Um canto do brega

Documentário ‘Vou Rifar Meu Coração’ da carioca Ana Rieper estreia nesta sexta-feira (3) em exibição no CinEspaço do MAG Shopping.

"Eu li num livro que a paixão é a coisa mais brega do mundo", chega a relatar uma entrevistada no trailer oficial de Vou Rifar Meu Coração (Brasil, 2012), documentário da carioca Ana Rieper que estreia nesta sexta-feira, em exibição no CinEspaço do MAG Shopping, em João Pessoa.

Hoje, na sessão de 18h10 excepcionalmente para convidados, a diretora estará presente para um debate acerca do tema patrocinada pela rede de cinema e pela Funjope (como parte da programação da Festa das Neves).

O filme transita pela música rotulada de ‘brega’ e as histórias da ‘vida real’ colhidas de anônimos, de lugares como Sergipe, Alagoas e Recife. Também são ouvidos cantores e compositores como Agnaldo Timóteo, Nelson Ned, Amado Batista, Lindomar Castilho (autor da música que batizou o documentário), Odair José (que abriu a Festa das Neves nesta semana) e Wando, morto em fevereiro deste ano.

“Qual é a força dessas músicas?”, começou a se indagar a diretora no final dos anos 1990, quando se apaixonou por canções de Reginaldo Rossi e ‘O morango do Nordeste’.

“Percebi que são verdadeiros relatos da vida amorosa dos brasileiros”, lembra Ana Rieper, em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA. “São crônicas dos costumes dos românticos”.

De acordo com a diretora, o filme mostra os artistas frente as suas inspirações e alinha com os depoimentos que vai desde o marido abandonado, a mulher traída, o casamento infeliz, o amante, prostitutas, frequentadores de cabaré e tantos outros tipos recorrentes entre as cifras musicais analisadas pela documentarista. “Não queria fazer nada intelectualizado”, explica.

“Queria fazer com que se comunicasse como essas músicas”.

DITADURA BOM-GOSTO
Além dos personagens que fazem parte dessa radiografia social e romântica, os artistas dissecam o seu trabalho. "O amor não é um encontro de orgasmos. É um encontro de almas", filosofa Nelson Ned em um momento do filme. "Quando você está sofrendo de amor, você acaba fazendo músicas melhores", teoriza Amado Batista no seu depoimento.

Para Ana Rieper, o brega é timbrado como algo pernicioso por causa da “ditadura do bom-gosto, que excluem esses artistas, massacrados historicamente pelos meios de comunicação e formadores de opinião”.

Tirando as horas de voo, a diretora acumulou 5 mil quilômetros de estrada nas quatro semanas de filmagens, totalizando mais de 100 horas de material. “Entraram os depoimentos que tínhamos gostado mais e que se encaixavam com as falas dos artistas”.

Rieper está muito contente com a repercussão das exibições do documentário, seja em festivais como em Portugal, seja na projeção em um circo no interior alagoano. “As pessoas saíam (do circo) cantando as músicas e dizendo que se identificaram com o filme, como uma mulher que disse que o marido tem outra família”.

Vou Rifar Meu Coração conta com o patrocínio do programa Petrobras Cultural e o apoio do BNDES, através de uma seleção pública realizada no ano de 2010.