VIDA URBANA
Falta de oportunidades faz povo de Ingá sair em busca de emprego
Destino mais frequente, hoje em dia, é Santa Catarina. Fora a prefeitura, o grande empregador é uma fábrica de calçados que tem mais de 500 funcionários.
Publicado em 02/09/2010 às 21:33
Do G1
O JN no Ar está de volta ao Nordeste. A cidade sorteada na última quarta-feira foi Ingá, na Paraíba. Confira, primeiro, as informações sobre o estado.
Paraíba: cerca de 3,8 milhões habitantes. Entre os nove estados da Região Nordeste, a Paraíba é a sexta economia, apoiada na agropecuária.
A renda média mensal de R$ 713 está abaixo da média nacional de R$ 1.025. Cerca de 60% dos moradores não têm acesso à rede de esgoto.
A mortalidade infantil é de 36,5, acima da média nacional que é de 23,3. A taxa de analfabetismo, 23,5%, também está acima da média brasileira de 9,8%. A Paraíba tem mais de 2,8 milhões eleitores.
O repórter Ernesto Paglia falou, ao vivo, do Aeroporto Presidente João Suassuna, em Campina Grande, o mais próximo de Ingá. A cidade de Ingá fica a 35 quilômetros do aeroporto.
A pequena cidade paraibana tem cerca de 18 mil habitantes e recebeu a equipe do JN no Ar com muita hospitalidade. No estado, a equipe conta com o apoio das TVs Paraíba e Cabo Branco, afiliadas da Rede Globo na Paraíba.
Quando embarcamos, em Vitória, não imaginávamos que a Paraíba nos receberia com chuva e frio. Mas em Ingá, nesta quinta-feira cedo, não podia haver mais calor humano.
Ingá é pequenina, vive do feijão, do milho e da aposentadoria dos veteranos da lavoura. Fora a prefeitura, o grande empregador é a fábrica de calçados esportivos que só trabalha para exportação: tem mais de 500 funcionários. Nesta quinta, uma fila de candidatos tentava entrar para o terceiro turno que vai ser aberto com o aumento da produção. “Geralmente aqui em Ingá só tem a fábrica, que é o melhor emprego”, contou uma moradora.
A maioria não consegue trabalho na cidade e vira migrante. O destino mais frequente, hoje em dia, é Santa Catarina.
Felipe, 16 anos, ficou sozinho em Ingá. Sábado, ele embarcará na primeira viagem de avião, para se juntar às duas irmãs mais velhas, em Blumenau. “Um dia eu volto, não saio daqui não. Aqui é Ingá, minha cidade, nunca vou sair daqui não”, disse ele.
Nem todos se dão bem. Há quem volte com doenças graves, como a Aids. “Muitos deles, se envolvem com drogas, com a vida promíscua, e terminam voltando para o município trazendo consigo o vírus da Aids”.
A policlínica está sobrecarregada. A tuberculose cresceu 30% neste ano. A direção diz que os doentes vêm, principalmente, do presídio que funciona no município.
“O ambiente fechado, sem Recber ventilação, então isso tudo propicia para que a doença se manifeste”.
“Ele ficou muito mal mesmo. Chegou a pesar 45 quilos, para um rapaz alto desses”, lembra a mãe de um presidiário.
A hanseníase, comum em Ingá, cresceu 10% em 2010. A falta saneamento espalha as doenças. A prefeitura foi acionada na Justiça Federal para fazer um aterro sanitário. Com pouca população, fica difícil conseguir verbas federais. Enquanto isso, Ingá só tem um lixão.
O orgulho da cidade é o patrimônio arqueológico. A Pedra de Ingá tem um dos mais sofisticados conjuntos de trabalhos pré-históricos do país. Há estimativas de que algumas gravações na rocha têm mais de 50 mil anos.
Dennis Mota aprendeu sozinho, empolgado com o tesouro da pedra, estudou o tema, foi fazer faculdade de geografia. Insistiu tanto que a prefeitura foi à Justiça e ganhou o direito de administrar o sítio arqueológico, que está nas mãos de particulares.
A partir da semana que vem, Dennis Será o guia oficial da Pedra do Ingá.
“Eu tenho orgulho de ter isso aqui na minha terra. Acho que o Ingá tem condições de cuidar disso, só basta a população abraçar realmente, porque a população é quem menos tem orgulho disso aqui. Eles não sabem o que isso representa”, afirmou.
As mãos das rendeiras de ingá também produzem belezas. Mais de cem mulheres do distrito de Chã dos Pereiras tecem a renda labirinto, herança passada de geração em geração. “As avós passaram para as filhas, as filhas já estão passando para as netas”, contou a rendeira Josefa de Oliveira.
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