Três gerações contagiadas pelo gosto pela leitura e literatura

Foi da escritora Vitória Lima que Thaïs Gualberto herdou o gosto de ler, faz carreira com HQ e repassa o talento para a filha pequena.

“No princípio era a mãe. E o verbo da mãe era muito forte: falou e disse!”. Nas linhas de seu texto ‘Lembramento’, Vitória Lima demonstra a importância da figura da mãe em sua vida. O gosto pela leitura e literatura, ela herdou da mãe e, assim, transfere este prazer para a sua filha, Thaïs Gualberto, e para a neta Marina, de apenas sete anos.

Três gerações que respiram a arte dentro de casa. “Eu sempre incentivei meus filhos à leitura, e Thaïs herdou todos os livros dos irmãos. Grande parte desses livros, hoje, ou alguns que resistiram à destruição da infância, pertence a Marina”, conta Vitória.

Poetisa e professora universitária aposentada, Vitória Lima dedicou sua vida profissional e acadêmica ao estudo da literatura, em especial a inglesa. Hoje, ela coleciona a publicação de duas obras poéticas, Anos Bissextos (1997) e Fúscia (2007).

Sobre o incentivo que recebeu na infância, ela lembra de seus pais. “Eles eram leitores vorazes”, conta. “A gente tinha assinaturas de jornais e revistas em casa. Meu pai era cliente assíduo de Pedrosa, livreiro lá de Campina Grande”.

Vitória conta, ainda, que sua mãe devorava romances, os clássicos inclusive, que ela voltou a estudar e pesquisar quando já estava na universidade. "Eu fui apresentada a Jane Austen e Dickens informalmente em casa, pela minha mãe".

A filha Thaïs também passeia pelas letras, e fez delas a sua profissão. Mas não no campo da poesia, como a mãe. Ela preferiu se aventurar no cenário dos quadrinhos. “Eu sempre tive muitos quadrinhos em casa, principalmente os da Turma da Mônica”, lembra Thaïs, que é interrompida pela lembrança de Vitória ao dizer que fez a assinatura das revistas para a filha, “dei de presente de aniversário”.

Voltando ao assunto, ela conta que sempre sentiu admiração pelas figuras e, como ainda não sabia ler, ficava “louca” para aprender logo e saber o que tinha escrito ali. “Usei essa mesma técnica com minha filha, coloquei bastante quadrinho pra ela se interessar pela leitura”.

Ainda na infância, Thaïs já arriscava alguns traços e diálogos, eram os primeiros passos que ela dava na área, com a criação das primeiras personagens. Na adolescência, também produziu algumas tirinhas, mas só resolveu se dedicar de vez aos quadrinhos quando terminou o curso de Arte e Mídia na UFCG. Atualmente, a quadrinista publica suas tirinhas na internet e produz para algumas revistas.
“Estou começando a escrever uma série voltada para a família. Eu sempre fiz mais quadrinhos para o público adulto. Agora eu quero fazer algo mais amplo, até pra minha filha poder ler também”.

Mas a primeira produção de Thaïs foi uma letra de música, que Vitória guarda até hoje como lembrança. As duas riem quando falam em voz alta o nome: ‘Rock do vovô’. A quadrinista também passeou pela ficção. “Tentei escrever uns três livros. Mas toda vez que formatava o computador, os arquivos se perdiam”. Mas pedir opinião a Vitória antes de finalizar nem passava pela cabeça dela. “Eu queria terminar primeiro”.

Passando o bastão para Marina, a terceira geração da família, mãe e filha se dividem no ofício de incentivar a pequena no universo literário. “Já faz mais de um ano que ela leva a sério essa história de desenhar. E agora que já se alfabetizou, ela tá conseguindo colocar os textos, fazer os quadrinhos”.

Além da contribuição em sua formação no campo artístico, Thaïs afirma que a influência que Vitória exerceu sobre ela foi enquanto sua formação como mulher, buscando sempre ser algo além de um “rostinho bonito”. “Ela sempre me ensinou a questão da igualdade de gênero. E eu me preocupo muito em passar isso pra minha filha”.