Rocket Man é fantasia cafona e espalhafatosa como Elton John

Rocket Man é fantasia cafona e espalhafatosa como Elton John

Em 2018, Bohemian Rhapsody contou a história do Queen e, sobretudo, de Freddie Mercury.

Agora em 2019, Rocket Man se debruça sobre a trajetória de Elton John.

É inevitável comparar os dois.

Bohemian Rhapsody é, rigorosamente, uma cinebiografia.

Rocket Man é uma fantasia musical.

Em Bohemian Rhapsody, as músicas são ouvidas em estúdios de gravação e performances ao vivo.

Em Rocket Man, elas contam pedaços da história. Como em tantos musicais, são cantadas pelos atores e, em algumas sequências, substituem os diálogos.

Esse modo de utilizar as canções libera totalmente o filme para ser impreciso com datas.

I Want Love, por exemplo, que é uma canção do Elton John cinquentenário, aparece numa cena da sua infância.

O filme, portanto, conta a história de Elton John sem rigor cronológico, mas isso não é um problema. O essencial da sua vida de artista está lá.

O caráter chapa branca de Rocket Man não foi pretexto para encobrir os excessos cometidos pelo músico nem o quanto estes puseram em risco a sua carreira.

A voz de Elton John não é ouvida no filme. Quem interpreta as canções é Taron Egerton, o ator que faz o papel do astro.

Taron faz um convincente Elton, embora a voz esteja longe da do biografado.

Quem narra a história é Elton John. Surtado, colapsado, no momento em que compreende que precisa ficar “limpo”. É nesta altura que ele admite ter se transformado num babaca em meados da década de 1970.

Quem o conheceu antes do sucesso e testemunhou o instante em que se converteu num nome de dimensão internacional, sabe que foi assim mesmo que aconteceu.

O consumo excessivo de drogas lícitas e ilícitas e a compulsão por sexo não eram seus únicos problemas. A criatividade foi abalada. As grandes canções se tornaram mais escassas. O Elton John dos primeiros anos (os seus “classic years”) nunca mais foi o mesmo.

Rocket Man confirma. A grande maioria das canções escolhidas para o filme vem do jovem Elton John. Claro. Porque são as melhores, as mais bonitas. Porque, pela qualidade que ostentam, são as que mais se mantiveram no set list dos seus shows.

Dirigido por Dexter Fletcher, Rocket Man faz bem aos olhos e ouvidos, mas não tem nada de excepcional.

Como fantasia musical, é tão cafona e espalhafatoso quanto o próprio Elton John.