Autoridades têm o desafio de fazer o “super feriado” da Paraíba dar certo e população precisa colaborar

Por LAERTE CERQUEIRA

Autoridades têm o desafio de fazer o "super feriado" da Paraíba dar certo e população precisa colaborar
Foto: Semob-JP/Divulgação

A Medida Provisória do governo da Paraíba antecipou três feriados, criou um, juntou com outro e temos um “super feriado” de uma semana.

Entre os cinco dias, de segunda a sexta, dois sábados e dois domingos com restrições já conhecidas, desde o decreto atual.

O que se espera, agora? Nove dias de mais isolamento, mais distanciamento, mais gente em casa, menos aglomeração. Menos gente no transporte público, comércio de rua vazio, serviços não essenciais parados.

Mas não será tão simples. Apesar da difícil tarefa de adotar medidas gerais e específicas para os vários segmentos essenciais e não essenciais em um decreto, é muito mais difícil fazê-lo acontecer na prática.

No papel, tudo fica perfeito. Mas o governo do estado e as prefeituras terão um “desafio e tanto”. Vale lembrar, inclusive, que muitas prefeituras não querem. Aí já viu, né? Sem vontade, o negócio fica pior ainda.

Experiência de São Paulo

Em São Paulo, onde já se testou a proposta, que é uma alternativa do meio para evitar fechamento total, por muito tempo, funcionou de maneira “capenga”.

Aqui, há sempre o receio da mistura de falta de consciência com falta de fiscalização, com entendimentos difusos da essencialidade das atividades, com a necessidade de fazer algum dinheiro. Para muitos, burlar o decreto é garantir o pagamento das contas do dia, da alimentação do hoje.

Perguntas 

Vou dar um exemplo: como dizer que os supermercados, mercearias e congêneres podem ficar abertos nos cinco feriados e as feiras livres não?

Como falar isso para o vendedor de fruta que roda a cidade carregando seu carrinho no braço? O supermercado vende o mesmo produto que ele.

E os bancos? Em tese, devem funcionar só os caixas eletrônicos. Mas o “feriadão” é na semana de pagamento de aposentados. Os bancos terão que, no mínimo, abastecer com frequência os caixas eletrônicos e deixar algum funcionário disponível para ajudar.

Mais perguntas

Restaurantes e bares sempre abrem nos feriados e pagam dobrado aos funcionários por isso. Nesses feriados especiais, qual deve ser a regra?

E os shoppings que também abrem nos feriados vão passar uma semana fechados? Deixá-los abertos, por outro lado, vai atrair, sem dúvida, aqueles que só precisam dar uma “passadinha”, de um passeio para relaxar, em cinco dias de folga.

E as empresas vão pagar dobrado para seus funcionários em um único mês? Farão acordos ou podem pagar na data que o feriado realmente deveria acontecer?

Outras dúvidas

Outra questão. Se as aulas de faculdades e escolas de Ensino Médio já são remotas, há necessidade de parar uma semana?

Quem vai fiscalizar a praia? E a orla? Tentadoras quando são cinco dias “livres”. “Mas será que não dá para dar aquela fugidinha?” vão dizer alguns.

Sem falar nas “baladas caseiras”, com 30, 40 pessoas. Nesse caso, questão que o poder público não consegue controlar. Aí, tem que predominar a empatia, o bom senso, o senso de coletividade e de responsabilidade.

A torcida 

A gente torce muito que dê certo e dar certo é pelo menos aumentar em dois dígitos a taxa de isolamento que tem variado entre 35% e 45%, aqui na PB.  Dar certo é tirar o sistema de saúde do “paredão”.

Muitas dessas dúvidas serão tiradas nas próximas horas, quando o texto do novo decreto estiver pronto. Outras, não.

Certo, mesmo, é que o “choque de isolamento” da semana que vem, se não for bem feito, se não tiver a colaboração da maioria, não vai servir de nada e continuaremos a ver de longe o momento do fim das principais restrições comerciais.

O cenário

Não é fácil. Mas é bom lembrar que também não está tão simples conseguir um leito de hospital público ou privado (este último, com mais “fôlego” nos últimos dias), um médico com acompanhamento personalizado.

Não dá para garantir, mesmo com a palavra das autoridades, que daqui a alguns dias vai ter medicamentos para intubação e oxigênio para todos. Afinal, a demanda, a logística e a velocidade de contaminação já não estão tão controláveis.

Melhor não arriscar.