VIDA URBANA
Maria foi abusada pelo avô e só teve coragem de contar depois da morte dele
As lembranças do abuso ainda perturbam Maria, que disse sentir raiva de si mesma por ter silenciado, quando deveria denunciar.
Publicado em 02/08/2015 às 14:01
“Ele beijou minha boca e eu senti nojo”, disse Maria (nome fictício) sobre os abusos sofridos aos 8 anos. Maria morava com a mãe e os avós em uma casa simples, no interior da Paraíba. A mãe da garota, hoje com 16 anos, trabalhava como professora em uma cidade vizinha e passava o dia fora de casa. Maria estudava pela manhã e à tarde ficava em casa. Depois de fazer as tarefas da escola, Maria gostava de brincar no seu quarto. Em um desses dias, a avó da menina foi à casa de uma vizinha, deixando-a sozinha com o avô.
“Lembro que nesse dia eu brincava de escolinha com minhas bonecas. Meu avó chegou e pediu para brincar também e eu deixei, claro. Amava meu avô, era como se fosse meu pai, já que o biológico tinha deixado minha mãe ainda grávida. Nunca passou pela minha cabeça que aquele homem, com quem eu me sentia segura, abusaria da minha inocência”, afirmou. O avô, um homem de 54 anos, se aproximou da neta e a beijou na boca e no pescoço.
“Senti nojo, mas também medo”. Maria foi mais uma vítima de abuso sexual que silenciou. Não contou nada a ninguém, embora desconfiasse que a avó sabia do que se passava. A menina foi abusada, dentro de casa, até os 10 anos, quando então se mudou com a mãe para a capital. No ano passado, quando o avô morreu de infarto, Maria decidiu abrir o jogo com a mãe, que ficou desesperada, mas já não havia o que fazer.
As lembranças do abuso ainda perturbam Maria, que disse sentir raiva de si mesma por ter silenciado, quando deveria denunciar. “Às vezes eu achava que a culpa era minha, mas depois entendi que o errado era o meu avô. Eu era apenas uma criança, quem acreditaria em mim? Quem via meu avô dizia que ele era um homem sério, mas na verdade ele era um monstro”.
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