Desnutrição já matou 67 paraibanos somente este ano

Apesar da preocupação natural com a saúde das crianças, os dados do Ministério da Saúde revelam que a maior quantidade de mortes por desnutrição foram a partir dos 60 anos.

Natália Xavier do Jornal da Paraíba

Um problema causado por alimentação inadequada, a desnutrição já causou a morte de 67 paraibanos somente entre os meses de janeiro a abril deste ano, uma média de 16,7 mortes por mês, conforme dados do Ministério da Saúde. A morbidade atinge principalmente crianças e idosos e somente nos quatro primeiros meses deste ano já foram registradas 708 internações nos hospitais públicos da Paraíba.

De acordo com a nutricionista clínica Heloísa Helena Espínola, o problema é causado principalmente por alimentação inadequada e pode estar relacionado à baixa nutricidade tanto calórica quanto de outros nutrientes, como vitaminas e sais minerais. “Para evitar a desnutrição é preciso uma alimentação balanceada em cada fase da vida. Dependendo da idade e do sexo deve haver uma alimentação com nutrientes específicos, para isto é importante o acompanhamento de um nutricionista”, frisou.

“Uma criança na idade escolar, por exemplo, deve ter no café da manhã vitamina de frutas com cereais e pão com queijo. Depois ela deve fazer um lanche com iogurte e frutas. No almoço, além do arroz, feijão e da carne, do frango ou do peixe, ela deve consumir muitos vegetais e legumes. Depois do almoço ela deve comer uma fruta e antes do jantar ela deve fazer um lanche com uma barra de cereal ou frutas. No jantar, pode ser algo como sopa ou inhame”, exemplificou.

Entre as consequências da falta de nutrientes estão a anemia, a descalcificação óssea, a alteração hormonal e a baixa imunidade. “Toda a fisiologia do organismo fica comprometida, a pessoa fica com a imunidade baixa, adoece fácil. A maioria dos casos de desnutrição são reversíveis com o acompanhamento médico. É importante lembrar que a desnutrição é muito grave e perigosa e pode chegar a matar”, ressaltou a nutricionista.

A falta de condições em oferecer uma alimentação tão balanceada aos filhos tem feito com que a dona de casa Vera Lúcia Araújo, de 38 anos, moradora da comunidade Cangote do Urubu, em Jaguaribe, na capital, tenha que se preocupar com o baixo peso das crianças. Vivendo com apenas R$ 134,00 e com doações, Vera Lúcia sente dificuldade em alimentar os nove filhos. Uma das filhas dela, de sete anos, está abaixo do peso e da altura ideais para a idade. “Ela é muito magrinha e muito pequenininha. Ela gripa com muita frequência. Já passamos dificuldades para ter o que comer em casa, mas mesmo quando tem ela não gosta muito de comer arroz e feijão, prefere comer bolacha recheada. Os outros irmãos se alimentam melhor”, disse Vera Lúcia acrescentando que não sabe ao certo o peso da filha, mas que ela deve ter aproximadamente 20 quilos.

Conforme Heloísa Espínola, no caso das crianças, para identificar a desnutrição existe uma tabela específica em que os médicos consideram a idade, o sexo e a altura. Segundo Heloísa, no caso de meninas com sete anos, como a filha de Vera Lúcia, o peso ideal é de em média 26 quilos. Já para os adultos, o cálculo para identificar a subnutrição é bem mais fácil e pode ser feito em casa por qualquer pessoa. Basta dividir o peso pelo quadrado da altura. Se o resultado for menos que 17 é sinal de desnutrição.

Apesar da preocupação natural com a saúde das crianças, os dados do Ministério da Saúde revelam que a maior quantidade de mortes por desnutrição foram a partir dos 60 anos. Somente nos quatro primeiros meses deste ano, 49 pessoas nesta faixa etária morreram. “É comum a pessoa mais velha ter perda de massa muscular. Com o passar do tempo, absorção de nutrientes fica mais difícil, além disto, muitas vezes a pessoa começa a se alimentar mal. A pessoa idosa não pode ter a mesma alimentação das outras pessoas da casa. Ela precisa de alimentação mais pastosa, que não seja de difícil mastigação e precisa se alimentar de três em três horas com nutrientes específicos”, explicou a nutricionista.

Programas

A nutricionista da Gerência Operacional de Alimentação e Nutrição da Secretaria de Estado de Saúde, Ana Maria Alves, informou que a secretaria desenvolve vários programas de combate à desnutrição na Paraíba. Entre os trabalhos desenvolvidos está o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional, que acompanha desde crianças até as pessoas mais idosas. “Este programa é direcionado a todo o ciclo de vida e está implantado em todas as unidades básicas de Saúde do Estado”, destacou.
Também fazem parte das ações para combater a subnutrição o incentivo ao aleitamento materno e a Estratégia Nacional de Promoção da Alimentação Complementar Saudável, que orienta as mães sobre que alimentos devem oferecer aos filhos após o desmame para que eles não percam peso.