COTIDIANO
Jobim rebate Ipea e diz que estudo sobre aeroportos é ‘desqualificado’
Instituto apresentou relatório sobre possível colapso em terminais. Ministro da Defesa disse que estudo defende o interesse do setor privado.
Publicado em 02/06/2010 às 15:01
Do G1
Dois dias após o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) ter divulgado estudo no qual apontava risco de colapso em dez aeroportos brasileiros, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, apresentou nesta quarta-feira (2) uma análise desqualificando as informações apresentadas pelo órgão de pesquisa ligado à Presidência da República.
Com duras críticas ao trabalho assinado por pesquisadores do órgão, Jobim afirmou que as constatações do estudo “eram falsas”, disse que o Ipea “mentia” ao informar dados sobre a capacidade de operação de determinados aeroportos e concluiu: “O trabalho do Ipea é totalmente desqualificado".
As declarações do ministro ocorreram durante a divulgação do 10º balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), realizado pela Casa Civil, nesta quarta-feira, no Palácio do Itamaraty. Mostrando-se bastante contrariado com as informações apresentadas na pesquisa do Ipea, o ministro da Defesa apresentou uma série de leis, portarias e decisões judiciais que “desqualificariam” o argumento dos pesquisadores de que a carga tributária sobre o setor aéreo seria um impeditivo ao crescimento. O G1 entrou em contato com o Ipea e aguarda retorno.
Jobim também rebateu números relacionados à gestão do setor e aos investimentos já feitos pela Infraero. Ao falar do ponto principal do estudo, a relação de aeroportos supostamente sobrecarregados, que estariam operando no limite, o ministro foi duro. Ele afirmou que o Ipea, por exemplo, informou no estudo que a capacidade por hora no aeroporto de Brasília é de 36 pousos e decolagens. "E na verdade é de 45", disse. No caso de Manaus (AM), Jobim argumentou que o aeroporto pode realizar 12 operações por hora e não nove, como consta no relatório do Ipea. "Os dados são absolutamente errados", afirmou.
O ministro negou, mais uma vez, que o governo pretenda privatizar os aeroportos neste momento ou capitalizar a Infraero. Ele reiterou que antes é preciso reestruturar a empresa, já que hoje ela não tem patrimônio. Jobim acusou o estudo do Ipea de estar direcionado aos interesses das empresas e do setor privado e não do interesse público. Em tom irônico, Jobim disse “achar muito interessante” que o estudo do Ipea aconselhe o governo a entregar à iniciativa privada os aeroportos rentáveis e deixar para a Infraero, a gestora dos aeroportos no país, os terminais deficitários. “Essa ideia do Ipea acaba inclusive com o princípio do subsídio cruzado.
Quando um aeroporto que dá lucro destina parte do dinheiro para custear o que não dá lucro”, afirmou.
Estudo
Na segunda-feira (31), o Ipea divulgou estudo no qual revelou que pelo menos oito das 12 cidades que irão sediar os jogos da Copa de 2014 estariam com seus aeroportos operando no limite da capacidade máxima e, em alguns casos, “beirando o colapso operacional” devido à demanda não atendida. Segundo o Ipea, há risco de um apagão logístico no setor aéreo caso não haja investimentos.
Para ilustrar o cenário, o levantamento do Ipea mostrou uma tabela com a capacidade de cada aeroporto atender a pedidos de pouso e decolagem nos horários de pico. O caso mais grave está no aeroporto de Manaus (AM), que tem capacidade de atender a nove pedidos de pouso ou decolagem nos horários de pico, mas recebe 17 pedidos de pouso e decolagem, praticamente o dobro do limite.
“Situações preocupantes são aquelas em que o nível de utilização das instalações suplanta 80% de sua capacidade. Os casos críticos, quando o nível de utilização das instalações supera a capacidade instalada ocorre em deterioração do nível de serviço. Nesses casos, dependendo do percentual alcançado está-se beirando o colapso operacional”, diz o estudo do Ipea.
O Aeroporto de Congonhas e de Guarulhos, ambos em São Paulo, onde uma das semi-finais do mundial deve ocorrer, também operam com níveis bastante superiores ao limite máximo, sustenta o estudo. Congonhas tem capacidade de atender a 24 operações de pouso ou decolagem simultâneas, mas registra demanda de 34 operações. Guarulhos tem limite de 53 operações e funciona com fluxo de 65 pedidos.
O estudo do Ipea não apresentou a situação dos aeroportos em Cuiabá (MT), Salvador (BA), Fortaleza (CE) e Recife (PE), que também irão abrigar os jogos da Copa. Mas, segundo o Ipea, a situação também é preocupante nesses aeroportos. De acordo com o instituto, o terminal de cargas de Manaus ficou absolutamente congestionado com a importação de insumos e peças para montagem de televisores e as empresas tiveram que readequar a produção.
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