Edu Lobo, 80 anos hoje, é um dos gigantes da MPB

Roberto Carlos fez 80 anos em abril de 2021. Erasmo Carlos, em junho de 2021. Gilberto Gil, em junho de 2022. Caetano Veloso, em agosto de 2022. Milton Nascimento, em outubro de 2022. Paulinho da Viola, em novembro de 2022. Em setembro próximo, Marcos Valle fará 80 anos. E em junho de 2024, Chico Buarque.

Entre esses gigantes da música popular brasileira, quem faz 80 anos nesta terça-feira, 29 de agosto de 2023, é Eduardo de Góes Lobo. Ou, simplesmente, Edu Lobo.

Em 1965, Edu Lobo tinha somente 22 anos quando Elis Regina venceu o festival de MPB cantando Arrastão, dele em parceria com Vinícius de Moraes.

Em 1967, tinha 24 quando ficou em primeiro lugar no III Festival da Música Popular Brasileira com Ponteio, melodia sua, letra de José Carlos Capinan. Disputou com Gilberto Gil (Domingo no Parque), Chico Buarque (Roda Viva) e Caetano Veloso (Alegria, Alegria).

1967, um ano crucial para a MPB. No festival da Record, Edu Lobo, Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil conquistaram dimensão nacional. No FIC, da Globo, quem se projetou foi Milton Nascimento cantando Travessia, da sua parceria com Fernando Brant.

Caetano, Chico, Edu, Gil, Milton. Cinco compositores. Cinco gigantes da música popular brasileira. O curioso é que Edu não quis seguir o caminho dos outros. Largou o sucesso que o festival trouxe e foi estudar música nos Estados Unidos. Arranjo, regência.

O álbum Sergio Mendes Presents Lobo ainda pode ser visto como uma tentativa que não deu certo de se projetar no mercado americano. O disco seguinte, Cantiga de Longe, não mais.

Na volta ao Brasil, há o álbum que ficou conhecido como Missa Breve, em 1973, e os arranjos que, naquele ano, Edu escreveu para o censuradíssimo disco Calabar, O Elogio da Traição, de Chico Buarque.

Em 1976, Limite das Águas. Em 1978, Camaleão e o circuito do Projeto Pixinguinha com o quarteto vocal Boca Livre (o show, inesquecível, passou uma semana em cartaz no nosso Teatro Santa Roza, em João Pessoa). Em 1980, Tempo Presente. Quatro discos autorais com canções inéditas, três gravadoras (Odeon no primeiro, Continental no segundo, PolyGram nos dois últimos), e a confirmação de que Edu correria por fora, respeitado, admirado, reconhecido, mas à margem do sucesso.

Em 1981, o disco em parceria com Tom Jobim foi um verdadeiro presente para Edu Lobo porque, entre os compositores da sua geração, ninguém era mais jobiniano do que ele. Edu cantando Tom, Tom cantando Edu, os dois cantando juntos, piano, violão, o sopro inconfundível do flugel de Márcio Montarroyos. Um negócio absolutamente soberbo.

1983 marcou o início de uma nova etapa da trajetória de Edu: o início da parceria com Chico Buarque. Edu compondo as melodias, Chico fazendo as letras, e um disco antológico, O Grande Circo Místico. Música de balé, canções sofisticadíssimas entregues às vozes de Milton Nascimento, Gal Costa, Tim Maia, Gilberto Gil, Simone, Zizi Possi.

Nos anos seguintes, sempre voltados para o teatro, Edu e Chico fariam outros trabalhos juntos. Não será impreciso afirmar que a parceria com Edu levou Chico a “entortar” o seu modo de compor. O bom é que as canções atravessaram o tempo e, hoje, estão totalmente incorporadas ao repertório dos dois autores.

O pai de Edu, o compositor Fernando Lobo, era pernambucano. Na infância e na adolescência, Edu passava férias no Recife. Essas temporadas pernambucanas foram responsáveis pela presença da música nordestina no seu cancioneiro. Influências que se juntaram à música do Rio de Janeiro, sobretudo a bossa nova.

O primeiro disco de Edu Lobo é de 1964, com arranjos de Luiz Eça e acompanhamento do grande Tamba Trio. Agora, aos 80, ele está preparando, com convidados, uma espécie de antologia comemorativa. Edu tem uma discografia extensa (nos últimos anos, lançou vários discos pelo selo Biscoito Fino) para quem “fugiu” do sucesso. Seu cancioneiro pode não ser numericamente tão vasto, mas é belo e imprescindível à moderna canção popular do Brasil.