CULTURA
80 anos de João Pessoa - morte e história do presidente
Embora nesta segunda-feira faça exatos 80 anos da morte do presidente João Pessoa, ainda é possível encontrargente que se denomine liberal ou perrepista.
Publicado em 25/07/2010 às 9:51
De Astier Basílio do Jornal da Paraíba
Embora nesta segunda-feira (26) faça exatos 80 anos da morte do presidente João Pessoa, cujo assassinato foi o ponto culminante para a Revolução de 1930, ainda é possível encontrar, hoje em dia, em pleno século 21, gente que se denomine liberal ou perrepista, embora estas denominações estejam ligadas às siglas partidárias extintas de há muito. A reportagem do JORNAL DA PARAÍBA quis mostrar o quanto o tema não é só polêmico nas esferas política e histórica, mas rendeu boas discussões também no âmbito cultural.
Em 1983, a então jovem cineasta gaúcha, descendente de japoneses, Tizuka Yamazaki realizou com estrondo o seu segundo filme, Parahyba Mulher Macho. A película foi assistida por mais de 1,7 milhão de espectadores, uma das maiores bilheterias daquele ano. Todavia, a produção deu muito o que falar. Houve até processo na Justiça movido por Helena Beiriz, à época com 70 anos, irmã de Anayde, namorada de João Dantas e principal personagem do filme, interpretada pela atriz Tânia Alves. O objetivo da ação, que não prosperou, era interditar as cenas de sexo do filme. Mas não foi só o lado “perrepista” quem reclamou. O advogado João Pessoa Neto, como o nome já indica, neto do ex-presidente da Paraíba, divulgou várias cartas em jornais do Nordeste acusando as inverdades do filme.
Tizuka, à época, se defendeu de ambos. Disse que não pretendeu fazer um documentário: “Juntei as migalhas biográficas da mulher Anayde para fazer um filme de ficção”. Para o historiador Wellington Aguiar, autor do livro João Pessoa, O Reformador, “o filme não é história, é ficção”, comentou. “Tizuka fez esse filme pra ganhar dinheiro, atropelou inteiramente a história”.
Com relação a Anayde, a cineasta chegou a dizer que era um “problema de leitura”. “Essa crítica a que se refere foi moral, e não cinematográfica. Para mim, a leitura é libertária. Mas a Anayde continua sendo prostituta para uns e libertária ou revolucionária para outros. A versão em que se acredita é aquela que nos convém. A família de Anayde Beiriz não gostou do filme, e eu sei por quê. Ela queria que eu recuperasse Anayde do esquecimento, mas não com a imagem do que ela foi, e sim com a imagem desejada pela família”, declarou a cineasta para a revista Veja.
No Teatro
Um dos maiores sucessos do teatro paraibano pegou inspiração também nos sangrentos episódios da política paraibana: Anayde, texto de Paulo Vieira, montagem do grupo Bigorna, com direção de Fernando Teixeira. “O texto foi escrito em 1982 e montado em 1992. Quando eu o escrevi, o texto recebeu apoio entusiasmado de José Joffily (autor do livro Anayde-Paixão e Morte na Revolução de 30) e uma forte oposição da família de Anayde. Mas isso é bastante compreensível, porque até então não se falava o nome de Anayde Beiriz. Era um nome maldito na cidade. Interessante isto: justamente Anayde que não teve, ao menos aparentemente, envolvimento político com os fatos de 30”.
Paulo Vieira lembra que “10 anos depois, Fernando Teixeira montou Anayde e para minha surpresa o tema continuava a atrair a atenção, embora não fosse mais um tema capaz de provocar polêmica, ao menos polêmica pública como o filme da Tizuka o fez. Mas era um tema que mexia com a cidade e que exigia certa dose de coragem para levá-lo à cena. Tanto que foi uma das melhores temporadas naqueles tempos. Teatro Santa Roza lotado todas as noites e superlotado nas últimas semanas”.
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