VIDA URBANA
PB tem 159 mil crianças em insegurança alimentar; média é superior a nacional
Dados são na faixa etária dos 0 a 17 anos e integram o grupo de 1,5 mi de paraibanos na situação.
Publicado em 21/05/2015 às 8:00 | Atualizado em 09/02/2024 às 16:48
Um dia com três refeições é algo raro na casa de Vera Lúcia Araújo, de 35 anos. A dona de casa tem nove filhos, na faixa etária de 0 a 17 anos de idade, e mora na comunidade Saturnino de Brito, que fica no bairro de Jaguaribe, em João Pessoa. Ela relata as dificuldades de viver sem saber o que comer no dia seguinte. “É muita dificuldade. A gente tem quem ajuda, dá uma cesta básica, mas nem sempre dá para ter o que comer”. Os filhos de Vera Lúcia fazem parte das 159 mil crianças e adolescentes, entre 0 e 17 anos, que integram o universo de 1,592 milhão de paraibanos que sofrem alguma restrição de alimento, enfrentando o problema da insegurança alimentar. Do total de crianças e adolescentes nesta faixa etária, 39 estão entre 0 a 4 anos, e 120 integram o grupo de 5 a 17 anos, de acordo com dados da Pesquisa Básica e Suplementar de Segurança Alimentar da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2013).
Conforme a pesquisa, esse número corresponde a um total de 443 mil domicílios do Estado (36,5% do total), onde pessoas são acometidas por algum grau de insegurança alimentar. Conforme a Pnad 2013, a insegurança alimentar possui três níveis: leve, moderada e grave. Na leve, existe uma preocupação ou incerteza quanto ao acesso aos alimentos no futuro; na insegurança alimentar moderada, entre os adultos há uma redução quantitativa de alimentos entre os adultos e/ou ruptura de alimentação. Na grave, há uma redução quantitativa de alimentos entre as crianças e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre as crianças e fome, quando alguém fica sem comer por falta de dinheiro para comprar o alimento.
Ainda conforme o estudo, uma família está em segurança alimentar quando os moradores do domicílio têm acesso regular e permanente a alimentos de qualidade sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais. Nessa situação, existe na Paraíba 2,327 milhões de paraibanos, o que corresponde a 771 mil domicílios (63,5% do total).
Se qualificada de acordo com esses parâmetros, a casa de Vera se enquadra no caso mais grave dessa lista. Ela revelou que faz de tudo para não faltar o pão de cada dia, mas, por vezes, não há muito o que fazer. “Eu tenho bolsa família de todos os meus filhos. Com esse dinheirinho a gente paga tudo e tenta manter a comida na mesa, mas tem dia que não tem. São muitas bocas para alimentar, e eu não posso trabalhar, pois tenho que cuidar deles. Às vezes tento fazer uma faxina, quando vejo que o que a gente tem não vai dar para o dia seguinte”, comentou.
Além das dificuldades vividas por Vera, sua vizinha, Rosicleide de Sousa também sente na pele o que é não ter comida diariamente para os filhos. Ao todo, são quatro crianças das quais uma é deficiente mental. “Eu não posso trabalhar porque tenho que cuidar dos meus filhos. Vivemos um dia de cada vez, porque realmente não é fácil”, revelou, contando que sua família, por vezes, só tem à mesa uma das três refeições básicas do dia. “A gente às vezes só almoça. Tenta dormir mais cedo para não ter que jantar e acordar mais tarde para não ter que tomar café. A gente multiplica o que tem”, disse. (Colaborou Secy Braz)
Saiba mais
A média de domicílios nos quais existe alguma insegurança alimentar na Paraíba é superior à nacional. Segundo a Pnad 2013, no Brasil existem cerca de 65,3 milhões de domicílios particulares, onde 50,5 milhões (77,4%) viviam em situação de Segurança Alimentar (SA). Nestes domicílios residiam 149,4 milhões de pessoas, o equivalente a 74,2% dos moradores em domicílios particulares do país. Os demais 14,7 milhões de domicílios particulares (22,6%) estavam em algum grau de Insegurança Alimentar (IA), ou seja, tinham alguma preocupação com a possibilidade de ocorrer alguma restrição devido à carência de recursos para adquirir mais alimentos. Nestes domicílios, viviam cerca de 52 milhões de pessoas.
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