Você tem quantos amigos de verdade, fora esses do mundo ilusório das redes sociais?

Hoje, 20 de julho, é o Dia do Amigo. Há também o Dia da Amizade, em 30 de julho. Nas redes sociais, hoje é um dia lindo, cheio de mensagens inspiradas e inspiradoras. Nas redes sociais, no mundo ilusório das redes sociais. Mas, e no mundo real? Quantos amigos de verdade você tem? Com quantos você pode contar nas horas difíceis? Quantos só lhe querem enquanto você oferece leveza?

No Dia do Amigo, claro que lembro de canções que falam da amizade. Dos Beatles (In My Life) aos Rolling Stones (Waiting on a Friend), de James Taylor (You’ve Got a Friend) a Simon & Garfunkel (Bridge Over Troubled Water). De Milton Nascimento (Canção da América) ao MPB4 (Amigo É Pra Essas Coisas), de Roberto Carlos (Amigo) a Gilberto Gil (Meu Amigo, Meu Herói).

Os versos: “Amigo é coisa pra se guardar no lado esquerdo do peito”, do Milton cantado por Elis Regina. “Meu amigo, meu herói, como dói saber que a ti também corrói a dor da solidão”, do Gil cantado por Zizi Possi.

E as imagens: como uma ponte sobre águas turvas que protege o amigo, na letra da canção de Paul Simon que ele gravou com Art Garfunkel. Ou, simplesmente, a garantia: “você tem um amigo”. Com a doçura da autora (Carole King) ou a delicadeza do intérprete (James Taylor).

Mas, deixemos a poesia e as ternas melodias de lado. Afinal, elas apenas nos consolam. Vivemos num mundo em que os amigos virtuais se sobrepõem aos presenciais. Pior: um mundo em que as cores partidárias, as diferenças ideológicas e a intolerância religiosa desfazem amizades que pareciam sólidas. E admitamos: em alguns casos, é justíssimo que assim seja.

No ano passado, aqui mesmo na coluna, fiz perguntas no Dia da Amizade. Elas não perderam a atualidade. Vou repeti-las nesse 20 de julho de 2022.

De quantos amigos a gente precisa? Com quantos a gente pode de fato contar? Quais são os verdadeiros? Quantos estão associados somente ao poder que passa por suas mãos e um dia vai embora? Quantos – para não deixar de fora uma palavra muito em voga – no fundo lhe são tóxicos? Quantos lhe foram desleais ou com quantos você é que foi?

Alguns dirão que é pessimismo meu. Talvez seja apenas um pedido de socorro, um “gimme some truth”, como na velha canção de John Lennon. Para que essas carinhas bonitinhas que a gente põe nas redes sociais não tomem o lugar dos amigos de carne e osso a quem a gente pode dizer que ama de verdade. E saber que é correspondido.

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Fecho com uma versão pouco conhecida de Meu Amigo, Meu Herói. Caetano Veloso, voz e violão.