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CULTURA

Feios, sujos e malvados

Em entrevista ao Jornal da Paraíba, Daniel Pellizzari fala sobre o livro 'Digam a Satã que o Recado Foi Entendido' que acaba de chegar às livrarias.

Publicado em 14/09/2013 às 6:00 | Atualizado em 14/04/2023 às 17:24

Durante cerca de um mês, em 2007, Daniel Pellizzari caminhou pelas imediações da Summerhill Parade, em Dublin, com olhos e ouvidos atentos para uma Irlanda que ele conhecia apenas pelas páginas dos livros. A ironia era patente: dali a seis anos, tudo o que Pellizzari viu, ouviu e viveu na terra de James Joyce serviria de material para o livro Digam a Satã que o Recado Foi Entendido (Cia. das Letras, 184 páginas, R$ 37,00), novo volume da coleção 'Amores Expressos' que acaba de chegar às livrarias.

“Não tinha a menor ideia do que fazer quando embarquei”, conta Pellizzari, em entrevista por e-mail ao JORNAL DA PARAÍBA. “Os personagens e - especialmente - os temas só me apareceram durante a estadia. O choque inevitável entre a Dublin da minha cabeça, nascida de leituras, e a experiência empírica da cidade no século 21 foi essencial para detonar o processo. Depois disso deixei cenas fermentando na cabeça por um longo período até eu conseguir visualizar uma estrutura definida e partir para a redação.”

Satã é a volta triunfal ao romance do autor de Dedo Negro com Unha (2005), escritor nascido em Manaus (AM) e que fez história em Porto Alegre (RS), onde fundou a editora 'Livros do Mal' com Daniel Galera e Guilherme Pilla. Mais velho da turma, com seus 39 anos, Pellizzari parece ser também o mais versátil, e basta uma rápida olhada em seu site www.cabrapreta.org para ter ideia de uma das possíveis razões pelas quais o retorno ao gênero demorou tanto.

São vários os projetos conduzidos pelo também tradutor e editor, todos, “inclusive um infantojuvenil que anda rondando minha cabeça nos últimos tempos e um livro de não ficção que ainda é uma ideia vaga”, igualmente empolgantes, garante um Pelliz- zari que se recusa a comentar trabalhos em andamento mas é tão eloquente quanto os personagens narradores de seu novo livro (seis, no total), quando o assunto é a história que tem como cenário um dos países ao qual mais acorreram imigrantes na Europa desde o início do século.

“Dos seis narradores, quatro são irlandeses (Patricia, Siobhan, Demetrius e Barry). Zbigniew é polonês porque era um dos maiores grupos de imigrantes na cidade quando da minha estadia, e Magnus não tem nacionalidade definida (a única certeza que o livro oferece é que ele não é irlandês nem brasileiro)”, explica. “E não houve cobrança alguma acerca de estereótipos, não - até porque os personagens são diferentes entre si, mesmo quando compartilham uma mesma origem.”
Uma breve descrição de alguns deles prova o que Pelliz- zari acabou de dizer: Patricia, Siobhan e Demetrius são jovens envolvidos com uma seita obscura que louva um lendário Deus-ofídio da cultura céltica; Magnus Factor e Bartholomew (Barry) são sócios em uma agência de turismo que forja passeios temáticos por lugares supostamente mal-assombrados.

A alternância dos narradores, segundo Pellizzari, serviu para aprofundar cada um dos tipos e amenizar o tom de farsa: “A opção pela polifonia veio da necessidade de entrar no universo particular de cada personagem e contextualizar seu papel na narrativa. Em terceira, mesmo que o foco narrativo não fosse neutro, ficaria farsesco demais e não era o que eu queria fazer nesse livro”, sublinha. “Acima de tudo eu precisava ser fiel aos processos mentais de cada personagem e não podia modificar a voz própria de cada um apenas por ser mais truncada.”

CRIATURAS PECULIARES

Como construção da voz própria de um personagem, os capítulos dedicados a Barry são um êxito à parte. Beberrão e misógino, com um linguajar sujo e petulante, Barry é talvez o que mais se destaca da “fauna” apresentada por Pellizzari. “Eu ri bastante com o Barry, ainda que minha voz predileta (a que eu mais gostava de "ouvir") no livro pertença à Patricia”, admite o ficcionista. “Voltando ao Bartholomew, ele sempre falou daquela maneira - é uma aproximação (traduzida) do modo de falar dos 'skangers', o grupo ao qual ele pertence ainda que seja uma criatura peculiar mesmo nesse contexto.

Observei bastante como eles falam (os gritos de 'jaysus', 'howiya' e 'eedjit') e se comportam (dar chutes nos copos cheios de moedas dos junkies, cuspir ou jogar pedras nos passantes pra puxar briga) para compor o Barry e seu universo.”
Barry também deu “de bandeja” para Pellizzari o título do livro, um componente importante para a criação de um autor que pode ostentar no rol de seus batismos, por exemplo, um livro de contos com o curioso nome Ovelhas que Voam se Perdem no Céu (2001).

Segundo ele, as frases que estampam as suas capas já serviram de estopins para sua escrita: “Dedo Negro com Unha surgiu a partir do título”, afirma. “Digam a Satã que o Recado Foi Entendido veio de uma fala do Barry (levemente modificada) que me pareceu resumir bem a trama do romance.”

Ao lado do amigo Daniel Galera, Pellizzari verteu para o português textos do americano David Foster Wallace (1962-2008) e do escocês Irvine Wesh. “Neste último caso, fazemos uma divisão por narrador e cada um fica responsável por determinados personagens. Depois cada um revisa a parte do outro”, diz o tradutor, descrevendo o processo a quatro mãos com o xará.

Seu novo livro de ficção também já foi iniciado. Se vai demorar tanto quanto Satã? “Cada livro demora um tempo específico para ficar pronto, e fatores extraliterários também influenciam bastante, como no caso do Satã”, justifica. “Mas agora (imagino e espero) não vai mais demorar tanto.”

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Jornal da Paraíba

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