Cerca de 250 famílias de ciganos vivem em situação precária

Abandono, perda das tradições e condições precárias de sobrevivência são palavras próximas do povo que se estabeleceu em Sousa há mais de três décadas.

Jóias, roupas coloridas, tendas alegres, fartura e olhares obstinados a desvendar o destino alheio. Esses itens compõem o imaginário popular quando o assunto é o povo cigano. No entanto, não compõem a realidade das comunidades ciganas na cidade de Sousa, no Sertão Paraibano. Abandono, perda das tradições e condições precárias de sobrevivência são palavras mais próximas desse povo que se estabeleceu na cidade há mais de três décadas.

“Vivemos praticamente jogados, abandonados. Sem moradia, sem emprego, sem saneamento básico e sem saúde, pedimos a todos que olhem por nós e nos ajudem.” Essa foi a declaração do cigano Francisco Alfredo Maia, 34 anos, que mora em uma comunidade cigana com a mulher e três filhos. Assim como Francisco, aproximadamente 250 famílias ciganas que vivem na cidade e lamentam a omissão dos poderes públicos em relação às condições precárias de vida dos moradores.

Conhecidos pela vida andarilha, sem parada ou moradia certa, além de carregarem o estigma de espertos e trapaceiros, há 32 anos alguns povos ciganos romperam com essa tradição, por questões de sobrevivência, e resolveram se fixar na cidade, considerada hoje a maior comunidade cigana sedentarizada do país. No entanto, ao decorrer desse tempo, poucos foram os avanços que esse povo conseguiu. Mesmo morando a três quilômetros do Centro de Sousa, necessidades básicas como iluminação pública, esgotamento sanitário e condições adequadas de infraestrutura ainda não fazem parte da realidade desses locais. Falta escola. Falta unidade de saúde, estradas adequadas, equipamentos de lazer. Falta também emprego, fruto do preconceito. Falta valorização de um povo que, como cidadão, precisa e exige direitos.

As famílias moram em casas simples, de alvenaria, ou muitas vezes de taipa em três comunidades vizinhas: os ranchos ciganos Otávio Maia, Manoel Valério Correia e Pedro Maia. Alguns ciganos trabalham em empresas privadas, com atividades normais, mas os maias tradicionais ainda vivem de rezas, música, trocas, e outras atividades tradicionais da vida nômade.

Sobre as condições de infraestrutura das comunidades ciganas, o secretário de Infraestrutura de Sousa, Ananias Vieira, afirmou que as localidades têm iluminação pública e que, inclusive, foi feita uma revisão recente, há cerca de 15 dias, assim como ações de coleta regular de lixo e reposição de lâmpadas. Já o secretário de Planejamento do município, Antônio Nóbrega, afirmou que há várias ações sendo planejadas para melhorar as condições das comunidades, mas que elas esbarram em diversos fatores administrativos, a exemplo de dotação orçamentária.

A reportagem do JORNAL DA PARAÍBA tentou contato telefônico com o prefeito da cidade de Sousa, André Gadelha, mas as ligações não foram atendidas.

 O cigano e sua origem

Originários provavelmente da Índia, os ciganos chegaram ao Brasil na segunda metade do século XVI, expulsos de Portugal como degredados. É provável que os primeiros ciganos degredados de Portugal tenham chegado ao Brasil nas décadas de 1560 e 1570.

A partir da Primeira Guerra Mundial, 1914 a 1918, houve um grande número de famílias ciganas que imigraram para o Brasil, oriundos principalmente, de países do Leste Europeu. Ao chegar, eles se dedicaram ao comércio de burros, cavalos, ao artesanato de cobre, às atividades circenses, viviam em barracas e praticavam o nomadismo. Hoje, poucos ciganos ainda são nômades no Brasil.

As primeiras discussões sobre a inclusão dos ciganos aos direitos sociais só começaram no país a partir de 2002. Pela Constituição Federal de 1988, a etnia cigana foi incluída na classificação de minorias étnicas.

Atualmente, foram concretizadas algumas ações governamentais a nível nacional: a instituição do Dia Nacional do Cigano, comemorado em 24 de maio, em homenagem à sua padroeira, Santa Sara Kali; a criação do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR) e a publicação de uma cartilha de direitos da cidadania cigana.

(Fonte: Fundação Joaquim Nabuco)