CULTURA
'Miami com Copacabana': o novo hibridismo musical
Tem sertanejo com hardcore, viola capira com clássicos do rock e heavy metal com aspectos de sinfonia. Será que combina?
Publicado em 13/02/2011 às 11:49
De Marina Magalhães (Especial para o Jornal da Paraíba)
É o samba rock, meu irmão, como diria Jackson do Pandeiro. E vale lembrar que tudo começou nas bandas de cá, com o ‘rei do ritmo’ misturando na mesma água de chocalho samba, coco, baião, xote, marchinhas e frevo com o xaxado da Paraíba.
Depois dele, ninguém parou mais, a exemplo do samba rock de Jorge Ben (Jor), em 1970; do funk soul de Tim Maia, da poesia psicodélica dos Mutantes, Secos e Molhados e do rock rural de Sá, Rodrix e Guarabira, na década seguinte; do rock caboclo do Legião Urbana, nos anos 1980, ou do maracatu atômico do mangue beat no final do século passado. Mas é em 2011 que chegam à indústria fonográfica as misturas mais ousadas da nova geração. Tem sertanejo com hardcore, viola capira com clássicos do rock e heavy metal com aspectos de sinfonia. Será que combina?
Quem propõe essa fusão rítmica admite que a mistura começa por experimentação, mas quando a brincadeira fica séria é sinal de que pode dar certo sim. Como é o caso da Hardneja Sertacore, banda gaúcha que experimentava suas versões pesadas dos clássicos sertanejos nas saídas das baladas, pelas lanchonetes dos bairros de Porto Alegre (RS). Não demorou muito para os amigos e conhecidos entrarem na brincadeira e pedirem suas versões.
“Trabalhava em um estúdio e estava produzindo uma banda de hardcore melódidco em que o Careca (hoje integrante da Hardneja) era baterista. Um dia comentei que o som parecia com a música sertaneja, porque sempre tinha uma voz principal e um vocal cantando junto. Todo mundo caiu na risada, mas quando cheguei em casa experimentei algumas versões e mandei para os amigos”, lembra Nigéria, vocalista e guitarrista do grupo.
Alguns shows e versões depois, os dois integrantes, juntos com Lucas (baixo) e Gabriel Rosa (guitarrista) se mudaram para São Paulo e logo foram convidados a se apresentar no programa Altas Horas (Rede Globo), em menos de um mês em terras paulistas.
Para os músicos do projeto Moda de Rock, Ricardo Vignini e Zé Helder, a mistura de clássicos do rock internacional com modinhas de viola popular foi uma estratégia para aproximar seus alunos do universo da viola. “É difícil fazer com que os mestres da viola caiam no gosto da garotada urbana logo de cara. Então resolvemos mostrar coisas que eles já conhecem para depois partir para a cultura tradicional”, explica o paulista Vignini, admitindo um quê de diversão desde o começo. “A primeira música que a gente teve acesso foi o rock. Crescemos vivendo a história do Metallica, depois nos apaixonamos pela viola e quisemos fazer essa ponte, mostrando que a viola é um instrumento potente para vários estilos”.
No exterior, quem faz um trabalho nessa linha são os gringos do Apocalyptica, banda filandesa formada por três violoncelistas e, desde 2005, por um baterista. Eles definem seu estilo como ‘simphonic metal’, uma espécie de ‘heavy metal do Senhor’, com aspectos de sinfonia metálica.
Tudo começou quando quatro violoncelistas Eicca Toppinen, Paavo Lötjönen, Max Lilja e Antero Manninen se conheceram na Academia Sibelius, em Helsinque, em 1993. Na época, reuniram-se pela primeira vez para fazer covers do Metallica no Teatro Heavy Metal Club, mas logo estenderam seus arranjos em violoncelos para versões das bandas Faith No More, Sepultura e Pantera. Hoje, em sua terceira formação - com a saída de Max Lilja e Antero Mannien (que ainda toca como convidado), e a chegada de Toryn Greeen - somam 18 anos de trajetória, com sete álbuns lançados.
Seja como sucesso de público, a exemplo do Hardneja Sertacore, ou de crítica, como as bandas Moda de Rock e Apocalyptica, os novos grupos estão aí para surpreender quem pensava que tudo o que podia ser misturado no mundo da música já foi feito cinquenta anos atrás. São bandas que se destacam em tempos modernos em que tudo se mistura e se molda ao gosto de cada um.
E se você, leitor, também quiser misturar, por conta própria, ‘Miami com Copacabana’, a internet oferece ferramentas para a música híbrida (bootlegs, hybrid tunes ou mash-up), onde é possível combinar um vocal de uma canção com a melodia de outra. Com todo respeito à memória da diva, já pensou alguém com o vozeirão de Mercedes Sosa cantando o ‘Roda vira’ dos Mamonas Assassinas? No mínimo pode ser divertido.
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