Além da microcefalia, novos problemas são associados ao vírus da zika

Segundo médica, na lista aparecem a ventriculomegalia e a artrogripose. Estudos apontam que casos de microcefalia foram subnotificados.

A microcefalia, má-formação cerebral identificada nos bebês que nascem com circunferência da cabeça menor que 32 centímetros, não seria a única complicação neurológica no desenvolvimento de bebês associada ao zika vírus. De acordo com a especialista em medicina fetal Adriana Melo, casos ainda mais graves foram identificados em bebês do Estado, nos quais identificou-se cérebros totalmente atrofiados ou ainda problemas nas articulações dos bebês. Por esse motivo, especialistas passaram a caracterizar o quadro como uma síndrome congênita do vírus da zika.

Conforme Adriana Melo, que acompanha o desenvolvimento do vírus da zika em grávidas na Paraíba, foram observados em bebês casos de ventriculomegalia grave e artrogripose. No primeiro caso, crianças nascem com a circunferência da cabeça normal, contudo dentro da caixa craniana tem muito mais líquido do que massa encefálica.

“Ao contrário da microcefalia, que faz com que o crânio não cresça, na ventriculomegalia a cabeça tem o tamanho normal, mas fica cheia de líquido. Esse líquido normalmente está acumulado no cérebro e aqui tem ocupado um volume maior, então as crianças têm nascido praticamente sem tecido cerebral”, explicou a médica.

No caso da artrogripose, as crianças nascem com diversas sequelas nas articulações. “A artrogripose é a contratura de musculatura e de articulações”, acrescentou Adriana Melo. A diferença dessas duas síndromes para a microcefalia, segundo Adriana, é que, no caso da microcefalia, apesar da atrofia cerebral, as crianças nascem bem, contudo, quando apresentam esses outros problemas, elas nascem com poucas chances de sobrevivência.

“Na microcefalia os bebês nascem bem, não ficam em UTI, depois de um ou dois dias recebem alta e vão para casa mamando. Esses outros bebês com dano neurológico mais grave estão ficando todos em UTI e a grande maioria está indo a óbito”, afirmou a médica especialista em medicina fetal.

Devido a todas as complicações que estão tendo sua associação com o vírus da zika estudados, passou-se a observar que a microcefalia pode ser apenas a ponta do iceberg quando o assunto são as complicações neurológicas advindas do contágio intrauterino pelo vírus da zika. Esse é o motivo pelo qual os casos não estão sendo tratados apenas como zika congênita, segundo explicou a coordenadora da Rede de Cardiologia Pediátrica da Paraíba, Sandra Mattos.

“Chamava-se de zika congênita  porque normalmente quando o bebê nasce com microcefalia associada à zika, por exemplo, é porque aconteceu alguma coisa no útero que fez com que ele tivesse esse tipo de problema. Congênita quer dizer gerada no útero. Agora estão sendo observados casos em que a criança não tem a cabeça pequena, mas tem problemas neurológicos. Por isso passou-se a chamar síndrome congênita da zika, que é uma infecção pelo vírus da zika intrauterina que pode levar o bebê a não nascer com microcefalia, mas com a cabeça de tamanho normal e alterações no cérebro”, detalhou.

Casos de microcefalia foram subnotificados

Além de uma preocupação ainda maior com relação às complicações neurológicas oriundas de infecções pelo zika vírus, outro fator de preocupação foi levantado na Paraíba. De acordo com a coordenadora da Rede de Cardiologia Pediátrica da Paraíba, Sandra Mattos, os casos de microcefalia foram subnotificados nos últimos anos na Paraíba. Em uma amostra de 16.208 casos de bebês nascidos no Estado entre 2012 e 2015 que foram reavaliados pela Rede, 8% são supostamente microcéfalos, o que dá um total de 1.299 casos. “Muitas crianças já eram classificadas com microcefalia, mas os casos não eram notificados”, destacou.

Segundo Mattos, essa confirmação dos casos foi possível de ser feita quando se observou os dados presentes nas fichas dos bebês e os confrontou com a média de tamanho encefálico estabelecido pelo Ministério da Saúde como dentro dos padrões de casos de microcefalia (32 centímetros). “São números altos e mostram uma subnotificação, mas não somente na Paraíba. Isso não quer dizer que foram casos negligenciados, mas sim é um grupo de casos que não chamava a atenção. Era uma diferença leve, que exigia uma habilidade de fazer um diagnóstico. Porque quando um bebê nasce com uma cabeça muito pequena é visível que tenha uma microcefalia. Mas quando não é tão notório, não chama tanto a atenção”, comentou.

Os casos de microcefalia que a médica descreve como ‘casos graves’ são mais recentes e datam do final do ano passado. Apesar disso, ela destaca que outros picos foram observados no Estado, numa era que ela chama de ‘pré-zika’, motivo pelo qual muitas dúvidas surgiram e agora é hora de buscar as respostas. “Os casos graves realmente começaram a aumentar no ano passado, mas vemos outros números de picos de microcefalia, que não é algo novo. Ela existe no mundo há muito tempo e pode ser causada por outros fatores. Viroses, aspectos nutricionais extremos, doenças, síndromes genéticas. São muitas hipóteses e cada uma precisa ser investigada para que se chegue a alguma coisa mais definitiva”, finalizou.