Milton Nascimento faz 80 anos como um dos grandes da música popular do Brasil de qualquer tempo

Primeiro foi Gilberto Gil, em 26 de junho. Depois foi Caetano Veloso, em sete de agosto. Nesta quarta-feira, 26 de outubro de 2022, quem faz 80 anos é Milton Nascimento. O imenso Milton Nascimento (Foto/Reprodução), como foi chamado por Caetano Veloso, seu parceiro em Paula e Bebeto. Ou apenas – apelido carinhoso – Bituca, nascido no Rio de Janeiro e adotado por um casal de Minas Gerais. 80 anos, 55 de carreira desde que, com Travessia, no Festival Internacional da Canção de 1967, conquistou projeção nacional e, logo, internacional.

Milton Nascimento – ao lado de Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil – é um dos grandes da geração que se projetou na era dos festivais, segunda metade da década de 1960. Ele já atuava em Minas, já tocava na noite, mas foi com Travessia, que compôs em parceria com Fernando Brant, que se transformou num nome conhecido em todo o Brasil. Milton – seu violão, suas melodias, suas harmonias, seu falsete. Sua voz, sobretudo sua voz, sem qualquer exagero, uma das mais belas da canção popular do planeta.

Dizer que Milton Nascimento é um dos grandes compositores revelados na era dos festivais é verdadeiro, é justo. Mas é insuficiente. Milton Nascimento é um dos grandes da música popular brasileira de qualquer tempo. Transitando entre os tambores de Minas e o jazz, entre o samba e o rock dos Beatles, Milton Nascimento, com as músicas que compôs, com aquelas das quais foi intérprete, com seus discos, com sua presença nos palcos, é um extraordinário acontecimento para a canção popular do Brasil.

Milton vem de Minas, com a influência também da música barroca e da religiosidade do estado onde cresceu. Há nele um mistério que jamais se decifra, algo de milagroso. Sua música e sua voz chegam até seus ouvintes como que transportadas por uma entidade que é única na nossa canção popular. Para entender Milton, para mergulhar no seu vasto cancioneiro, não é preciso decifrar nada. Basta ouvir, basta se entregar à beleza – ou às muitas belezas – que nos oferta desde Travessia, Morro Velho e Canção do Sal, lá do início da carreira.

Para entender Milton, é preciso saber do Clube da Esquina. Primeiro, um lugar de encontro na Belo Horizonte do início dos anos 1960, perto da casa dos Borges. Depois, um quase movimento liderado por Bituca. Um encontro de músicos mineiros. Mais tarde, do Rio de Janeiro. Do mundo. De onde viessem. A primeira grande síntese de tudo isso está no álbum Clube da Esquina, feito em 1972 em parceria com Lô Borges, reconhecido, passados 50 anos, como um dos discos mais importantes da música popular do Brasil.

Milton Nascimento teve Caetano Veloso (Paula e Bebeto, A Terceira Margem do Rio), Chico Buarque (Cio da Terra, Primeiro de Maio) e Gilberto Gil (Sebastian) como parceiros. Mas seus parceiros mais importantes são outros: Fernando Brant, Márcio Borges (irmão de Lô) e Ronaldo Bastos. Borges foi o companheiro das primeiras canções, criadas numa madrugada em que os dois estavam impactados pelo filme Jules e Jim, de François Truffaut. Com Brant, Borges e Bastos, Milton dividiu a autoria das suas melhores músicas.

Para entender Milton, você deve ouvir todos os seus discos. Mas será suficiente conhecer a sequência de álbuns gravados na Odeon entre 1970 e 1978: o LP com o Som Imaginário, de 1970, que abre com Para Lennon e McCartney; Clube da Esquina, o duplo com Lô Borges, de 1972; Milagre dos Peixes, de 1973, quase todo mutilado pela Censura; Milagre dos Peixes ao Vivo, de 1974; Minas e Geraes, de 1975 e 1976, síntese excepcional da música do artista; e Clube da Esquina 2, de 1978, que amplia o conceito do álbum de 1972.

Reconhecido por astros do pop internacional, como Paul Simon e Sting, admirado por Quincy Jones, parceiro de jazzistas como Herbie Hancock e Wayne Shorter, Milton Nascimento é uma reunião de grandes belezas. Grandes belezas e grandes alegrias de um Brasil de tantas tristezas. Neste 26 de outubro em que completa 80 anos, homenageá-lo é ouvir a sua música. Será, particularmente, um bálsamo para os que acompanham sua trajetória. Salve Milton Nascimento, o músico e o cidadão! Viva Bituca!