William Bonner deu o recado. Estamos esgrimando com loucos que ocupam cargos públicos, mas não vamos parar

William Bonner deu o recado. Estamos esgrimando com loucos que ocupam cargos públicos, mas não vamos parar

Tenho, no Face, um amigo chamado Agnaldo Brito.

Não há fotos dele, mas acredito tratar-se do jornalista Agnaldo Almeida, que tem o Brito entre o nome e o sobrenome que usa profissionalmente.

Agnaldo Almeida é um amigo que fiz há uns 45 anos. Foi meu editor em A União e o tenho como um dos meus mestres no jornalismo.

Num post meu sobre a morte do ex-deputado Alencar Furtado, o Brito que imagino ser o Almeida fez o seguinte comentário:

“Pela intimidade que você tem com a arte, acho que é um artista. E pelo que vejo agora é também um militante. Minha opinião: sempre acho o artista melhor do que o militante”.   

Foi um comentário sutil do professor que reprova o jornalismo de opinião feito agora pelo aluno.

Respondo dizendo que o cientista político Yascha Mounk robusteceu, em mim, a ideia de que a recente ascensão do populismo de ultradireita torna indispensável algum tipo de reação dos que não desejam um mundo dominado pela ignorância e pela perversidade desses que agora estão no poder.

“A batalha pela sobrevivência da democracia brasileira ainda não foi perdida. Você ainda tem nas mãos a capacidade de brigar por seus valores. Um excelente começo é protestar sempre que o presidente tentar expandir seu poder” – escreveu Mounk em O povo contra a democracia.

Por que não valeria para nós, jornalistas, essa “militância” sugerida por Yascha Mounk? Sobretudo os que fazem jornalismo de opinião? O “militante” que meu professor reprova nunca foi tão imprescindível como é agora.

Até o Jornal Nacional, que nunca foi opinativo, mudou. Na edição desta quinta-feira (14), William Bonner, que já foi chamado de canalha pelo presidente Bolsonaro, deu o tom ao dizer, num desabafo, que estamos esgrimando com loucos. Sim. Os loucos anônimos que usam as redes sociais e os loucos que ocupam cargos públicos.

A democracia brasileira está sob ataque, está sendo desmontada, e é necessário que isso seja dito.

O amor pela arte permanece, nos reabastece, mas isso não é tudo.