A sobriedade humorística

Nesta quarta-feira, o carioca Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe completa 80 anos de vida. Para quem não identifica o nome de batismo à pessoa, pode ligar os pontos pelo seu humor e traço – famosos nos anos 1960 nas páginas de O Pasquim – quando assinava como 'Jaguar'.

“Ele é o mais ácido de todos os chargistas”, define o paraibano William Medeiros, autor da caricatura do aniversariante, que ilustra a página. “Jaguar não tem 'papas na pena', usa o sarcasmo por natureza para soltar o verbo.”

Para William a ligação com o cartunista carioca é especial pelo seu debute nos anos 1980. “Entrei de verdade no mundo do cartum e da charge em 1986, quando O Pasquim publicou pela primeira vez minhas caricaturas, com um texto de apresentação do próprio Jaguar", diz. O ilustrador paraibano lembra que sempre mandava desenhos com a esperança de serem publicados no disputado espaço da revista. Levou um choque quando folheou a edição e tinha não só um desenho, mas uma página só com os trabalhos dele. “Talvez inspirado pelas caixas de cerveja que faturou em uma das rodadas, nos mandou um pacotão de caricaturas”, brincava o texto assinado pelo cofundador da publicação. “O fator surpresa: não satisfeito em ter apenas 19 anos, o nosso caricaturista vive em Campina Grande, lá na Paraíba”, finalizava o carioca.

“Ele tem um traço rústico como o Henfil (1944-1988), mas a pegada inteligente da ideia é mais forte que o desenho”, comenta William Medeiros sobre seu 'padrinho'.

“Quando comecei a estudar humor, o trabalho do Jaguar foi uma parada obrigatória”, aponta Raphael Fernandes, editor da revista humorística MAD. “Poucos cartunistas brasileiros tem bala na agulha para dizer que foram fundadores de um veículo como O Pasquim e devolveram uma medalha após descobrir que ela já havia sido dada para um político corrupto.”

Fernandes frisa também que Jaguar não é nenhum santo. “Suas bebedeiras dionisíacas são contadas nos corredores dos salões de humor como verdadeiras lendas urbanas”, confirmado no título de uma de suas antologias, Confesso Que Bebi - Memórias de um amnésico alcoólico (2001).

Certa vez questionado pelo jornalista Sebastião Nery sobre por que não largava o copo, ouviu a resposta: "Se largar o copo, perco e equilíbrio e caio!"

Outra característica de Jaguar é sua aversão a entrevistas. Procurado pela reportagem do JORNAL DA PARAÍBA, fomos informados que ele estaria incomunicável por uma semana.

Geralmente o cartunista sobe a serra do Rio de Janeiro, onde não tem nenhum telefone ou contato com o mundo.