Prefeito de Santa Rita denuncia tentativa de extorsão por parte de vereadores

Netinho disse que vereadores querem dinheiro para cessar processo que corre na Câmara Municipal.

Em vias de perder o mandato mais uma vez, o prefeito de Santa Rita, Netinho de Várzea Nova (PR), denunciou nesta quinta-feira (28) que vereadores estariam tentando lhe extorquir para evitar a cassação. O gestor disse que a iniciativa do legislativo tem origem no fato de ele ter se posicionado contra a um possível projeto de reajuste salarial para os membros da Câmara Municipal e para o futuro prefeito.

“Grande parte dos vereadores é candidata. Na reta final de campanha, eles precisam de dinheiro para se reeleger”, afirmou Netinho. “A prática da extorsão não é novidade para ninguém na política de Santa Rita. Recebi ‘acenos’ de alguns vereadores, mas não vou abrir para ninguém”, completou o prefeito.

Perguntando sobre quem seriam os responsáveis pelos ‘acenos’, o prefeito não quis entregar nomes. “Eu não vou fazer da prefeitura um balcão de negócios”, declarou Netinho, garantindo que não existe nenhuma possibilidade de ceder aos vereadores.

O presidente da Câmara Municipal de Santa Rita, Anésio Miranda (PSB), rebateu Netinho e cobrou apresentação de nomes por parte do prefeito. “Ele tem que dar nomes, sob pena de ter sua denúncia desmoralizada. No dia que eu fizer uma denúncia eu provo e dou nomes”, declarou. Para o parlamentar, o prefeito está querendo amedrontar o Legislativo. “Quando foi contra Reginaldo [Pereira], que beneficiava ele, o prefeito não disse nada", acrescentou.

Anésio ainda insinuou que se existir extorsão, ela deve estar entre os vereadores da própria base do prefeito. “Alguns vereadores do blocos estavam revoltados com ele e depois deram para trás”, destacou.

Na terça-feira (27), a Câmara de Santa Rita instaurou uma Comissão Processante que terá 180 dias para investigar Netinho e apresentar um parecer pelo afastamento ou não do gestor. A denúncia está dividida em três eixos: atraso nos salários dos servidores sem que tenha havido descontinuidade na arrecadação e nos repasses federais; o não repasse de contribuições previdenciárias apesar do desconto em folha, e, por último, o desconto dos empréstimos consignados dos servidores sem o devido repasse do dinheiro para a Caixa Econômica Federal.

Apesar dos pontos listados pela Câmara, Netinho acredita que o processo é, na verdade, motivado por sua posição contra o aumento salarial para vereadores e prefeito. Informações divulgadas pelo jornalista Laerte Cerqueira dão conta que os parlamentares sairiam dos atuais R$ 10,2 mil para R$15 mil, e o salário do chefe do executivo iria para R$ 28 mil.

“Sou contra esse aumento, deveriam receber menos. Deveria haver um congelamento de salários, é um absurdo que na situação que a cidade se encontra, se discuta reajuste salarial. Sei que vou pagar por isso , se o preço tiver de ser a cassação do mandato, que seja”, frisou Netinho, dando a entender que sua situação é insustentável.

Anésio Miranda garantiu que o projeto de reajuste salarial é uma “ilação do prefeito, para desviar a atenção das falcatruas da sua gestão”. O presidente da Câmara garantiu que o processo que pode resultar na cassação tem relação única e exclusivamente com irregularidades administrativas. Ele informou também que a Comissão Processante não deve gastar os 180 dias, pois se fizesse isso apresentaria relatório após o término do mandato de Netinho.

Vai e vem na prefeitura

Caso a cassação de Netinho seja de fato confirmada, Santa Rita vai ganhar o terceiro prefeito em menos de quatro anos. Quem deve assumir é o próprio presidente da Câmara Anésio Miranda.

A novela na administração municipal começou em março de 2014, quando a Câmara retirou o então prefeito Reginaldo Pereira (PRP) do cargo por 90 dias para análise dos processos, dando posse a Netinho. Entre março e abril ele conseguiu algumas decisões judiciais e reassumiu o posto, até ser cassado em definitivo. No entanto, em dezembro dos mesmo ano, os vereadores de Santa Rita se ‘arrependeram’ e surpreendentemente anularam as quatro cassações do prefeito, que reassumiu.

A briga continuou na Justiça e Netinho conseguiu a anulação da decisão da Câmara que recolocou Reginaldo no poder. Dessa forma, em setembro de 2015 acabou retomando a prefeitura.