Gotas que elevam produção

Projeto de irrigação localizada por gotejamento para fruticultura e olericultura, desenvolvido pelo Sebrae ajuda agricultores do Estado.

“Este ano não foi muito bom de chuva não, mas só tenho a agradecer. Para mim foi bem melhor que os outros. Estou conseguindo vender mais e ganhar mais. Já estamos comprando até um carro”. A declaração é do produtor rural Denilson Cardoso, de 28 anos, que possui uma pequena propriedade no município de Alhandra, na Zona da Mata do Estado. A terra ao redor está seca, mas de gota em gota, a produção continua crescendo.

Em Alhandra, a estiagem não está sendo tão severa quanto em outras regiões do Estado, mas o sol forte já secou a terra e muito do que é produzido poderia estar se perdendo não fosse o desenvolvimento de um projeto de irrigação simples, mas eficaz.

O plantio, que mescla hortaliças e pequenas fruteiras – que ainda estão em fase de desenvolvimento – fica a poucos metros da casa simples, onde Denilson mora com mais sete pessoas. Na família, todos são agricultores e as experiências que eles estão tendo há um ano e meio mostram que é possível produzir em anos de estiagem. Para tanto, é preciso investir nos projetos certos e se preparar antes que a seca venha.

A propriedade de Denilson é uma Unidade Técnica Demonstrativa (UTD) do projeto de irrigação localizada por gotejamento para fruticultura e olericultura, desenvolvido pelo Sebrae na Paraíba, em parceria com o governo federal. O sistema consiste, como o próprio nome já diz, em uma irrigação feita gota a gota, localizada próximo ao solo. Um dos grandes diferenciais deste tipo de irrigação é a economia de água, chegando a gastar cerca de 50% a menos que outros métodos como o de aspersão, segundo estudos. Além disso, no caso do projeto da UTD, soma-se uma ‘cobertura morta’, que é colocada ao redor da planta e serve para reduzir a evaporação, mantendo o solo úmido. O gotejamento não é uma forma nova de irrigação, mas ainda não é popularizado na Paraíba.

“Antes, não tinha um ano em que a água do poço passasse os 12 meses sem secar. Aí a gente precisava cavar mais fundo para ver se aparecia água novamente. Agora, desde que temos este novo tipo de irrigação, o poço ainda não secou. E ainda tem muita água lá”, comemorou o agricultor, que além da UTD também possui em sua propriedade o projeto de Produção Agroecológica Irrigada e Sustentável, que também utiliza o gotejamento como forma de irrigação.

Engenheira agrônoma e técnica do Sebrae, Joelma Varelo acompanha de perto a produção no sítio de Denilson e avalia os resultados. Segundo ela, atualmente o Sebrae acompanha ainda mais oito propriedades rurais na Zona da Mata e no Litoral da Paraíba, todas utilizando o sistema de gotejamento na produção.

“Este sistema pode ser desenvolvido em qualquer lugar em que haja água disponível e é bom principalmente para as regiões mais secas, já que um dos diferenciais dele é a economia de água”, comentou.

Além da economia de água, o sistema utilizado no sítio de Denilson não tem consumo de energia tão elevado, visto que, para o bombeamento da água, não é preciso um equipamento de grande porte. “Aqui a bomba é utilizada apenas para levar a água do poço à caixa d’água. De lá para a plantação, é utilizada a própria gravidade”, explicou Joelma Varelo.

Por enquanto, o projeto das UTDs ainda funciona como um “piloto”, mas experiências de sucesso mostram que é possível ampliar as áreas irrigadas, gastando bem menos água e energia, respeitando as peculiaridades de cada região. O gestor do Programa de Horticultura do Sebrae, Pablo Queiroz, ressalta a viabilidade do projeto para outras áreas do Estado. “Mesmo na época de seca, se tiver poço ou alguma forma de captar água próximo da propriedade, é possível que se tenha produção o ano todo utilizando o sistema de gotejamento”, afirmou.