Ódio e nojo à ditadura. 31 de março é dia de relembrar a fala de Ulysses Guimarães

Hoje é sexta-feira, 31 de março de 2023. Há 59 anos, os militares depuseram o presidente João Goulart, iniciando uma ditadura que se estendeu por 21 anos. O ministro José Múcio, da Defesa, e os comandantes militares acordaram que hoje não haverá comemoração nos quartéis.

Está certo. Não há o que comemorar no aniversário de um golpe militar, não há o que comemorar no aniversário do início de uma ditadura que impôs censura à imprensa e aos artistas, cerceou a liberdade do cidadão, prendeu, torturou, mandou para o exílio e matou brasileiros e brasileiras.

Sou de 1959. Tinha cinco anos quando Jango foi deposto. Na ditadura, fui criança, adolescente e adulto jovem. Estudei em escolas públicas, frequentei a universidade pública e entrei no mercado de trabalho. Estava com 26 anos quando os civis voltaram ao poder. Vivi, portanto, numa ditadura e sei como ela é.

Ditadura não presta. É horrível, é abominável, é deplorável. Vivemos sob a ditadura militar de abril de 1964, com a posse do marechal Castelo Branco como presidente da República, até março de 1985, quando o general João Figueiredo foi substituído por José Sarney. Uma longa noite de 21 anos.

Nesses 21 anos, o Brasil teve cinco presidentes militares, além de uma junta (também militar) que assumiu o poder no impedimento, por questões de saúde, do presidente Costa e Silva. Em dezembro de 1968, com a decretação do AI-5, aconteceu o endurecimento do regime, o golpe dentro do golpe.

A foto que ilustra a coluna é do mestre do fotojornalismo Evandro Teixeira e mostra um manifestante sendo perseguido durante um protesto contra a ditadura, no Rio de Janeiro. 

A partir de 2018, com a eleição de Jair Bolsonaro, muita gente voltou a defender a ditadura. O próprio Bolsonaro sonhou com o retorno a um regime de exceção no qual ele fosse o governante. A eleição presidencial de 2022 nos livrou desse pesadelo, mas é sabido que milhões de brasileiros trocariam a democracia pela  ditadura.

Se há algo a comemorar nesse 31 de março é a sobrevivência da nossa democracia, do jeito que ela é, com todos os seus defeitos, mas uma democracia. É um dia em que gosto de lembrar o discurso de Ulysses Guimarães na promulgação da Constituição de 1988. Ódio e nojo à ditadura, palavras de Dr. Ulysses, esse imenso brasileiro.