Estratégia de candidatos em JP é desqualificar opositores

Disputa eleitoral na capital deverá ser marcada pela desconstrução da imagem dos adversários.

A maioria dos que já se assumiram como pré-candidato às eleições para a prefeitura de João Pessoa deu o tom da campanha: será marcada pela troca de acusações. No “chumbo-trocado”, tudo servirá como munição – desde as preferências pessoais até o processo judicial. Isso porque mais do que construir a própria candidatura e mostrar propostas, a estratégia preferida é desconstruir a candidatura alheia. E aí vale chamar de “pinóquio”, de “atraso”, apontar envolvimento com a “confraria”, com grupos de extermínio ou atacar, por exemplo, a simpatia do adversário pela instituição do direito ao aborto como política de saúde às mulheres.

Embora nem todas as acusações sejam convertidas ou convertíveis em ações judiciais, ou mesmo oficializadas como denúncias nos órgãos públicos, no intuito de desqualificar o adversário político vale tudo, até os ataques pessoais. A menos de oito meses das eleições, as equipes de campanha concorrentes já estudam o que deverá pesar contra Estelizabel Bezerra (PSB), Cícero Lucena (PSDB), José Maranhão (PMDB), Ítalo Kumamoto (PSC), Luciano Cartaxo (PT), Nonato Bandeira (PPS) e outros pré-candidatos de partidos menores ou ainda os que já se apresentaram, como Geraldo Amorim (PDT) e Toinho do Sopão (PTN), ou que ainda pensam em entrar na disputa, como Manoel Júnior (PMDB) e João Gonçalves (PSDB).

O historiador José Octávio de Arruda Mello, no entanto, alertou sobre essa prática, que fere a natureza da democracia. “A campanha é para discussão de propostas, de programas, ideias, teses. A campanha é para isso. Mas é inteiramente desfigurada, com acusações pessoais, sem o menor rendimento para a democracia”, analisou.

De acordo com Arruda Mello, na democracia, o importante não é a eleição, é o processo que a precede. “No entanto a coisa é inteiramente desvirtuada, o pleito perde o seu significado porque se transforma em um conjunto de acusações”, explicou.

Para José Octávio, a desistência do prefeito Luciano Agra (PSB) de concorrer à reeleição favoreceu à democracia, porque diluiu os blocos e fez com que cada partido lançasse candidato. Mas as maiores movimentações têm partido das agremiações maiores.

José Octávio acredita que só os partidos grandes vão de fato lançar candidatos, porque, na sua análise, sem condições de chegar à vitória, “os partidos pequenos atuam como meras legendas de aluguel, controladas por pessoas que usam isso para barganhar”. “Os partidos pequenos sempre jogaram nessa faixa”, disse.