CULTURA
'Círculo de fogo - a revolta' é uma desculpa para ganhar dinheiro destruindo cidades
Longa é uma sequência sem inspiração que baseia-se apenas nas cenas de ação para se sustentar.
Publicado em 22/03/2018 às 19:22 | Atualizado em 23/03/2018 às 15:37
CÍRCULO DE FOGO - A REVOLTA (EUA, 2018, 111 min.)
Direção: Steven S. DeKnight
Elenco: John Boyega, Scott Eastwood, Jing Tian, Cailee Spaeny
★★☆☆☆
Dez anos após uma manada de aliens tentar destruir a Terra, uma conspiração envolvendo cientistas e empresas privadas traz o kaiju - nome como os vilões extraterrestres ficaram conhecidos - de volta ao nosso planeta para mais uma rodada de explosões e metrópoles destruídas. É essa a história de Círculo de fogo - a revolta (Pacific Rim Uprising, 2018), que estreia nos cinemas da Paraíba nesta quinta-feira (22).
O filme é uma sequência direta de Círculo de fogo (2013), que foi dirigido por Guillermo del Toro. E, embora o original seja interessante, com seus visuais bizarros e história bizarra, A revolta revela ser uma segunda parte sem inspiração que baseia-se apenas nas cenas de ação para se sustentar.
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Com a derrota do kaiju alienígena, o antigo pilotos de jaegers (máquinas tipo megazords construídas pelos humanos para combater os aliens) Jake Pentecost (John Boyega) é preso ao tentar roubar e vender partes dos robôs no mercado negro. Sua meia-irmã, a comandante Mako Mori (Rinko Kikuchi), lhe dá duas alternativas: ser levado para uma prisão ou ser útil e treinar jovens pilotos de jaegers para os militares.
É na unidade militar que Jake descobre o plano que traz o retorno dos kaijus à Terra, tramada por uma companhia chinesa liderada pela empresária Liwen Shao (Jing Tian). A grande presença de atores chineses e a ambientação de parte da narrativa na cidade de Xangai podem, aliás, enganar os mais inocentes quanto à repentina representatividade asiática em um blockbuster hollywoodiano: mais do que um interesse real por diversidade ou importância narrativa, a escolha se justifica por razões financeiras, já que a China foi o maior mercado mundial do primeiro filme da franquia.
(Esta, entretanto, é uma produção genuinamente americana. Vale a pena prestar atenção aos dois distintos momentos do filme, o antes e o depois do plot twist da trama - reviravolta que até funciona e surpreende: a súbita mudança na língua utilizada por Liwen, que fala mandarim e inglês, pode sugerir o tipo de visão que os Estados Unidos ainda mantêm com relação aos chineses).
Bem, o plano de dominação alienígena obviamente dá certo e os kaijus são finalmente liberados através de fendas subaquáticas, momento em que o longa reforça sua vocação com uma série de sequências intermináveis de lutas, explosões e destruição nas alturas que deixam de ser divertidas após os 15 primeiros minutos e correm o risco de provocar uma bela dor de cabeça em quem está assistindo.
Uma das poucas coisas que funcionam e que emprestam ao filme um pouco de profundidade é a personagem Amara, interpretada por Cailee Spaeny. No mais, o roteiro é preguiçoso e não se preocupa em criar uma história convincente que justifique aquilo tudo; um fio narrativo que poderia resultar em possibilidades interessantes, o da superação de forças humanas por drones, é apenas brevemente mencionado e logo deixado de lado. A direção do estreante Steven S. DeKnight é genérica e os nomes dos personagens são esquecidos antes mesmo que os créditos comecem a subir. Para quem não quer contribuir monetariamente com essa confusão mas por alguma razão misteriosa ainda pretende assistir, vale a dica: vários Transformers já estão por aí disponíveis.
Círculo de fogo: a revolta é uma sequência desnecessária que tenta arrecadar alguns milhões com suas cenas de ações já vistas e revistas em qualquer filme de guerra ou super herói. Os fãs da primeira parte provavelmente vão sair desapontados, mas pelo menos quem está procurando ver robôs gigantes lutando entre si e prédios sendo jogados como gravetos pode sair satisfeito.
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