VIDA URBANA
Acusados de matar Vivianny Crisley vão a júri popular
Vivianny foi uma das 90 mulheres vítimas de homicídio em 2016 na Paraíba. Em 2018 já foram 22 em dois meses.
Publicado em 28/02/2018 às 7:00 | Atualizado em 28/02/2018 às 16:48
Depois de quase um ano e meio do assassinato da jovem Vivianny Crisley, os três acusados do crime vão a júri popular nesta quarta-feira (28), no Fórum de Santa Rita, na região metropolitana de João Pessoa. Na época, os acusados, Allex Aurélio Tomas dos Santos, Fágner das Chagas e Jobson Barbosa da Silva Júnior, alegaram que a vítima foi assassinada "porque gritou". Segundo eles, o trio conheceu Vivianny na noite do crime.
A vítima tinha 28 anos quando foi vista pela última vez na noite do dia 20 de outubro de 2016, momento em que saía de um bar na Zona Sul de João Pessoa. Seu corpo foi encontrado carbonizado no dia 7 de novembro do mesmo ano, em uma mata no município de Bayeux.
Veranilde Viana, mãe de Vivianny, diz que seu único desejo é que a justiça seja feita. "Eu estarei lá, presenciando todo o julgamento. Só espero que eles paguem pelo que fizeram, é só isso mesmo que eu desejo. Quero justiça", diz.
Revoltados com o crime, a família e o Núcleo Gertrudes Maria, organização de defesa dos direitos das mulheres, iniciaram uma campanha #JustiçaparaViviany nas redes sociais pedindo punição para os assassinos.
Crimes contra a mulher
Vivianny foi uma das 90 mulheres vítimas de homicídio em 2016 no estado da Paraíba. O tempo passou, mas o problema persiste. De acordo com os dados divulgados pela Secretaria de Segurança e da Defesa Social (Sedes), 22 mulheres foram assassinadas nos primeiros 56 dias de 2018, equivalente a cerca de 25% dos registros de 2016.
Ainda segundo a Seds, apesar dos números de violência registrados no estado, houve uma redução de 51% na taxa de mulheres assassinadas durante o período de 2011 a 2017 (ano em que registrou 76 homicídios femininos). O dado coloca o estado em 4º lugar no ranking nacional das menores taxas de Crime Violento Letal Intencional (CVLI), que representam os homicídios dolosos ou qualquer outro crime que resulte em morte.
Segundo a delegada especial da mulher, Josenise Andrade, os dados preocupam ainda mais pelo fato de que as vítimas de feminicídio em 2018 não registraram queixa nas Delegacias da Mulher no estado. "Eu acredito que o motivo disso seja explicado pelo sentimento da mulher e até mesmo da própria família. Ninguém nunca espera que seu companheiro 'bondoso' tenha coragem de matar você", afirma.
Violência e patriarcado
A violência contra a mulher pode ser caracterizada em diversos aspectos, dentre eles a agressão física, psicológica e moral. Mas não é só o álcool, drogas e ciúmes que são os fatores que provocam a violência doméstica, para a juíza da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, Rita de Cássia, um dos principais motivos tem sido a crise econômica no Brasil.
"Não podemos fechar os olhos para essa cultura machista que temos. Existe a questão do desemprego, falta de estabilidade financeira, tudo isso termina criando uma situação de conflitos familiares", afirma. "Não podemos apontar um elemento só, é um conjunto de fatores que levam a esse fenômeno. Mas, todo eles têm o embasamento no patriarcado, machismo e dominação do homem com a mulher", conclui.
Punições
Criada em 2006, a Lei Maria da Penha tem o objetivo de aumentar o rigor das punições de crimes praticados contra a mulher. A lei é considerada importante na luta contra a realidade assustadora da violência doméstica e contra a desigualdade de gênero.
Já a Lei do Feminicídio, criada em 2015, define o crime como homicídio simples ou qualificado cometido contra a mulher simplesmente pela condição de ser do sexo feminino. O crime acontece quando envolve violência doméstica familiar, menosprezo ou descriminação por ser mulher. Ele é considerado a maior expressão da violência contra a mulher, que geralmente se dá como consequência recorrente da violência doméstica.
Para a juíza Rita de Cássia devido à falta de conhecimento da lei, alguns homens acreditam que se matarem as companheiras não serão punidos através das Leis de Feminicídio e Maria da Penha. "Alguns deles já chegaram a dizer que preferem matar a mulher durante uma discussão para não responderem por esses crimes", afirma.
"Eu só tenho uma coisa a dizer a eles. Não existe essa de matar a mulher por desonra. Se for violento vai responder pela Maria da Penha. E se matar, aí é que vai responder mesmo, pegando uma pena entre 12 a 30 anos de reclusão", diz a juíza Rita de Cássia.
Casos emblemáticos
Em memória das mulheres assassinadas na Paraíba, o JORNAL DA PARAÍBA preparou um resumo para relembrar os casos emblemáticos de homicídios de mulheres que marcaram o estado:
Aryane Thaís Carneiro de Azevedo, tinha 21 anos e estava grávida do mentor do crime quando foi estrangulada e teve seu corpo deixado em um matagal em João Pessoa. O crime aconteceu no dia 15 de abril de 2010. Seu corpo foi encontrado dois dias depois, às margens da BR-230. Luiz Paes de Araújo Neto, foi condenado a 17 anos e seis meses em regime fechado pelo crime.
Rebeca Cristina Alves Simões, de 15 anos, foi assassinada no dia 11 de julho de 2011 quando estava a caminho do Colégio da Polícia Militar, em Mangabeira, na capital. Seu corpo foi encontrado no mesmo dia, nas margens da PB-008, próximo à mata do Jacarapé. Em 2016, seu padrasto Edvaldo Soares foi preso suspeito de ser o mentor intelectual do crime. Atualmente, ele aguarda em reclusão o júri popular.
Isabella Pajuçara, de 27 anos, e Michelle Domingos, 29 anos, foram assassinadas depois de um estupro coletivo no dia 12 de fevereiro de 2012 no município de Queimadas, Agreste da Paraíba. No crime conhecido como "Barbárie de Queimadas", cinco mulheres foram estupradas. As duas foram mortas porque reconhecerem os agressores, supostos amigos das vítimas. Elas estavam em um aniversário quando foram estupradas por nove homens. Três adolescentes foram condenados a cumprir medidas socioeducativas e seis dos réus foram condenados por cárcere privado, formação de quadrilha e estupro. Com exceção dos adolescentes, que cumpriram três anos de internação no Lar do Garoto, todos os outros envolvidos permanecem presos em regime fechado.
Briggida Rosely de Azevedo Lourenço tinha 28 anos, quando foi encontrada morta em seu apartamento, no dia 19 de junho de 2012. O acusado do crime é o fotógrafo Gilberto Stuckert, ex-companheiro da vítima. De acordo com o Ministério Público, a motivação do crime foi a insatisfação do réu com a ex-companheira. Ela teria posto um fim ao relacionamento de oito anos com ele. O fotógrafo foi condenado a 17 anos e seis meses de prisão em regime fechado.
Fernanda Ellen tinha 11 anos quando desapareceu na tarde do dia 7 de janeiro de 2013. Três meses depois, seu corpo foi encontrado enterrado no quintal do vizinho da família, Jefferson Soares, no Alto do Mateus, em João Pessoa. A juíza Anna Carla Falcão acredita que o acusado matou a estudante para roupar o celular dela. O assassino confesso foi condenado a 31 anos de prisão e segue em regime fechado.
Maria Beatriz Souza Santana, de 14 anos, foi atingida por disparos de arma de fogo no dia 21 de novembro de 2014 em uma escola pública de João pessoa. A jovem chegou a ser socorrida e encaminhada para o Hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa, mas não resistiu. Um adolescente de 15 anos foi apreendido suspeito do crime. O JORNAL DA PARAÍBA tentou atualizar o caso até esta terça-feira (27) com a delegada responsável, mas não obteve retorno.
Joseane França de Lima, de 38 anos, foi morta com 28 golpes de faca no dia 18 de fevereiro de 2018 no bairro Tibiri Fábrica, em Santa Rita. O acusado do crime, Ivanildo Júnior, de 40 anos, teria assassinado a esposa por ciúmes. Eles estavam juntos há 20 anos. O acusado passou por audiência de custódia e atualmente está em regime fechado no Presídio Padrão de Santa Rita.
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