Uma paixão além da farda

Policial militar morto na sede do Ceatur no domingo (7) era também um apaixonado pelo audiovisual, com diversos curtas produzidos.

O paraibano Gláucio Souza, um policial militar de 25 anos que morreu na manhã do último domingo, após ser baleado dentro da sede da Companhia Especializada em Atendimento ao Turista, em João Pessoa, tinha uma grande paixão além da farda: a Sétima Arte.

“Conheci Gláucio numa oficina de cinema no Espaço Cultural, que surpreendeu a todos quando chegou no dia seguinte vestido de policial militar. Inacreditável”, relembra o cineasta e professor Bertrand Lira. “Ele demonstrava muita vontade de fazer cinema, estava super-entusiasmado com essa possibilidade”.

Natural de Santa Rita, a morte prematura de Gláucio Souza pegou de surpresa toda a comunidade audiovisual paraibana, que manifesta seu luto nas redes sociais como no grupo do Facebook ‘A Paraíba Precisa Ser Assistida’.

“Estou chocada e muito triste”, postou na internet a escritora Maria Valéria Rezende. “Conheci o Gláucio, cheio de entusiasmo e planos, quando ele fez seu primeiro curta de ficção (homônimo, lançado em 2012), baseado na minha narrativa Vasto Mundo… e ele estava só começando”.

Tanto que ele já estava com novos projetos engatilhados, de acordo com o cineasta Gian Orsini. “Ele me chamou para fazer um trabalho semana passada. Eu disse que não ia dar e ele disse: ‘tranquilo, fica pra próxima!’”.

Graduado em Comunicação Social pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), seu primeiro trabalho na área foi o documentário Tibiri Caderno 2 – A Parte que a TV Não Mostra (2011), colocando em foco a vivência de uma série de artistas anônimos encontrados pelas ruas de Santa Rita.

“Ele era de uma sensibilidade e uma criatividade fora do normal”, aponta o ator Everaldo Pontes, que participou do elenco de Vasto Mundo. “Ele era muito perfeccionista. Foi para a minha casa várias vezes para ensaiar o texto. Achei aquilo lindo, uma experiência bastante rica”.

Outro documentário de destaque no currículo de Gláucio Souza é Essas Senhoras (2011), curta que enquadra a vida de três rezadeiras de Santa Rita, um resgate sobre as tradições, crenças e práticas que estão se extinguindo ao longo dos anos.

Nesta produção, Bertrand Lira analisa que o jovem diretor “já mostrava familiaridade com o cinema”.

A maioria de seus trabalhos podem ser vistos no YouTube, incluindo uma participação como ator no clipe dirigido por Taty Carvalho da música ‘Com o pé direito’, de Adeildo Vieira.
“Gláucio era otimista e perseverante. Tinha uma vida cheia de planos para o cinema”, comenta Everaldo Pontes.