“Não dá para fazer milagres”, diz Toinho

Deputado não faz milagres. É o que afirma o deputado Toinho do Sopão (PEN), que na eleição de 2010 foi o mais votado para a Assembleia Legislativa. Homem simples, ele pensava que como parlamentar poderia resolver os problemas da população. “Eu aprendi que não dá para fazer milagres na Assembleia Legislativa”. Ele disse que a população deve ficar atenta para não cair na conversa dos políticos que vão aparecer nas eleições do próximo ano fazendo promessas que não terão como cumprir. Toinho do Sopão afirma que a sua vida continuou a mesma depois que entrou na política. Ele criticou os colegas de parlamento, que depois de eleitos dão as costas para o povo.

JORNAL DA PARAÍBA – O senhor foi o mais votado na eleição passada. O senhor acha que vai repetir a votação na eleição do próximo ano?

TOINHO DO SOPÃO – Eu acredito que sim, pelo trabalho que venho fazendo na Assembleia Legislativa. Eu sou um camarada que sempre esteve ao lado do povo. Em relação ao trabalho social, nós fazemos hoje a distribuição diária de dois mil copos de sopas e dois mil pães com a população, sem nenhuma ajuda dos órgãos públicos. De modo, eu estou muito satisfeito diante deste quadro e tenho certeza de que terei novamente o apoio da população para bem representá-la na Assembleia Legislativa.

JP – Antes da eleição de deputado o senhor não tinha nenhuma experiência política. O que o senhor aprendeu na atividade parlamentar?

ENTREVISTADO – Eu aprendi que não dá para fazer milagres na Assembleia Legislativa. Esse é o recado que eu mando para os candidatos que vão disputar as eleições do próximo ano, para que não mintam para a população. Nós somos legisladores, nós cobramos, nós fiscalizamos, tudo isso a gente pode fazer. Mas achar que vai fazer milagres, não vai. Eu quero continuar como deputado para ampliar o meu projeto social. No segundo mandato, as pessoas enxergam você de uma forma diferente, mais respeitosa. No primeiro mandato a gente não tem muita experiência, atropela muita coisa.

JP – A população está sempre atrás do político no sentido de pedir ajuda financeira. O senhor é muito procurado?

TOINHO DO SOPÃO – Eu creio que sou um dos mais procurados, porque ando na rua só. Eu não estou dizendo isso para desmerecer algum colega parlamentar. Mas eu ando nas ruas só, sem nenhuma segurança, sem motorista. Vivo de maneira simples e por estar nos quatro sopões todos os dias, o povo me acompanha nas ruas. Eu cataloguei 110 tipos de pedidos. Só na área de saúde são 36 tipos de pedidos, desde cadeira de rodas, medicamentos, internação, laqueadura, enfim, há uma infinidade de pedidos da população. Na área de construção são 22 pedidos. O cidadão pede porque ele não tem condição, então sai pedindo a quem tem, ao deputado que ele votou, ao vereador ou até ao prefeito.

JP – O salário que um deputado recebe é o suficiente para a sua sobrevivência?

TOINHO DO SOPÃO – É mais do que suficiente. No meu caso, se fosse de R$ 100 mil, o salário ainda seria pouco, porque eu gastaria quase tudo dando de comida ao povo. A gente pode ganhar R$ 10 mil, R$ 50 mil, R$ 100 mil, R$ 200 mil, mas quanto mais você ajuda, mais as pessoas vão passando uma para as outras. Eu não faço questão nenhuma de ajudar. Enquanto a gente puder ajudar, a gente ajuda. Agora, eu não tenho como socorrer todas as pessoas que precisam de medicamento, de uma cadeira de rodas, porque o sopão meu é a prioridade. Eu alimento duas mil pessoas por dia, sem ajuda financeira de ninguém, apenas com a estrutura do meu gabinete e do meu salário. As pessoas dizem que um deputado ganha R$ 22 mil, mas só o governo federal come R$ 6 mil, tem ainda 5% que são descontados para os partidos. No meu caso, como tem pensão e tudo mais, arredondando tudo não chega a R$ 12 mil.

JP – O senhor na Assembleia é governo ou oposição? Em algumas matérias polêmicas, como a permuta do terreno da Acadepol, a terceirização do Hospital de Trauma, o senhor votou a favor do governo. Como o senhor se define?

TOINHO DO SOPÃO – Eu sou mais oposição, porque o governo tem colocado muitas matérias contra a população e nessas matérias que são contra o professor, os militares, o servidor público, eu voto contra. Eu não voto em matérias que venham prejudicar o trabalhador, de forma alguma.

JP – O senhor ampliou as suas bases para os embates do próximo ano? Quais os apoios que o senhor vai receber?

TOINHO DO SOPÃO – Eu sou o homem mais feliz do mundo como político. Eu não tenho um vereador, eu não tenho liderança comunitária, eu não tenho prefeito, porque todos eles, para gente ter uma parceria é necessário ajudá-los, porque eles também são procurados pelo povo. Então, eu abdico de muita coisa, do luxo, da ostentação, de outras despesas, para que não falte comida para as pessoas. E é com esse povo que eu conto para ganhar as eleições.

JP – O senhor diz que anda no meio do povo, e como o senhor vê a atuação dos seus colegas? O senhor acha que eles dão as costas para o povo?

TOINHO DO SOPÃO – Eu sou suspeito para falar dos meus colegas, mas quem diz isso é a própria população. Eu ando na rua e ouço as pessoas dizerem que eu sou o único que não foge do povo, que é assim que se espera de um parlamentar, que ele esteja no meio da população para ouvir os seus reclamos. A população espera que a gente cobre do governo. Eles colocaram a gente lá para cobrar do governo e não para ser omisso com as muitas coisas que o governo vem praticando. A população quer que a gente defenda o governo na hora que é para defender e de criticar quando estiver errado. Mas a gente só vê deputado defendendo e outros sendo omissos, especialmente no caso da saúde.

JP – O senhor chegou à Assembleia Legislativa graças ao programa de distribuição de sopa com a população. O programa vai ser mantido no período eleitoral?

TOINHO DO SOPÃO – A legislação eleitoral não permite que eu próprio faça a distribuição, mas o projeto não pode parar e nem vai parar, como não parou na eleição passada. Eu era candidato a deputado estadual, minha equipe estava pedindo ajuda e o que eles arrecadaram eu não estava presente. Diminuiu muito a arrecadação quando eu não estava. Diminuiu 50% da arrecadação quando eu me ausentei para ser candidato. Muita gente diz que votou comigo e que vai votar de novo por causa do meu trabalho. Fui eleito sim pelo trabalho social e não por causa do voto de protesto. Eu cheguei ali com trabalho prestado, coisa que muitos postulantes nas próximas eleições vão só prometer e fazer que é bom nada. Eu estou fazendo a minha parte. Se encontrar um deputado no Nordeste que faça o que o deputado Toinho do Sopão faz, eu gostaria muito de conhecê-lo.

JP – Qual a avaliação que o senhor faz da gestão do governador Ricardo Coutinho?

TOINHO DO SOPÃO – O governador Ricardo Coutinho acha que só ele que pode tudo. Ninguém pode governar só, como ninguém consegue legislar só. Tem que ouvir a sua assessoria. Se há um apelo da população na área da educação, da saúde, da segurança, cabe ao governo sentar e dialogar com a sociedade. O problema do governo é que ele não escuta ninguém. É tanto que ele perdeu a eleição em João Pessoa, porque não quis dar a Agra (o ex-prefeito Luciano Agra) o direito de sair candidato. Ele acha que é o rei dos reis. O governador tem que entender que foi o povo que colocou ele lá, ou melhor, foi o senador Cássio Cunha Lima. Sem o apoio de Cássio, ele não passava da ponte Sanhauá. Quem também deu a vitória a Ricardo Coutinho foi a Polícia Militar.

JP – Existe amizade na política ou existe muita traição?

TOINHO DO SOPÃO – Não é nem a questão da traição. O que existe na política é o interesse próprio, é aquele jogo do poder. Se eu estou aqui eu estou bem junto com ele, eu estou debaixo da sombra. São muitos os políticos que só querem estar embaixo da sombra. Ele não quer ficar debaixo do sol, só quer ficar debaixo da sombra. Por mim tanto faz, porque eu só devo satisfação ao eleitor, que me colocou na Assembleia Legislativa. A única coisa que eu peço a Deus é saúde. Se não tiver o mandato, não tem problema, eu vou ganhar dinheiro como todo mundo faz, monto uma pastelaria e vou ganhar dinheiro vendendo lanche nas ruas. Qual é o problema nisso?

JP – O senhor conseguiu ficar rico na política?

TOINHO DO SOPÃO – Nem pretendo ser rico, nem quero. Com a violência que está aí a pessoa rica passa a atrair a atenção dos bandidos. Tem uma frase de Dalai Lama que diz que os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. É por isso que eu não quero isso para mim. Eu quero ter o suficiente para que eu possa manter a minha vida numa boa, ter uma boa alimentação, poder pagar meus compromissos do dia a dia. Eu quero apenas fazer o meu trabalho e poder ajudar os que mais precisam. É esse o meu objetivo.