VIDA URBANA
Operação Cartola: denunciante diz que árbitros recebiam até R$ 35 mil em propina
Investigação começou após denúncia de cinco árbitros paraibanos.
Publicado em 16/04/2018 às 9:28 | Atualizado em 16/04/2018 às 15:57
A investigação que apura a manipulação de resultados no futebol da Paraíba teve início após cinco árbitros denunciarem as supostas fraudes à Polícia Civil e ao Ministério Público da Paraíba (MPPB). Um dos denunciante disse, em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, neste domingo (15), que os juízes ganhariam até R$ 35 mil por partida para beneficiar os clubes. A Operação Cartola foi deflagrada na segunda-feira (9), dia seguinte após a conquista do bicampeonato paraibano pelo Botafogo-PB;
A Operação Cartola é resultado de mais de 6 meses de investigações. De acordo com o Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público da Paraíba, foi possível identificar a existência de dois núcleos principais, com aproximadamente 80 membros identificados. Estariam no esquema membros da FPF, da Comissão Estadual de Arbitragem da Paraíba (Ceaf), do Tribunal de Justiça Desportiva (TJDF-PB) e cartolas do futebol profissional.
“Você só trabalhava se fizesse parte da banda podre da arbitragem. Quem escolhe o árbitro é o dirigente do clube”, afirmou um dos juízes que fizeram a denúncia, que por ser testemunha, preferiu não se identificar. Segundo os denunciantes, o árbitro escolhido recebia propina para garantir a vitória do time corrupto no Campeonato Paraibano. “[Jogo] valendo classificação, o árbitro recebia 30 mil, 35 mil. Jogo normal, chega a 10, 12, 15 mil”, completou.
Após a denúncia, a Polícia Civil passou a acompanhar os jogos do Campeonato Paraibano. A reportagem do Fantástico teve acesso a detalhes da investigação e citou algumas das partidas que estão sob suspeita. Uma delas foi Botafogo-PB e CSP, realizada em 11 de fevereiro, pela primeira fase da competição, que terminou empatada em 3 a 3. No fim do jogo, objetos foram arremessados no campo.
O árbitro do jogo foi Francisco Santiago que, na época, disse à rádio CBN que os objetos foram arremessados pela torcida botafoguense e que colocaria na súmula do jogo. No entanto, o Botafogo-PB não recebeu nenhuma punição. A Polícia Civil já tem informações de que depois do jogo, dirigentes do Botafogo-PB pressionaram o presidente da Comissão de Arbitragem da Paraíba, José Renato Soares que, por sua vez, mandou o árbitro não colocar nenhum problema na súmula da partida. “A equipe de arbitragem não conseguiu identificar a torcida responsável pelos arremessos”, informou Francisco Santiago na súmula. A reportagem do Fantástico tentou contato com o árbitro, mas as ligações não foram atendidas.
Um outro jogo sob suspeita é Botafogo-PB e Sousa, em 15 de março, que valia vaga para as semifinais. Aos 11 minutos do primeiro tempo, o árbitro Antônio Carlos Rocha, marcou um pênalti duvidoso para o Botafogo-PB. Especialistas ouvidos pelo Fantástico afirmaram que não houve a penalidade. O clube de João Pessoa venceu a partida por 3 a 1 e se classificou.
O sorteio dos árbitros para as partidas do Campeonato Paraibano são gravados pela Comissão de Arbitragem e ficam disponíveis na internet. No entanto, segundo o delegado de Defraudações e Falsificações de João Pessoa, Lucas Sá, tudo não passa de um teatro. “O que é sorteado alí está atendendo diretamente os pedidos dos dirigentes”, disse.
As investigações mostram que toda vez que um dirigente pedia um determinado juiz, esse pedido era atendido. “A gente tem fatos concretos que o próprio presidente da Comissão garante que aquele árbitro vai ser sorteado”, completou Lucas Sá.
Na mira das investigações, o presidente da Ceaf, José Renato Soares, negou as acusações. “Ninguém admite tratativas que venham relacionar a qualquer tipo de manipulação. Isso pra mim é um absurdo”, disse ao Fantástico. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) suspendeu todos os árbitros da Paraíba até o término das investigações.
Segundo a Polícia Civil, os campeonatos de futebol da Paraíba de 2011 a 2018 estão sob suspeita de fraude.A Federação Paraibana de Futebol (FPF) disse que não pensa em cancelar nenhum campeonato."Queremos que seja feita investigação e seja determinado quem são os culpados, para serem banidos do futebol paraibano e brasileiro”, disse o advogado que representa a entidade, Hilton Souto Maior.
Procurada pelo Fantástico, a diretoria do Botafogo-PB não quis se pronunciar. Quando a Operação Cartola foi deflagrada, o clube afirmou em nota que está à disposição das autoridades para colaborar com as investigações. “O clube reitera a importância da lisura nos certames esportivos no estado, ao passo que acompanha com tranquilidade o desenrolar das investigações”, disse.
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