POLÍTICA
'Colaboração premiada' cita compra de mandato e tentativa de homicídio
O esquema teria desviado R$ 30 milhões em recursos públicos nas diversas formas de fraude.
Publicado em 03/04/2018 às 11:31 | Atualizado em 03/04/2018 às 16:31
A colaboração premiada do ex-presidente da Câmara Municipal de Cabedelo, Lucas Santino, foi o elemento que deu início às investigações que culminaram na prisão do prefeito do município, Leto Viana, na manhã desta terça-feira (3). O esquema teria desviado R$ 30 milhões em recursos públicos. Um dos pontos registrados na colaboração premiada foi a tentativa de homicídio de um vereador da cidade que estaria relacionada com o esquema de corrupção, mas o delegado da Polícia Federal Fabiano Emídio explicou que este fato já está sendo investigado na esfera criminal e que, por isso, a operação não se debruçou sobre ele. A motivação deste crime seria briga política.
A partir da denúncia, feita há cerca de um ano e dois meses, o prefeito foi investigado por formação de organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Nesta terça-feira, operação Xeque-Mate prendeu 11 pessoas, entre elas o prefeito Leto Viana, cinco vereadores, incluindo a esposa de Leto, Jacqueline Monteiro França, e mais cinco servidores públicos do município. O vice prefeito da cidade não foi preso, mas foi afastado do cargo. Ao todo, 85 pessoas foram afastadas de seus cargos públicos na cidade para evitar o que a polícia chama de ‘sangria dos cofres públicos’ durante a investigação. Mas a ação segue durante o dia e a equipe que comanda o trabalho também não descarta novas fases da operação. A ação é executada pela Polícia Federal em parceria com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Estado.
“Essa organização criminosa instalada em Cabedelo pode ser dividida em dois núcleos: o núcleo da prefeitura e o núcleo da Câmara Municipal. Embora sejam núcleos distintos, é importante considerar que eles estão submetidos a um comando único, por isso podemos vislumbrar o crime de organização criminosa. Eles se locupletavam das verbas destinadas à prefeitura e também à Câmara Municipal”, afirmou o delegado Fabiano Emídio.
O 'colaborador' da investigação também citou, segundo a Polícia, informações que apontam para a possível compra do mandato do ex-prefeito Luceninha, antecessor de Leto, uma negociação que girou em torno de R$ 5 milhões e envolveria um empresário. Durante as buscas desta terça-feira, foram apreendidos documentos que demonstram pagamentos suspeitos, mas que ainda não é possível confirmar a relação do empresário com o esquema, o que deve ser esclarecido com a continuidade das investigações.
Estratégias de coação política
Segundo a polícia, o vereador Lucas Santino apresentou áudios e informações que davam conta de um esquema de corrupção envolvendo o prefeito e vereadores que incluía estratégias de ‘coação política’, que faziam com que a Câmara só tocasse projetos que fossem de interesse do gestor. Os policiais encontraram nesta terça-feira, inclusive, o que eles estão chamando de 'cartas renúncia' assinadas por vereadores, documentos que seriam usados pelo prefeito para exigir o apoio dos vereadores em projetos de seu interesse na Câmara. "De posse daquelas cartas, ele [Leto] então protocolaria a renúncia daquele vereador, se ele ficasse descontente com a atuação parlamentar. Era uma forma que ele tinha de manter os vereadores na mão", pontuou Fabiano Emídio.
O esquema incluía desvio de recursos públicos com contratação de ‘funcionários fantasmas’, doação de terrenos públicos com avaliação fraudulenta e ocultação patrimonial de agentes públicos. De acordo com os investigadores, somente na aquisição de imóveis nos últimos cinco anos, verificou-se que um dos agentes envolvidos no esquema movimentou mais de R$ 10 milhões não declarados. Também foi identificado que 'funcionários fantasmas' da Prefeitura e da Câmara recebiam salários de até R$ 20 mil e entregavam a maior parte aos membros do esquema, ficando com apenas uma parte do dinheiro.
Todos os presos na Operação Xeque-Mate devem passar por audiência de custódia ainda nesta terça-feira, no auditório do Pleno Tribunal de Justiça da Paraíba, localizado no Centro da capital. Quem presidirá a audiência será o juiz da 6ª Criminal da Comarca de João Pessoa, Rodrigo Marques Silva Lima.
Em nota, a prefeitura de Cabedelo informou que recebeu a notícia da investigação em andamento “Xeque-Mate” com calma , e garantiu o pleno funcionamento da máquina pública, sem prejuízo à população e que segue confiando na Justiça e aguardando determinações judiciais.
“A gente está apurando tudo que aconteceu, estamos tomando conhecimento agora, fomos pegos de surpresa. Vamos avaliar todo cenário para poder se posicionar”, afirmou o procurador de Cabedelo, Sandro Magalhães. “Vou me reunir com alguns secretários, devo passar na superintendência da PF para acompanhar a situação. Talvez no final do dia, teremos uma posição”.
Em nota, o empresário Roberto Santiago, alvo de uma mandado em sua residência, no bairro do Bessa, disse que construiu a "vida tendo como signo o trabalho honesto" e que está "profundamente surpreso com a operação". "Tenho a plena convicção de que não cometi nenhum ato ilícito e não tenho qualquer relação administrativa ou funcional com os Poderes Executivo e Legislativo de Cabedelo", diz. Ele garante que está colaborando com a Justiça.
Lista dos presos
- Wellington Viana França (prefeito)
- Jacqueline Monteiro França (vereadora e primeira-dama)
- Lúcio José do Nascimento Araújo (vereador)
- Tércio de Figueiredo Dornelas Filho (vereador)
- Rosildo Pereira de Araújo Júnior – Júnior Datele (vereador)
- Antônio Bezerra do Vale Filho (vereador)
- Marcos Antônio Silva dos SAntos
- Inaldo Figueiredo da Silva
- Leila Maria Viana do Amaral
- Gleuryston Vasconcelos Bezerra Filho
- Adeilson Bezerra Duarte
Lista dos vereadores afastados
- Moacir Dantas
- Josué Góes
- Belmiro Mamede
- Rogério Santiago
- Rosivando Galan
Comentários