Mercados vendem antibióticos sem receita médica

Estabelecimentos vendem medicamentos clandestinamente, por menos de R$ 5.

Mercadinhos do bairro de Jacaré, em Cabedelo, Região Metropolitana de João Pessoa, estão vendendo medicamentos clandestinamente aos moradores da localidade. Antibióticos, antinflamatórios e analgésicos podem ser encontrados facilmente nos estabelecimentos por menos de R$ 5,00, sem a necessidade de apresentar a receita médica. A atividade ilegal, denunciada por moradores da localidade, representa risco à população, já que a origem dos medicamentos é desconhecida e a forma de armazenamento é inadequada.

Para apurar a denúncia, a reportagem do JORNAL DA PARAÍBA foi até um dos estabelecimentos, localizado nas proximidades da Estação Ferroviária. Ao entrar no local, percebemos que havia um recipiente com comprimidos diversos em cima de uma prateleira próxima ao caixa. Em seguida, perguntamos a funcionária se no local vendiam analgésicos. A atendente confirmou e nos repassou dois comprimidos de paracetamol ao preço de R$ 1,20.

Ao percebermos que no recipiente havia pílulas diversas, perguntamos sobre um antibiótico. A mulher nos ofereceu Amoxicilina, medicamento utilizado para combater infecções na garganta, faringe, amídalas. Sem perguntar sobre a receita ou indicação de uso, a mulher pegou o remédio e repassou para nós seis unidades ao preço de R$ 0,70 cada.

Segundo Josemir Barbosa (nome fictício), a prática é comum no local e, assim como no mercadinho visitado pela reportagem, a venda de medicamentos acontece em outros estabelecimentos do mesmo ramo. “Esse mercadinho aí em frente, na mesma rua, também vende remédio. Todo mundo sabe disso e sempre compra”, revela.

Josemir conta que soube da venda clandestina de remédios quando esteve no bairro para visitar um sobrinho que estava doente. “Meu sobrinho estava com a garganta inflamada e pediu que eu comprasse Amoxicilina no mercadinho. Quando cheguei lá, comprei o remédio e a moça não pediu nenhuma receita”, disse.

Outros dois moradores entrevistados pela reportagem revelaram que o bairro não dispõe de farmácia e que quando precisam de medicamentos recorrem aos mercadinhos. “Só tem farmácia em Intermares, como é um pouco distante, a gente compra por aqui mesmo, nos mercadinhos”, disse uma moradora que não quis se identificar.

A atividade ilegal, de acordo com o gerente de Medicamentos da Agência Estadual de Vigilância Sanitária (Agevisa), Sérgio Brindeiro, infringe a Lei 5.591, que permite a venda de medicamentos somente em farmácias e drogarias e postos de medicamentos autorizados pelo órgão. “Se comprovada esta denúncia, nós vamos investigar qual a origem desses medicamentos, a forma de armazenagem e o tipo dos produtos vendidos. Para que uma farmácia possa adquirir medicamentos, a distribuidora verifica se a farmácia tem registro na Agevisa. Então, no caso do mercadinho está totalmente proibido”, explicou Brindeiro.

Ainda segundo o gerente da Agevisa, serão realizadas ações de repressão nos mercadinhos, que podem ser autuados.

Diálogo com a vendedora

Reportagem: Moça, a senhora tem paracetamol?
Atendente: Tenho.
Reportagem:  Meu marido está um pouco adoentado.
Com dor de cabeça e garganta inflamada. Tem algum remédio para inflamação?
Atendente: Tem. Ele deve está com essa virose que está  atacando todo mundo. Tem Amoxicilina, você quer quantos?
Reportagem: Quanto custa?
Atendente: 70 centavos cada comprimido.
Reportagem: Quero esses seis.

Percebemos que a cartela de comprimidos continha oito cápsulas de Amoxicilina tri-hidratada, de 500mg. Porém, duas cápsulas já tinham sido vendidas. A venda do medicamento foi presenciada por outro cliente que estava no local.