Van Morrison divide os holofotes com estrelas da música em novo disco

Entre blues, jazz, folk e gospel, álbum de duetos faz um belo apanhado da carreira do cantor e compositor irlandês.

“Sou um homem de antigamente”. Assim se autodefine Van Morrison na nova edição da revista inglesa Uncut, que traz o cultuado cantor e compositor irlandês na capa. Com 50 anos de uma gloriosa carreira nas costas e prestes a fazer 70 anos de idade em agosto, ele reavalia seu legado em boa companhia em um novo álbum.

Morrison, pessoalmente, selecionou as 16 estrelas que dividem com ele os microfones de Duets: Re-working the Catalogue (Sony Music, R$ 24,90). Com eles, o cantor revisita uma série de clássicos pinçados entre as mais de 300 composições que escreveu até aqui.

“Eu não gosto de pensar nas canções antigas, exceto quando há a possibilidade de refazê-las em um arranjo diferente. E eu consigo uma experiência diferente trabalhando com pessoas diferentes”, declara Morrison.

E é exatamente essa filosofia que ele emprega no 35º álbum de sua carreira, que traz veteranos do quilate de Bob- by Womack, George Benson, Taj Mahal e Mavis Staples, até gente nova como Joss Stone Gregory Porter e Michael Bublé.

Entre estúdios em Belfast, terra natal do anfitrião, e Londres, Van Morrison dedicou boa parte de 2014 a gravar esse repertório, dividindo a produção do Don Was (hoje presidente do selo Blue Note) e Bob Rock (produtor de discos do Aerosmith e Metallica).

Com Womack, Van Morrison regravou ‘Some peace of mind’, de 1991; com Benson fez ‘Highter then the world’, canção que abre Inarticulate Speech of the Heart (1983), agora com muito mais suingue; Taj Mahal fecha o CD com o blues ‘How can a poor boy?’, da safra recente (2008) e Morrison celebra o gospel ao lado da cantora Mavis Staples no clássico ‘If I ever needed someone’, gravado originalmente em seu LP de 1970, His Band and the Street Choir.

Com Joss Stone, Van Morrison também escolheu uma canção antiga: a balada ‘Wild honey’, de 1980. Para Gregory Poter, outro clássico: ‘The eternal kansas city’, apresentada com o vigor jazzístico de New Orleans, e Michael Bublé divide os vocais de ‘Real, real gone’ (1990), faixa escolhida para ser o primeiro single desse novo trabalho.

O álbum ainda traz duetos com Stevie Winwood (‘Fire in the belly’), Mark Knopfler (‘Irish heartbeat’, completamente em sintonia com a fase solo do ex-Dire Straits), Natalie Cole (‘These are the days’), Clare Teal (‘’Carrying a torch’), P.J. Proby (marcando presença na canção que leva seu nome, ‘Whatever happened to P.J. Proby’), Georgie Fame (‘Get on with the show’), Mick Hucknall (‘Streets of Arklow’) e Chris Farlowe (‘Born to sing’)

Duets: Re-working the Catalogue é uma bela coletânea que traduz os 50 anos de música de Van Morrison. Ela passeia pelo jazz, blues, folk e gospel que ele costumava ouvir quando garoto, fuçando na coleção de discos do pai, um estivador irlandês de ótimo gosto musical.

Hoje ele gosta de dizer que veio de um tempo diferente da maioria das pessoas. “Eu cresci numa época esotérica”, comenta na reportagem da Uncut. “Coisas que levavam você a refletir”, acrescenta.

“Ouvir jazz era uma audição que exigia um compromisso intelectual. Blues, você tinha que ouvir as letras, se concentrar nelas. Você tinha que senti-las. Não era como ligar o rádio e sintonizar o Top 10”.