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CULTURA

Morre 'sitar hero' brasileiro

Introdutor da cítara no Brasil, músico Alberto Marsicano morreu aos 61 anos neste domingo (19) em decorrência de um ataque de asma.

Publicado em 20/08/2013 às 6:00 | Atualizado em 14/04/2023 às 16:10

Foi-se o mestre, vai-se o discípulo. O músico Alberto Marsicano, pupilo do maestro indiano Ravi Shankar (1990-2012), foi enterrado ontem pela manhã em São Paulo. Introdutor da cítara no Brasil, Marsicano morreu neste domingo após ser internado no Hospital São Luiz (no bairro do Morumbi) em decorrência de um forte ataque de asma.

Aos 61 anos, o músico paulistano era também escritor, filósofo, tradutor e professor. Adepto do Nyingma (primeira escola do budismo tibetano) e da Umbanda, Marsicano era assíduo do Encontro da Nova Consciência e esteve em Campina Grande em fevereiro, onde participou da 22ª edição do evento.

Arthur Pessoa, curador do Encontro da Nova Consciência e vocalista da banda Cabruêra, lamentou a morte do amigo e parceiro, que estava engajado no projeto da Cabruêra que dará continuidade a Visagens Nordestinas (2012), no qual Marsicano atuou como diretor artístico.

"Ele foi uma pessoa querida, que viveu pouco, mas intensamente", diz Arthur, que planeja organizar uma homenagem a uma das figuras centrais do evento no qual, este ano, fez uma homenagem a Ravi Shankar ao lado do tablista Edgard Bueno.

"Fazia mais de uma década que Marsicano participava do encontro. Mantínhamos contato quase que diário pela internet e ele demonstrava ser um cara de bagagem cultural muito vasta e bastante generoso, sempre compartilhando com os outros músicos sua experiência pelo mundo".

O comerciante Óliver de Lawrence, participante do Encontro da Nova Consciência, relembrou o contato que teve com Marsicano em fevereiro, quando o músico dividiu o palco também com Baixinho do Pandeiro. "Eu conversei com ele duas ou três vezes sobre música e pude ver que ele era um cara de vanguarda, com a cabeça muito aberta", conta. "Prova disso foi o show com Baixinho do Pandeiro, que toca um instrumento que tem pouco a ver com a música indiana, que é feita em outra tonalidade".

Segundo Óliver, que é proprietário de uma tradicional loja de discos em João Pessoa, o trabalho de Marsicano é bastante procurado por fãs da música esotérica: "Ele pegou a história da música indiana e não tinha nenhum problema em misturá-la com aspectos da música atual. Seu último trabalho era inteiramente dedicado a Jimmy Hendrix", diz o comerciante.

Trata-se de Sitar Hendrix (2009), que faz uma releitura da obra do guitarrista americano misturando rock, blues e baião. O disco foi o 7º lançado por Marsicano, que chegou a ser indicado ao Grammy em 2007 e estreou com o álbum Galáxias (1984), no qual musicou 16 poemas de Haroldo de Campos (1929-2003).

Então amigo próximo do poeta que morreu há dez anos, o citarista participaria ontem da 'Hora H', homenagem que a Casa das Rosas prepara em São Paulo a Haroldo de Campos. No recital no qual tocaria ao lado do poeta Frederico Barbosa e convidados como Donny Correia, Horácio Costa, Ivan de Campos, Marcelo Tápia, Michel Sleiman, Nelson Ascher, Omar Khouri e Simone Homem de Mello, foi exibido um vídeo com a participação de Marsicano no evento do ano passado.

Como tradutor, recebeu o Prêmio Jabuti em 1999 e verteu para o português os versos de poetas como John Keats (1795-1821) e William Blake (1757-1827). Como escritor, publicou obras como Rimbaud Por Ele Mesmo (1996), Jim Morrison Por Ele Mesmo (2005) e A Música Clássica na Índia (2011).

Estudou música clássica indiana com Krishna Chakravarty e, pela difusão da cítara (instrumento que aprendeu a tocar com Shankar, na Inglaterra), foi homenageado pelo governo indiano em 1997, nas comemorações de 50 anos de independência do país.

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Jornal da Paraíba

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