BBB 2023 debate gagueira e músico fala sobre preconceito

Nascido no Rio de Janeiro e radicado em João Pessoa, o rapper Marcelo Fontes comentou sobre a gagueira. Fonoaudióloga fala sobre o assunto.

Rapper da Paraíba fala sobre gagueira após debate no BBB 23 – Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

Mesmo a gagueira sendo tão comum entre a população, muitas pessoas ainda não entendem o problema e acabam sendo preconceituosas com quem apresenta a condição. Recentemente, o músico da Paraíba Marcelo Fontes, declarou seu apoio a Fred Nicácio, participante do BBB 23, que tem gagueira, assim como ele próprio, e ainda falou sobre a importância de debater o tema no Bate-Papo BBB. 

A gagueira ainda é um tema considerado tabu mesmo nos dias atuais. É um distúrbio relativamente comum em todo o mundo e também em território nacional. Segundo dados da Associação Brasileira de Gagueira, cerca de 5% da população mundial sofre com o problema, já no Brasil pelo menos 10 milhões de pessoas convivem com o distúrbio. 

O JORNAL DA PARAÍBA conversou com uma especialista fonoaudióloga para saber como o distúrbio funciona e as formas de tratamento que o avanço da ciência trouxe para os pacientes. 

Músico com gagueira

Na última terça-feira (28), Marcelo Fontes apareceu em um vídeo no programa ‘Bate-Papo BBB’, no Gshow, em que ele demonstrou apoio a Fred Nicácio, participante do reality show que assim como ele tem o distúrbio.

“Fico muito feliz de ver Fred Nicácio trazendo essa discussão pra milhões de pessoas. Sempre imaginei como seria uma pessoa que gagueja participasse de um programa como o BBB. Ver ele enfrentando isso com determinação, coragem e vontade de ganhar, me faz acreditar que eu também posso”, disse o rapper em vídeo postado no Instagram pessoal. 

Com 26 anos, trabalhando na área da música como rapper e produtor, Marcelo é natural da cidade de Resende no estado do Rio de Janeiro e radicado desde cedo em João Pessoa. Ele contou à reportagem do JORNAL DA PARAÍBA sobre a luta particular contra o preconceito com a gagueira. 

“Eu lido com a gagueira desde muito novo, desde criança. Eu sou privilegiado, sou músico, eu já fiz teatro, então essas coisas me ajudaram muito no desenvolvimento melhor da minha fluência quando estou fazendo ações específicas, como gravar um vídeo. Por exemplo, quando estou sozinho, quando não tem ninguém me vendo, eu posso errar e parar o vídeo quantas vezes eu quiser, então quando estou fazendo isso minha fluência tende a ser muito boa, porque eu não tenho uma pressão”, relata. 

“Não é fácil, mas é importante falar sobre isso justamente para a sociedade entender quem a gente é e entender que a gente fala do nosso jeito, a gente se comunica, sabe do que está falando. Muitas vezes as pessoas acham que a gente não sabe do que estamos falando ou que estamos nervosos ou que não estamos seguros, mas nem sempre é isso, quase sempre estamos falando da nossa forma”, conta. 

Profissionalmente, Marcelo disse que também já passou por preconceitos, não somente na área da música, que por ter a voz como um dos principais chamarizes tem um tabu ainda maior. Já sofreu preconceito também na publicidade, que é outro campo em que ele trabalha. 

“Tende a ser um ambiente meio hostil, por vários fatores. Eu já tive algumas experiências não muito agradáveis, porque comecei a trabalhar em agência de publicidade na pandemia, então tem muita reunião, você sempre precisa defender as suas ideias, e sempre aconteceu das pessoas acharem que eu estava muito nervoso, de não valorizar o que eu estava falando, não me dar o devido respeito, e é difícil lidar com isso”, ressalta. 

A gagueira

A fonoaudióloga Cecília Cavalcanti explicou que a gagueira é um distúrbio na fala de origem neurobiológica que acarreta em alterações no tempo de execução dos sons, sílabas, palavras e frases durante uma conversa, informação ou pedido.

Segundo a especialista, o distúrbio é classificado conforme os movimentos que as pessoas fazem no ato de falar, divididas entre simples e associadas. No caso simples, quem tem gagueira não tem os movimentos físicos que são responsáveis pelo distúrbio, já na associada isso passa justamente por esses movimentos. 

Cecília Cavalcanti explica também que a gagueira pode aparecer a depender da situação, quando é classificada como circunstancial e ainda quando não está associada com algum contexto, e é denominada de contínua. O distúrbio também pode ou não estar ligado a emoções. 

Ela esclarece também que pacientes com gagueira tendem a não se tratarem justamente por conta do preconceito existente na sociedade e que isso atrapalha ainda mais a vida deles. 

“Acontece de as próprias crianças não esperarem o coleguinha gago concluir a fala. Porque vivemos em uma sociedade imediatista  tanto para o indivíduo que tem gagueira quanto para o terapeuta, inclusive. Muitas vezes nos procuram na intenção de resolvermos a gagueira em 4, 5 sessões, quando sabemos que qualquer intervenção é única e individual, de acordo com a necessidade do paciente. A própria ansiedade pela fala adequada atrapalha o tratamento”, ressalta Cecília Cavalcanti. 

Além disso, a fonoaudióloga concluiu que também é preciso autoconhecimento dos pacientes para conviver com o distúrbio e procurar formas de vencer preconceitos. 

“O conhecimento é a melhor maneira de fazer com que as pessoas saibam, respeitem e conversem sobre o assunto. A conscientização nas escolas e lugares frequentados por crianças é fundamental para mudarmos as cabeças dos adultos atuais e do futuro. E sempre ter em mente que as pessoas são diferentes, pensam diferentes e porque não, também falam diferente”, disse.