As indústrias, que por décadas foram vistas como vilãs pela degradação ambiental, começam, agora, a fazer lição de casa para buscar alternativas na redução do consumo de água. Na Paraíba, em meio ao ‘fervilhão’ das máquinas e do processo de produção que não para, as indústrias desenvolvem projetos inovadores para reduzir a conta no final do mês. Hoje, na segunda reportagem da série ‘Economia de água’, o JORNAL DA PARAÍBA mostra iniciativas voltadas para o consumo consciente em que o protagonista é o setor industrial.
Preocupado com o alto valor da conta de água, o empresário José Anselmo da Silva percebeu que era chegada a hora de mudar os hábitos na fábrica Aluminordeste, no Distrito Industrial de Campina Grande. Não houve radicalismo, mas os resultados foram surpreendentes. A fábrica, segundo Edilene Vasconcelos, filha de Anselmo, faz captação de água de chuva para utilização na fabricação do alumínio. São quatro reservatórios com capacidade para 32 milhões de metros cúbicos de água.
Segundo Edilene, a conta de água teve uma queda tão significativa que a fábrica chegou a ser alvo de fiscalização, pela suspeita de que alguma coisa estava errada.
“Há cinco anos praticamente toda a água que utilizamos no setor produtivo vem da chuva. Foi uma medida simples, porém eficaz”, declarou. A captação da água da chuva é feita por meio de calhas, colocadas em pontos estratégicos. A utilização da água da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa) é mínima.
Veja manual de uso racional da água publicado no JORNAL DA PARAÍBA
Reutilização da água
A economia não para por aí. Toda a água da fábrica é reutilizada, segundo revelou Edilene. O reaproveitamento no processo industrial deixa até os funcionários orgulhosos, pelo fato de contribuírem diretamente com a preservação dos recursos naturais. A água que seria descartada é reaproveitada para lavar pisos e carros, para dar descarga, etc. Foi dessa forma que a Aluminordeste encontrou um meio de se manter competitiva no mercado, sem abrir mão da sustentabilidade.
Fábrica do Sertão faz reúso da água
Há cerca de um ano, o empresário Marcos Guedes sentiu a necessidade de buscar alternativas para reduzir o consumo de água na fábrica Laticínio Belo Vale, instalada no município de Sousa, no Sertão da Paraíba. Uma das medidas adotadas pela direção foi o reúso da água que sai dos equipamentos para lavagem de veículos e áreas externas da fábrica. Para o empresário, tudo depende da decisão do gestor, que precisa ter a consciência da economia de água”, declarou.
A indústria também passou a contar com hidrômetros para medir o gasto de água e, a partir dessa medição, estipular metas de redução. A iniciativa deu certo. Hoje a indústria de laticínios gasta menos dinheiro com água e busca o caminho da sustentabilidade.
“Muitas vezes as coisas não acontecem porque a ideia deve ser aceita, primeiro, pelo gestor. Quando a pessoa que está à frente da empresa compra a ideia, tudo fica mais fácil”, explicou Guedes. Com aproximadamente 250 funcionários, a indústria realiza campanhas permanentes que visam à economia de água.
A mudança aconteceu também em relação à qualidade da água. Desde o ano passado, a Belo Vale passou a contar com um sistema de filtragem por osmose reversa, que filtra os minerais, liberando água de melhor qualidade para fabricação dos laticínios, os quais são vendidos em todo o Nordeste. “As mudanças que fizemos na empresa vieram atender necessidades reais, provenientes da escassez de água que vivenciamos nessa região do Estado”, contou o empresário.
Saiba mais
Vale destacar que o município de Campina Grande sofre racionamento de água desde dezembro do ano passado. Atualmente, a população fica sem água das 17h do sábado até as 5h da terça-feira. Outros municípios e distritos da região de Campina também são atingidos pelo racionamento de água. As medidas adotadas na Aluminordeste acabam incentivando os funcionários a também economizarem água em suas casas.
