O eclipse emociona porque põe a gente em contato direto com o que a natureza tem de belo

Fotografia mostra momento em que eclipse se aproxima de anularidade em João Pessoa – Foto: Diego Tozzi

Meu pai tinha quatro anos quando viu o eclipse total do sol de outubro de 1940. Passou a vida falando do impacto que o fenômeno teve nele e de como contribuiu para que se dedicasse ao estudo e à prática da astronomia. Sabia que, sem sair de João Pessoa, não teria a oportunidade de testemunhar outra vez um evento daquela magnitude.

Nasci em 1959 e, certamente por influência do meu pai, sempre desejei (e ainda desejo) ver um eclipse total do sol, mas era (será) necessário ir ao encontro do fenômeno em algum outro lugar que não seja João Pessoa. Houve o eclipse de março de 2006, mas não foi suficiente porque ocorreu no instante do nascer do sol, e não tivemos a sua exata dimensão.

Os eclipses anulares não estavam no radar do meu pai por causa da lembrança que ele tinha do total de 1940. Nem no meu. Tanto que esse do último sábado, 14 de outubro de 2023, nunca figurou entre os acontecimentos astronômicos que eu ansiava por ver. De todo modo, sabia que seria um belo espetáculo e não deixaria de observá-lo.

Depois que meu pai morreu, em 2010, o céu me traz a lembrança dele. As estrelas, as constelações, os planetas que a gente pode observar à vista desarmada, a lua, o caminho zodiacal que o sol percorre através do ano. Tudo isso me remete às suas conversas, à sua história de colaborador, como voluntário, do programa espacial americano, à sua presença no Observatório Astronômico da Paraíba.

Fui ver o eclipse anular do sol com essas coisas na cabeça e, por isso, escolhi Jaguaribe como posto de observação. A balaustrada de Jaguaribe, um lugar tão bonito quanto desprezado por nossas administrações municipais. Jaguaribe, o bairro onde nasci e morei até os 37 anos e onde, nos anos 1960, meu pai registrou a passagem dos primeiros satélites artificiais para o Smithonian Institute.

A alegria de ver o eclipse se confundiu com a saudade do meu tempo de formação, das pessoas, do cinema, da matriz do Rosário, das escolas públicas onde estudei, das audições musicais com os amigos em nossa casa. Jaguaribe me traz melancolia com a visão que tenho de suas casas velhas, algumas precariamente reformadas, e a sensação de empobrecimento do bairro.

A balaustrada estava cheia. Dezenas de pessoas, gente de todas as idades. Um lugar seguro e, naquele entardecer, bem policiado. Pelo que vimos ali e soubemos de outros pontos da Grande João Pessoa, a população respondeu ao chamado da mídia e das redes sociais e, munida de cuidados com a visão, soube reconhecer a importância do fenômeno e a necessidade de não desperdiçar o momento raro.

No ápice do eclipse, a luminosidade do dia cai, a brisa fica um pouco mais fria, e a imagem do sol – todo escuro e com o anel de fogo em suas bordas – é um verdadeiro alumbramento. Esses fenômenos emocionam e até comovem porque, através deles, o ser humano é posto em impressionante contato com a natureza e o que ela tem de muitíssimo belo.