Hospital de Trauma de Campina Grande inaugura ambulatório para travestis e transexuais

Psiquiatria, endocrinologia, urologia, ginecologia, psicologia, enfermagem e assistenticência social estão entre os serviços ofertados.

Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais da Paraíba (Ambulatório TT/PB) em Campina Grande. Foto: Secom-PB

O Hospital de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes em Campina Grande inaugura, nesta sexta-feira (11), o Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais da Paraíba (Ambulatório TT/PB). O espaço está instalado no anexo da unidade de saúde. Esse será o segundo ambulatório do estado, o primeiro funciona no Hospital Clementino Fraga, em João Pessoa.

Na última terça-feira (8) foi realizada a primeira capacitação com a equipe de profissionais do ambulatório TT, juntamente com os coordenadores da linha de frente (acolhimento, recepção e segurança) e todo o corpo diretor (direção, núcleo jurídico e RH).

O atendimento no ambulatório TT vai contar com equipe multiprofissional composta por psiquiatra, endocrinologista, urologista, ginecologista, enfermeiro, psicólogo, assistente social e gerente administrativo.
A porta de entrada para o atendimento será o Centro de Referência Luciano Bezerra, que funciona na Rua Dom Pedro I, 558, no bairro do São José em Campina Grande. O acolhimento será feito por profissional da equipe interdisciplinar, que irá desenvolver um plano terapêutico individual, conforme as necessidades de atenção de cada indivíduo.

Valorização e respeito à Diversidade Humana

Para a diretora geral do Hospital de Trauma de Campina Grande, Ingrid Ramalho, esse Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais da Paraíba é reflexo do intuito de abranger todas as necessidades existentes no âmbito da saúde do paraibano. “A inauguração do ambulatório TT significa um momento extremamente importante, uma vez que nos faz refletir sobre a valorização e respeito à Diversidade Humana”, diz a diretora.

Esse ambulatório atende a um pleito antigo da sociedade civil, no processo de interiorização da política pública LGBT, declara a secretária da Mulher e da Diversidade Humana da Paraíba, Lídia Moura. “Nós conseguimos implementar este valioso instrumento de dignidade e valorização da vida das mulheres trans, travestis e homens trans no seu processo transexualizador. É uma grande conquista para a população LGBTQIAP+ da Paraíba que é usuária do nosso Centro de Referência Luciano Bezerra, em Campina Grande, que de agora em diante é a porta de entrada para o novo ambulatório TT”, diz a secretária.

“Não é de agora que a gente luta por esse ambulatório”

A cabelereira Yohanna Gomes, de Campina Grande, realiza tratamento hormonal há quase três anos. Ela explica que não é de agora que a população trans de Campina Grande luta por esse ambulatório.

Hospital de Trauma de Campina Grande inaugura ambulatório para travestis e transexuais
Yohanna Gomes, de Campina Grande

O nome do ambulatório é Marcela Prado, como homenagem a uma das travestis que mais lutou para trazer esse serviço para aqui para Campina Grande, pois em toda Paraíba, só tinha em João Pessoa até então, diz Yohanna Gomes.

Yohanna conta que quando precisa ser acompanhada por médicos, psicólogos, odontologistas ou para fazer seu tratamento hormonal ela precisava se deslocar até João Pessoa. “Saia da minha cidade, Campina Grande, para a capital. Então fiquei muito grata, muito feliz por essa notícia maravilhosa”.

Nós buscamos cada dia mais e mais os nossos direitos. Precisamos desse ambulatório para sermos acompanhadas pelos médicos e por toda equipe que dá nos apoio.”

Apenas maiores de idade vão ter acesso

O governo da Paraíba divulgou, através do site oficial, que para garantir o acesso ao processo transexualizador, o(a) usuário(a) deve ter idade mínima de 18 anos. Porém, a idade mínima para terapia hormonal de transição de gênero caiu para 16 anos. Essa resolução foi aprovada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e publicada pelo Diário Oficial da União em 9 de janeiro de 2020.

O JORNAL DA PARAÍBA questionou a Secretaria de Estado da Saúde (SES) sobre o por que menores de idade, com autorização dos pais ou responsáveis, não podem ter acesso ao serviço.

Segundo a pasta, na portaria que rege o processo transexualizador do SUS, não se permite menores de idade. Existe uma resolução do Conselho Regional de Medicina (CRM) que autoriza fazer o bloqueio hormonal aos 16 para iniciar o processo, mas não está regulamentado no SUS.

Apesar de médicos executarem o procedimento de forma particular, o serviço público deve seguir o regimento do SUS, de acordo com a SES.