Crise será longa e terá “forte impacto” na economia real, diz Mantega

Segundo ministro, porém, impacto sobre economias emergentes é menor. Governo avalia aumento do prazo de recolhimento dos impostos, disse ele.

Do G1

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, abandonou o tom otimista nesta terça-feira (28) ao avaliar, durante 3º Encontro Nacional da Indústria, que a crise financeira será de "longa duração" e com "forte impacto" na economia real. "Vai desacelerar no mundo todo. Já está ficando nítido agora", acrescentou ele.

Na avaliação do ministro da Fazenda, o travamento do crédito será um dos principais fatores a diminuir o nível de atividade em todo o mundo. "É impressionante como o travamento do crédito pode se transmitir para a economia mundial. Está prevista recessão econômica que eu espero que não se transforme em depressão. Esse é o desafio dos países avançados. Os pacotes econômicos apenas mitigaram o problema, mas não está resolvido ainda o problema do crédito", disse ele.

O ministro disse também que o governo está avaliando a possibilidade de aumentar o prazo de recolhimento dos impostos como uma das respostas à crise financeira internacional. O pedido de ampliação do prazo foi feito pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto.

Instituições financeiras

Mantega disse, ainda, ser "natural" que as instituições financeiras tenham tido posição de "comedimento e precaução" com relação a seus empréstimos em um momento de crise. "Falta capital de giro, mas não há um travamento [do crédito] como há na economia americana. Lá não há crédito interbancário. Aqui existe, em proporção pequena. E o governo procura usar as armas que existem, como o compulsório. É uma reserva financeira importante para irrigar o sistema", disse ele.

Segundo o ministro, a liberação de depósitos compulsórios para os bancos representa uma "arma poderosa" para fornecer liquidez ao sistema financeiro – apesar das reclamações de que as instituições financeiras não estejam repassando estes recursos para a economia real. "[O compulsório] vai entrando aos poucos [no sistema financeiro]. Os bancos ficaram temerosos em um primeiro momento. Mas acho que agora já estão comprando a carteira de bancos menores", acrescentou.

Impacto menor nos emergentes

O ministro analisou, porém, que a atual crise financeira impacta menos os países em desenvolvimento, chamados de emergentes. "Impacta também [o Brasil], mas menos. Porque esses países já tem um dinamismo maior que as economias avançadas não possuem. O mercado tem um potencial maior de crescimento e os fundamentos econômicos são melhores. [Os emergentes] fizeram a lição de casa. Acumularam reservas e robusteceram as contas públicas", disse Mantega.

Comparação com crise da Rússia de 1998

Mantega também aproveitou para fazer uma comparação com a crise da Rússia de 1998, que gerou a maxidesvalorização do real no início de 1999 após o Banco Central ter gasto quase todas as reservas cambiais brasileiras naquele momento. Segundo o ministro, aquela crise impactou muito mais a economia brasileira do que a atual.

"A crise da Rússia foi localizada. Entretanto, teve impacto muito forte no Brasil e quase derrubou a economia brasileira. As reservas evaporaram. A estrutura produtiva estava enfraquecida. Nesses últimos anos, fortalecemos a economia brasileira e modernizamos o parque produtivo. O Brasil passou a ser competidor internacional em várias áreas. Acumulamos US$ 200 bilhões em reservas, coisa que não tínhamos. E as reservas continuam. O setor financeiro está mais sólido do que estava", concluiu.