POLÍTICA
58% dos deputados da Paraíba pertencem a família de políticos
Herdeiros dão as cartas na política paraibana. É o que mostra um levantamento da Universidade de Brasília (UNB) divulgado pelo site Congresso em Foco
Publicado em 10/02/2016 às 7:00
Um estudo da Universidade de Brasília (UnB) publicado no fim de 2015, divulgado no site Congresso em Foco, analisou os 983 deputados federais eleitos entre 2002 e 2010 para concluir que, no período, houve um crescimento de 10,7 pontos percentuais no número de deputados herdeiros de famílias de políticos, atingindo 46,6% em 2010 – número próximo aos 44% encontrados pela Transparência Brasil no mesmo ano. Logo após a última disputa eleitoral, o site divulgou outro levantamento que concluiu que 49% dos deputados federais eleitos em 2014 tinham pais, avôs, mães, primos, irmãos ou cônjuges com atuação política – o maior índice das quatro últimas eleições. A Paraíba está acima da média nacional, pois 58,3% dos atuais deputados federais pertencem aos clãs de tradição política no Estado.
De acordo com o estudo, atualmente, o estado que ilustra melhor o poder das dinastias nas eleições é o Rio Grande do Norte, onde os oito deputados federais eleitos se encaixam no perfil das pesquisas. Na Paraíba, sete dos 12 deputados federais são de núcleos políticos familiares. O deputado mais votado, Pedro Cunha Lima (PSDB), por exemplo, é filho do senador e ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB), neto do ex-governador Ronaldo Cunha Lima (já falecido) e sobrinho do ex-senador Ivandro Cunha Lima. O tio de Pedro, Ronaldo Cunha Lima Filho (PSDB), é vice-prefeito de Campina Grande, e os primos Bruno Cunha Lima e Arthur Cunha Lima Filho são deputados estaduais. Pedro obteve 179.886 votos nas eleições de 2014.
O segundo mais votado foi Veneziano Vital do Rêgo (PMDB) com 177.680 votos. O pai, Antonio Vital do Rêgo (já falecido), o irmão, Vital Filho, e a mãe, Nilda Gondim do Rêgo, foram deputados federais. Vitalzinho, atual ministro do Tribunal de Contas da União, também foi senador. Pedro Moreno Gondim, avô materno de Veneziano, já governou a Paraíba, enquanto o avô paterno, Veneziano Vital, foi deputado estadual pelo Estado de Pernambuco.
Com 161.999 sufrágios, Aguinaldo Velloso Ribeiro (PP) foi o terceiro mais votado para deputado federal. Na Câmara Federal, ele mantém a representação do pai, Enivaldo Ribeiro, que já foi deputado. A irmã Daniella Ribeiro (PP) é deputada estadual. A prefeita de Pilar, Virgínia Velloso Ribeiro, é mãe de Aguinaldo. O quarto mais votado é Hugo Motta Wanderley (PMDB) com 123.686 sufrágios. O avô dele, Edvaldo Motta (já falecido), foi deputado federal. O pai, Nabor Wanderley (PMDB), é deputado estadual, enquanto a avó, Francisca Motta (PMDB), administra a cidade de Patos.
Nomes dos pais identificam os filhos
Além do DNA, dois deputados federais “utilizam” os nomes dos pais desde a campanha eleitoral. Efraim Morais Filho (DEM) carrega o nome do ex-senador Efraim Morais, líder de tradicional grupo político do Valé do Sabugi. Já Inácio Bento de Morais, avô de Efraim Filho, foi prefeito de Santa Luzia e deputado estadual.
Outro parlamentar que segue os passos do pai é o deputado federal Wilson Santiago Filho (PTB). Em 2010, Wilson Santiago, então deputado federal, decidiu concorrer ao Senado e lançou o filho para disputar uma cadeira na Câmara o qual herdou sua base de prefeitos. Naquele ano, Santiago ficou em terceiro lugar, mas chegou a assumir por nove meses a cadeira de Cássio Cunha Lima (PSDB). Em 2014, Santiago voltou novamente a disputar o Senado, mas não obteve êxito, enquanto o filho foi reeleito para a Câmara Federal.
Já o deputado federal Benjamin Maranhão (SD) carrega no nome a tradição do avô paterno, Benjamin Gomes Maranhão (já falecido), que governou os municípios de Araruna e Cacimba de Dentro, no Curimataú paraibano. Na Câmara Federal, Benjamin “herdou” a cadeira do tio, José Maranhão (PMDB), atual senador e ex-governador. A mãe do deputado Benjamin é Wilma Maranhão, prefeita de Araruna, e a irmã Olenka Maranhão (PMDB) é deputada estadual.
O deputado federal Marcondes Gadelha (PSC), que ocupa atualmente a cadeira do deputado licenciado Pedro Cunha Lima, também é de família política tradicional. O filho de Marcondes, Leonardo Gadelha, já foi deputado federal. Atualmente, seu irmão Renato Gadelha (PSC) é deputado estadual e o primo André Gadelha, prefeito de Sousa. Seu irmão Salomão Benevides Gadelha foi prefeito por duas vezes da cidade de Sousa.
Completam a lista dos deputados federais o deputado federal Damião Feliciano (PDT), marido da vice-governadora Lígia Feliciano, Manoel Júnior (PMDB), Rômulo Gouveia (PSD) e Luiz Couto (PT).
'Política não deveria ser profissão'
Coordenador do levantamento que analisou as três primeiras eleições deste século, o professor de ciência política da UnB Luis Felipe Miguel observa que em diversas áreas é comum que os filhos sigam a carreira dos pais. O problema no caso da política é que ela não deveria ser considerada uma profissão. “Na política, isso é mais sério, pois ela deveria ser uma atividade aberta a todos os cidadãos”, diz.
Diferentemente de outras áreas, continua o professor, nem sempre há isso de os filhos se aproximarem pela familiaridade com as profissões dos pais. “Há, sim, estratégias das próprias famílias para manter os espaços de poder, com filhos ou parentes que são muitas vezes empurrados para ocupar essas posições, quem sabe até contra as próprias inclinações. Isso é sim ruim pra democracia.”
Para Miguel, as estratégias de manutenção dos clãs no poder acabam por torná-los uma espécie de empreendimento – uma vez que a política também é vista em muitos casos como forma de enriquecimento pessoal –, com projetos bem definidos para a ocupação até mesmo de espaços que credenciam para a disputa eleitoral.
"Como os nossos pais"
Pai, mãe, tio, avô e irmãos mantêm o domínio político
Pedro Cunha Lima – Senador Cássio Cunha Lima (pai), ex-governador e ex-senador Ronaldo Cunha Lima (avô), ex-senador Ivandro Cunha Lima (tio)
Veneziano Vital do Rêgo – Ex-deputado Antonio Vital do Rêgo (pai), ex-deputada Nilda Gondim (mãe), ex-deputado e ex-senador Vital Filho (irmão)
Aguinaldo Velloso Ribeiro – Ex-deputado Enivaldo Ribeiro (pai), prefeita de Pilar, Virgínia Velloso Ribeiro (mãe), deputada Daniella Ribeiro (irmã)
Hugo Motta Wanderley – Deputado estadual Nabor Wanderley (pai), ex-deputado Edvaldo Motta
(avô), prefeita de Patos, Francisca Motta (avó)
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