Margareth quer colocar UFPB entre as melhores

A professora Margareth Formiga Diniz assume o cargo de reitora com a determinação de colocar a universidade entre as melhores do país.

A Universidade Federal da Paraíba (UFPB) terá pela primeira vez na sua história uma mulher no comando da instituição. A professora Margareth Formiga Diniz, que tem 28 anos de UFPB, assume o cargo de reitora com a determinação de colocar a universidade entre as melhores do país. Durante a campanha, ela foi acusada de contar com o apoio do governador Ricardo Coutinho (PSB). A reitora nega qualquer vinculação político- partidária e diz que o seu único partido é a Universidade Federal da Paraíba. Na última quarta-feira, ela recebeu a reportagem do JORNAL DA PARAÍBA para uma conversa sobre como será o seu reitorado

JORNAL DA PARAÍBA – A senhora já tomou pé da situação da UFPB?

ENTREVISTADA – Não. Mas eu já pedi aos pró-reitores que eu já anunciei que eles entrassem em contato com os administradores anteriores para que a gente possa fazer um diagnóstico da nossa instituição. A partir daí, eu quero nos próximos 100 dias mostrar já algumas ações nossas. Mas antes disso eu vou apresentar à comunidade universitária e à sociedade, a universidade que nós recebemos e a que nós pretendemos que ela seja.

JP – Como não foi possível a transição, a senhora pensa em pedir uma auditoria na universidade?

ENTREVISTADA – Na verdade eu preciso de um diagnóstico. O professor Eduardo Rabenhorst, o vice-reitor, junto com outros professores advogados do CCJ (Centro de Ciências Jurídicas), está dando esse encaminhamento para que a gente tenha as informações reais do que foi feito na gestão anterior, para que a partir daí a nossa responsabilidade comece.

JP – A senhora tem informações de que haveria indícios de irregularidades na gestão passada?

ENTREVISTADA – Não tenho porque não houve absolutamente nenhuma transição. A eleição foi no dia 16 de maio e o segundo turno no dia 6 de junho e, até hoje, foi só esse embate jurídico para que se fizesse justiça. Sempre digo que ganhamos no voto e na lei e por justiça, porque há de se valer a vontade da maioria da UFPB.

JP – Como a senhora avalia o processo de judicialização da eleição na UFPB?

ENTREVISTADA – A judicialização foi necessária. Eu digo que ninguém está isento do controle da legalidade. Não fosse a solicitação à Justiça, certamente hoje não estaríamos aqui. Inclusive quando da minha posse lá no Ministério da Educação, eu dizia ao ministro [Aloizio] Mercadante que certamente essa será a única vez que isso vai acontecer na instituição porque vamos prezar pela democracia e fazer valer sempre a vontade da maioria.

JP – O ministro da Educação comentou sobre a sua eleição na UFPB?

ENTREVISTADA – O ministro pediu que trabalhássemos em prol da universidade, que eu não era mais reitora de um grupo, nem de um segmento, mas de todos, e eu disse a ele que ele ia ter muito orgulho da instituição porque estamos com muita vontade de trabalhar.

JP – Na campanha, a oposição acusou a senhora de ter o apoio político do governador Ricardo Coutinho. Isso realmente aconteceu?

ENTREVISTADA – Não é verdade. Eu digo que faltou à oposição propostas e por causa disso perderam a eleição. Eu acho que o debate aqui na universidade era propositivo, de apresentar o que nós queríamos da universidade daqui para frente. Durante toda a campanha surgiram denúncias de que havia ônibus do Estado à nossa disposição, de que o governador tinha dado recurso financeiro. Não tem nenhum fundamento de verdade nisso. O apoio que eu tive foi dos três segmentos da instituição e da sociedade como um todo. Agora nós faremos, sim, e precisamos fazer parcerias não só com o Estado, mas com os governos municipais da Paraíba e com o governo federal.

JP – A senhora fala em parcerias e não em vinculações políticas com esses grupos?

ENTREVISTADA – Absolutamente, até porque eu não tenho nenhuma filiação político-partidária. Eu sempre dizia que no nosso comitê de campanha, tínhamos muitas pessoas filiadas a diversos partidos políticos, mas o compromisso que nos unia era com a UFPB. Portanto, o nosso partido é a UFPB.

JP – Quais as dificuldades que a senhora prevê que vão acontecer na sua gestão?

ENTREVISTADA – É com o programa Reuni, do qual a universidade nos últimos anos recebeu muitos recursos, cerca de R$ 300 milhões. O Reuni se encerra e nós não sabemos da perspectiva do governo federal, se vai ter um Reuni 2 ou não. Nesse contexto, a gente tem que ser muito realista, muito pé no chão, para a gente trabalhar a qualidade da UFPB. Pretendemos reposicionar a nossa universidade dentre as melhores universidades do Nordeste e do Brasil. A palavra de ordem é trabalho e trabalho, e eu estou com vontade de assim fazer para que possa dar a minha contribuição à UFPB.

JP – O seu antecessor, Rômulo Polari, declarou que deixou um relatório com todas as informações sobre a situação da UFPB. A senhora já pôs as mãos nesse relatório?

ENTREVISTADA – A mim não foi entregue nenhum relatório. Eu peguei um esboço de algumas informações do diretor do CCS (Centro de Ciências da Saúde), que na última reunião do conselho técnico-administrativo da UFPB foi distribuído com todos os diretores. Mas a mim, nem à nossa equipe pessoalmente isso não foi feito.

JP – Qual será a marca da sua administração?

ENTREVISTADA – Qualidade. Eu digo que nós quantificamos a nossa UFPB, nós passamos de 50 para mais de 100 cursos; passamos de 15 mil para mais de 40 mil estudantes. É necessário consolidar os cursos novos criados, queremos competir, não quantitativamente, mas qualitativamente. A marca do nosso reitorado é mudar para qualificar.

JP – Como a senhora pretende administrar o orçamento da UFPB?

ENTREVISTADA – As pessoas sempre falam que o orçamento da UFPB é um dos maiores do Estado, mas há de se entender que R$ 900 milhões de R$ 1 bilhão e 100 milhões recebidos são para pagamento de folha de ativos e inativos. Eu digo que além desse orçamento, é preciso buscar recursos extraorçamentários. E já lá em Brasília eu falei com os políticos do nosso Estado e todos estão dispostos a nos ajudar, ajudar a universidade.

JP – Com relação às dívidas da universidade, que informações a senhora tem?

ENTREVISTADA – Absolutamente nenhuma. Não posso dizer agora o que foi feito e o que deixou de ser feito. Espero que já na próxima semana possamos dispor desse relatório.

JP – Como é que a senhora vê a expansão da universidade versus cursos precários?

ENTREVISTADA – Em vez de fazer a discussão de expandir mais a UFPB, vamos consolidar os cursos criados. Com um corpo docente qualificado, com servidores no quantitativo que temos, aptos para a capacitação. Não é possível que essa universidade não vá transitar no eixo da qualidade. Vamos trabalhar na criação dos cursos de mestrado para os servidores técnico-administrativos, na melhoria da infraestrutura do ensino, na atenção e no apoio aos estudantes. Temos recursos extraorçamentários para isso e serão muito bem utilizados.

JP – Como a senhora vê a questão do Hospital Universitário ser gerido pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh)?

ENTREVISTADA – Essa discussão há de ser feita. Não adianta eu dar o meu posicionamento individual. Mas eu digo que agora, como reitora da UFPB, vamos abrir esse debate participativo, democrático, transparente e aí o conjunto da UFPB vai decidir se quer aderir à Ebserh ou não. Vamos trazer pessoas de outras instituições que aderiram à empresa e que não aderiram. Vamos discutir para, na sequência, decidirmos e encaminharmos ou não o termo de adesão à Ebserh. Mas uma coisa eu digo: o Hospital Universitário é um órgão suplementar da reitoria e terá todo o nosso apoio. É um hospital de fundamental importância não só para a nossa capital, para o ensino, para a pesquisa e extensão, mas também na assistência à sociedade.

JP – Pelo fato de ser mulher, a forma de gerenciar a universidade terá algum diferencial?

ENTREVISTADA – Não é uma mulher reitora, é uma reitora mulher, que com os homens e mulheres de bem da instituição, quer fazer diferente. Talvez seja esse diferencial, da sensibilidade feminina, de ouvir, de transitar e de trabalhar muito o diálogo, talvez isso possa fazer a diferença.