RETRO2023/Sueli Costa

Texto de Silvo Osias sobre morte de Sueli Costa foi um dos destaques da semana. Matéria que explica o porquê da Paraíba não ter tubarões foi a mais votada entre internautas. (Foto: Divulgação).

Em 1975, uma caravana musical passou por João Pessoa. Seu nome era Setembro. Um grupo de artistas viajava num ônibus fazendo shows onde quer que a caravana chegasse. Também havia a exibição de filmes (Chega de Demanda, Cartola era um deles) e um jogo de futebol com um time local. Lembrei do evento neste quatro de março de 2023, quando soube da morte, aos 79 anos, da compositora Sueli Costa (Foto/Divulgação).

Em João Pessoa, o show foi numa noite de sexta-feira no ginásio do Sesc, no centro da cidade, para um público mínimo. Já contei essa história para algumas pessoas, e elas quase não acreditaram quando mencionei os artistas. Pois é, nesse ônibus, viajavam Paulinho da Viola, Gonzaguinha, Fagner, Moraes Moreira, Armandinho Macedo (com Dadi e Gustavo), o lendário flautista Copinha (Nicolino Cópia) e Sueli Costa.

Naquela época, a gente ainda não tinha noção do que aconteceria com Sueli Costa. Ela despontara como talentosa compositora, já gravada por Elis Regina e Maria Bethânia. Mais tarde, entraria para o repertório de Simone, Fafá de Belém, Gal Costa, Fagner e um monte de cantoras e cantores. Também gravaria seus discos, mas jamais se tornaria um nome reconhecido pelo grande público consumidor de MPB.

Sueli Costa viveu e morreu praticamente no anonimato, a despeito de ter sido muito reverenciada pelos colegas, tanto intérpretes quanto instrumentistas. Sempre me perguntei se ela lidava bem com essa condição e sempre achei triste que ela não tenha conquistado a projeção da qual era merecedora pela qualidade do que compunha.

Sueli era autora de muito talento. Era craque nas linhas melódicas e nos desenhos harmônicos, tocando violão ou piano. Deixou, sobretudo nos anos 1970, canções que marcaram a MPB daquela década e permanecem na memória afetiva de quem as ouviu.

Cito algumas: com Elis Regina, 20 Anos Blue, Cão Sem Dono, O Primeiro Jornal; com Maria Bethânia, Coração Ateu, Encouraçado, Demoníaca, Amor, Amor; com Gal Costa, Vida de Artista; com Fafá de Belém, Dentro de Mim Mora um Anjo; com Simone, Face a Face, Jura Secreta, Medo de Amar No. 2, Cordilheira, Vento Nordeste, Música, Música.

Não faz muito tempo, Wanderlea dedicou um álbum inteiro ao cancioneiro de Sueli. Bethânia fez notáveis registros de algumas das suas canções. Mas me parece que é de Simone o título de intérprete mais expressiva e também mais frequente das músicas de Sueli Costa, que trabalhou sempre com ótimos letristas. Vamos sentir sua falta.