COTIDIANO
MP denuncia Mizael e vigia à Justiça pela morte de Mércia
Ex de advogada foi denunciado como mentor intelectual do crime. Evandro Silva foi citado como partícipe, diz promotor.
Publicado em 02/08/2010 às 17:38
Do G1
O promotor Rodrigo Merli Antunes, do Ministério Público de Guarulhos, na Grande São Paulo, confirmou na tarde desta segunda-feira (2) que ofereceu denúncia à Justiça contra Mizael Bispo de Souza e o Evandro Bezerra Silva. Os dois são suspeitos da morte da advogada Mércia Nakashima, que desapareceu no dia 23 de maio. O corpo e o carro dela foram encontrados dias depois em uma represa de Nazaré Paulista, também na Grande São Paulo.
A denúncia foi apresentada por volta das 13h30 desta segunda-feira no fórum de Guarulhos. Mizael foi denunciado por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, meio cruel e dificultou a defesa da vítima) e por ocultação de cadáver, como mentor intelectual e executor do crime. Evandro vai responder pelos mesmos crimes, mas com duas qualificadoras (motivo torpe e dificultou a defesa da vítima), sendo citado pelo promotor como partícipe do homícidio e da ocultação de cadáver.
"O motivo torpe deve-se ao fato de ele ter idealizado e realizado o crime porque a vítima terminou o relacionamento amoroso com ele, em meado de setembro do ano passado. O meio cruel é porque ele teria antes de matar a vítima feito disparos de arma de fogo. O laudo necroscópico identificou pelo menos um projétil no braço da vítima. Um segundo que teria atingido a mão e um terceiro teria atingido de raspão a sua mandíbula. Além disso, ele a agrediu violentamente com um objeto contundente. Não foram os disparos que ocasianaram as fraturas do maxilar e nem da mandíbula. Para que haja a fratura do osso da mandíbula, seria necessária uma força muito maior do que o do disparo. Em sequência, a jogou na represa, provocando sua morte por asfixia. E, por último, Mizael dissimulou a sua intenção ao convidá-la, ocultando as suas verdadeiras intenções", sintetizou.
O promotor anunciou também que endossou o pedido de prisão preventiva de Mizael Bispo feito pelo delegado Antonio de Olim, que conduziu o inquérito, alegando que há indícios suficientes de autoria do crime. Para o promotor, a quebra dos sigilos telefônicos e as contradições do ex de Mércia em seus depoimentos à polícia foram suficientes para que fosse pedida a prisão dele.
"O Mizael mentiu em seus depoimentos. Em nenhum momento ele citou o outro celular com o qual fez várias ligações naquele dia. Ele não ficou parado quatro horas no Hospital de Guarulhos com uma prostituta. Ele não coomprovou o álibi dele. E os dados técnicos (rastreamento das ligações telefônicas) que dão o trajeto feito por ele são compatíveis com a confissão do Evandro em seu primeiro depoimento", afirmou.
Mizael, que já teve a prisão preventiva decretada e suspensa, permanece solto. Evandro está preso temporariamente em um distrito policial em Guarulhos. Ambos negam o crime. Os documentos foram entregues ao juiz Leandro Bittencourt Cano, que irá analisá-los e decidirá se acolhe ou não a denúncia.
Se a Justiça aceitá-la, os acusados serão citados e passam a ser réus no processo. Mizael e Evandro serão então chamados a prestar esclarecimentos no fórum de Guarulhos, durante a fase de instrução. Segundo a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça, o juiz terá um prazo de cinco dias para se manifestar a partir do recebimento dela.
O promotor disse também que pediu o prosseguimento na reliazação de diligências - 18, no total - diligências para investigar a participação ou não do irmão de Mizael, Altair Bispo, no crime. "O inquérito conclui que os contatos (telefônicos, no dia 23 de maio) foram posterior ao ocorrido. Desde já, não dá para indiciá-lo, mas vamos averiguar se esse contato foi só posterior ou se ele (Altair) já tinha conhecimento do que viria acontecer. Para mim, não ficou elucidado qual a participação do Altair depois daquelas 27 ligações", explicou.
Além disso, o promotor, para fundamentar ainda mais a denúncia, pediu os laudos da perícia realizada no veículo de Mércia Nakashima, dos objetos apreendidos na casa de Mizael Bispo e confirmou que será realizada a reconstituição do crime, apesar de que esta não deverá contar com as presenças dos denunciados. "A reconstituição servirá para comprovar o depoimento do pescador que presenciou o carro sendo arremesado na represa, pois sem ele ainda não teríamos encontrado o corpo da Mércia nem o carro", afirmou.
Defesa
De acordo com o advogado Samir Haddad Júnior, que defende Mizael, a decisão do juiz deverá demorar mais. Isso porque, segundo ele, a nova lei determina que a Justiça só poderá se manifestar sobre a denúncia após o recebimento da argumentação da defesa dos suspeitos. “O prazo para a defesa responda ao juiz é de dez dias a partir da data em que formos comunicados pela Justiça”, disse Haddad Júnior, sugerindo que isso poderá ser feito até o dia 13 de agosto.
Além disso, a defesa de Mizael entende que o caso deve ser acompanhado por um promotor e por um juiz de Nazaré Paulista, onde Mércia morreu. Atualmente, o caso pertence à Promotoria e Justiça de Guarulhos.
Indiciados pela Polícia Civil pelo assassinato de Mércia, Mizael e Evandro foram denunciados pelo Ministério Público pelo mesmo crime. A diferença está na individualização de cada um dos suspeitos. Em outras palavras, a suposta participação de cada um no assassinato de Mércia.
Segundo o promotor Merli Antunes, Mizael foi acusado por homicídio triplamente qualificado (meios torpe e cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima) e ocultação de cadáver. Já Evandro irá responder por homicídio duplamente qualificado (meio cruel e recurso que impossibilitou a vítima de se defender).
“Mizael não aceitava o fim do namoro e queria reatar, por isso matou Mércia. Evandro ajudou no crime porque sabia o que iria ser feito, sabia que Mizael iria matar a ex”, disse o promotor por telefone ao G1 na sexta. Ele já indicou 16 nomes para serem testemunhas da acusação.
Além dos depoimentos, a Promotoria informa que os rastreamentos a partir das quebras dos sigilos telefônicos e antenas de telefonia são determinantes para culpar Mizael e Evandro pelo assassinato de Mércia.
O crime
Depois de desaparecer em 23 de maio da casa dos avós em Guarulhos, Mércia foi achada morta em 11 de junho na represa em Nazaré Paulista. O veículo onde ela estava havia sido localizado submerso um dia antes. Segundo a perícia, a advogada foi agredida, baleada, desmaiou e morreu afogada dentro do próprio carro no mesmo dia em que sumiu. Ela não sabia nadar.
Um pescador havia dito à polícia ter visto o automóvel dela afundar, além de ver um homem não identificado sair do veículo e ter escutado gritos de mulher.
Para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Mizael matou a ex por ciúmes e o vigilante o ajudou na fuga. Mizael alega inocência. Evandro, que chegou a acusar o patrão e dizer que o ajudou a fugir, voltou atrás e falou que mentiu e confessou um crime do qual não participou porque foi torturado.
Ainda, segundo o relatório do DHPP, Mizael e Evandro trocaram diversos telefonemas combinando o crime. A polícia chegou a essa informação a partir da quebra dos sigilos telefônicos dos dois. O rastreador do carro do ex também mostrou que ele esteve próximo ao local onde Mércia sumiu e onde ela foi achada no mesmo dia do crime.
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