Roberto Carlos volta a cantar “Quero que Vá Tudo pro Inferno”

Dias atrás, escrevi aqui que torcia para que, ao receber Gilberto Gil na gravação do seu especial de fim de ano, Roberto Carlos cantasse Se Eu Quiser Falar com Deus. A música foi composta por Gil para o Rei, mas este não quis gravá-la.

Claro que não aconteceu. Mas houve algo surpreendente na gravação. Roberto Carlos voltou a cantar Quero que Vá Tudo pro Inferno, que banira do seu repertório há muitos anos.

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Costumo dizer que só quem ouviu Quero que Vá Tudo pro Inferno na época sabe da sua força e do quanto ela tinha de transgressão.

Eu estava com sete anos incompletos e ainda tenho a lembrança de como foi. Um sucesso extraordinário, uma verdadeira febre nacional. Na nossa rua, em Jaguaribe, uma difusora tocava a música o dia inteiro.

Nos sábados, eu e meus primos fazíamos “shows” para a nossa avó. Católica fervorosa, ela permitia a inclusão da música no repertório, desde que a palavra inferno fosse omitida.

Engraçado! Parecia antecipar, em muitos anos, o que o próprio Roberto Carlos faria.

Impossibilitado de cantar a música, menos pela crença do que pelo transtorno obsessivo compulsivo, o Rei acabou por retirá-la do set list dos seus shows.

Não foi a única canção atingida por suas compulsões. Em outras, alterou letras, trocou palavras, mexeu com o sentido dos versos originais.

Roberto Carlos buscou ajuda profissional e falou abertamente sobre o problema.

Os resultados vieram com o tempo. Voltou a cantar Negro Gato. E a pronunciar “se o bem e o mal existem” e não “se o bem e o bem existem”, em É Preciso Saber Viver.

Muita gente sabia que, no dia em que voltasse a cantar Quero que Vá Tudo pro Inferno, teria atingido um estágio muito satisfatório de convivência com o TOC.

O retorno da canção ao seu repertório é uma vitória para Roberto Carlos na luta contra o transtorno. E um motivo a mais para vermos o seu especial de fim de ano.