira vez em que foi ao cinema?

Eu lembro. Uma matinê de domingo no Cine Bela Vista, que ficava entre os bairros de Jaguaribe e Cruz das Armas. O filme: Cinco Semanas num Balão, que Irwin Allen realizou a partir do livro de Jules Verne. A produção é de 1962. A sessão no Bela Vista foi de 1963 para 1964. Eu tinha entre quatro e cinco anos e fui levado pelo meu tio Amaury.

Meu pai me levou ao Plaza para um Festival do Gordo e O Magro. Meu tio Humberto me apresentou às animações de Walt Disney através de Cinderela, também no Plaza. Minha mãe me mostrou O Rei dos Reis, no Cine Santo Antônio, e, por um tempo, fiquei com muito medo da imagem do Cristo crucificado.

Houve, claro, as aventuras de Tarzan num festival, também no Santo Antônio, que reuniu filmes com Johnny Weissmuller e com Lex Barker. Títulos como Tarzan Contra o Mundo (Weissmuller) e Tarzan e a Fúria Selvagem (Barker), O Filho de Tarzan (Weissmuller) e Tarzan e a Mulher Diabo (Barker).

Vi Branca de Neve e os Sete Anões – deslumbrante! – no relançamento comemorativo dos 30 anos. E Pinóquio, Bambi, Peter Pan e Mogli, O Menino Lobo. Todos no Plaza. Ainda prefiro as animações de ontem às de hoje.

Com minha mãe, no Cine Plaza, conheci meu primeiro símbolo sexual na Raquel Welch quase nua de 1000 Séculos Antes de Cristo. Em Viagem Fantástica, curioso filme de ficção-científica visto no Santo Antônio, achei que ela tinha roupa em excesso.

O primeiro documentário (semi, na verdade), foi Cinco Dias em Novembro, sobre o assassinato do presidente. Minha mãe pediu que a professora me liberasse da aula para ir ao cinema. Lembro que, naquele dia, vi o trailer de 007 Contra a Chantagem Atômica, ainda impróprio para a minha idade. No Cine Municipal.

O debate sobre o racismo entrou na minha vida em dois filmes estrelados por Sidney Poitier: Ao Mestre com Carinho e, principalmente, Adivinhe Quem Vem Para Jantar. O Stanley Kramer de Adivinhe Quem Vem Para Jantar era o mesmo de Deu a Louca no Mundo, comédia maluca que levava o público a um riso incontrolável. Tudo no Santo Antônio.

Lembro também das muitas comédias com Jerry Lewis, sobretudo de Bangunceiro Arrumadinho, e de No Paraíso do Havaí, entre tantos filmes horríveis estrelados por Elvis Presley.

No Cine Rex, vi Jasão e o Velo de Ouro. No Santo Antônio, Simbad e a Princesa. Em ambos, fiquei muitíssimo impressionado com os efeitos especiais.

Contemplei Sophia Loren somente nos cartazes de Felizes Para Sempre, mas pude vê-la em El Cid, grande épico de Anthony Mann, até hoje o meu preferido no gênero.

Não gostei de Roberto Carlos em Ritmo de Aventura, mas gostei de Juventude e Ternura. O filme de Roberto Carlos teve estreia simultânea nos cines Municipal e  Santo Antônio. O de Wanderlea passou no Plaza.

Numa sessão noturna no Plaza, devidamente acompanhado, vi Batman, com o elenco do seriado da televisão. Acostumado a ver em preto e branco na TV, fiquei impactado com a profusão de cores no cinema.

Minha avó Stella me levou ao Municipal para ver A Maior História de Todos os Tempos. Depois, revimos no Rex. Belíssima Paixão de Cristo realizada por George Stevens, um mestre, e estrelada por Max Von Sydow, o ator dos filmes de Ingmar Bergman.

Também foi minha avó Stella que me levou ao Plaza para ver A Noviça Rebelde. A sala cheia, um grande sucesso de bilheteria. Um musical extraordinário, que nunca deixou de me encantar.

A apresentação aos Beatles se deu diante da tela do Santo Antônio, em 1967: A Hard Day’s Night, em reprise, e Help!, em estreia. Foi um completo alumbramento e o início de um amor que já já completa 60 anos.

Todos esses filmes, vi com olhar infantil e, por isso, lembro deles na véspera do Dia das Crianças. Em agosto de 1969, eu só tinha 10 anos, mas deixava de ser, precocemente, uma criança que ia ao cinema. Foi no dia em que vi, no Cine Municipal, 2001: Uma Odisseia no Espaço. Eu não tinha idade para compreender a obra-prima de Stanley Kubrick, mas era como se algo me dissesse que havia algo muito maior no ato de ir ao cinema assistir a um filme. E como havia!