Vida cotidiana em quadrinhos

Quadrinista Marcello Quintanilha está em João Pessoa para lançar Tungstênio.

“As histórias representam aquilo que sou e me constituiu como ser humano”, explica o quadrinista Marcello Quintanilha sobre a brasilidade absolvida na sua obra. “Eu trabalho aquilo que está comigo”.

Quintanilha está em João Pessoa para lançar Tungstênio (Veneta, 184 páginas, R$ 54,90). Nesta sexta-feira, o autor baterá um papo com o público paraibano às 19h, na escola de idiomas CNA (av. Ruy Carneiro, 416, em Miramar).

Amanhã, na gibiteria Comic House (av. Nego, 255, Tambaú), no mesmo horário, haverá uma sessão de autógrafos com o quadrinista junto com Gabriel Jardim, que lançará sua primeira HQ, a independente Café.

Mesmo com 12 anos morando na Espanha, o Brasil nunca saiu das vistas do niteroiense. Seus trabalhos carregam a essência da crônica, apesar de ele mesmo desconsiderar que é um observador in loco da vida brasileira.

Em HQs como Sábado dos Meus Amores (que está presente na seleção do livro 1001 Quadrinhos para Ler Antes de Morrer) e Almas Públicas é comum presenciar ‘causos’ como as superstições de um torcedor fanático, o primeiro amor de uma moça recém-alfabetizada, os sonhos de um jogador de futebol que ruiu com os estampidos da Ditadura, dentre outras histórias de um cotidiano trágico, cômico e lírico.

Já Tungstênio mostra uma averiguação policial sobre uma denúncia de pesca predatória em Salvador. “Vai aparecendo personagens que têm uma relação periférica e vai ganhando mais e mais espaço”, explica Quintanilha. “Vamos aprendendo a vida de cada e as pequenas vinganças que uns têm contra os outros”.

Não é à toa que Salvador foi escolhido por Marcello Quintanilha. Ele assinou o livro que leva o nome da localidade para a coleção Cidades Ilustradas, projeto da Casa 21 onde um artista é convidado para retratar uma capital brasileira.

“Foi a conjugação de um desejo que tinha de conhecer a cidade”, aponta. “Tudo que dizem de Salvador é a absoluta verdade. Ela está na gênese que temos como um povo. Eu me encontrei lá. Isso foi em 2003. Parece que foi há muito tempo? Para mim foi ontem”.

Quintanilha diz que a inspiração para fazer HQs – “o ponto mais alto que um ser humano pode chegar na vida” – é muito volátil: pode partir daquilo que ele mesmo viveu, relatos de pessoas próximas a ele ou simplesmente por algo desagradável ou um sentimento. “Ouço muito também. Sou bom de ouvido das conversas na rua. Gosto de ouvir a rádio AM”.

Personagens aparentemente banais em situações que apresentam um caráter universal. Este é uma estética muito própria de um dos maiores quadrinistas do país.