POLÍTICA
Fraudes e conspirações: especialistas comentam as principais 'fake news' divulgadas no 1º turno
Pesquisadores estão estudando a origem e a propagação das mentiras nas redes sociais.
Publicado em 19/10/2018 às 15:03
Nunca se falou tanto em 'fake news' como durante a atual campanha eleitoral em curso no Brasil. As notícias falsas se espalharam principalmente pelas redes sociais tratando de asuntos como fraudes nas urnas, conspirações, religião e principalmente declarações nunca ditas pelos candidatos. Um levantamento feito pela plataforma de checagem 'Aos Fatos' mostra quais foram as 'fakes' mais compartilhadas durante o primeiro turno das eleições. Especialistas defendem mais rigor dos órgãos para coibir a propagação dessas mentiras, mas ressaltam o papel fundamental da população nesse combate.
Segundo levantamento de 'Aos Fatos', que une jornalistas e pesquisadores, a 'fake' mais compartilhada durante o primeiro turno foi a que afirmava que uma urna estava programada para autocompletar o voto em Fernando Haddad para a presidência, com 732,1 mil compartilhamentos. A platarforma se atém apenas às publicações feitas em redes sociais abertas, como o Facebook. Não se tem números sobre a circulação no WhatsApp, por exemplo.
Entre as cinco notícias falsas mais compartilhadas, três falam de possíveis fraudes. A segunda fala de uma suposta apreensão de urnas, preenchidas com votos para Haddad; e a quarta, é uma que trata de uma declaração do ex-ministro Antônio Palocci afirmando que tinham sido encomendadas para fraudar eleições. Na terceira posição, aparece uma notícia sobre Rodrigo Santoro nunca ter sido beneficiado pela Lei Rouanet, e mesmo assim ser o brasileiro mais famoso em Hollywood, e a quinta é o candidato Ciro Gomes (PDT) se declarando inimigo da Igreja Católica. (Veja a lista com as 12 mais compartilhadas no final do texto).
“Existe um apelo muito forte por conspirações. As chamadas entregam bastante a não-veracidade da notícia. Quando você recebe e percebe que não tem ligação com veículo de mídia tradicional e tem chamada bem sensacionalista, você tem que ficar atento que essa informação está sendo subvertida”, afirmou o professor do Centro de Informática da Universidade Federal da Paraíba(UFPB) e integrante do Núcleo de Pesquisa e Extensão-Lavid, Carlos Eduardo Batista, em entrevista à rádio CBN, após os dados de 'Aos Fatos'.
Batista ressaltou que vários grupos de trabalho no Brasil, assim como o Lavid, estão investigando o comportamento das redes sociais no período eleitoral Está sendo feita uma coleta de informações para tentar entender o padrão de como essas mensagens estão sendo geradas com relação às notícias falsas.
“É necessário que a gente entenda o que está por trás e porque estão se propagando tudo isso. Nós estamos falando sobre um ecossistema de desinformação. a tenttiva de desinformar, de manipular o mundo, sobre política e sobre partidos, e manipular a própria percepção de realidade mesmo”, destaca o professor e produtor de conteúdo digital Ricardo Oliveira.
Ricardo chama atenção para dois pontos no contexto das 'fake news' : a imersão das pessoas nas próprias verdades e a tentativa de descredenciar a imprensa. “Quando a gente está 'apaixonado' politicamente, tende a seguir um viés de confimação. Tudo que eu quero ler é aquilo que interessa a minha posição, o que eu acredito no final das contas”, explicou.
Sobre os ataques à imprensa, Oliveira analisa que mais do se descredenciar veículos, as fakes estão dando um passo além. “É um ponto muito sensível. Quando isso vira massivo, como virou esse ano, nós estamos tentando descredenciar a verdade, a gente começa aceitar a pós-verdade, que eu chamei recentemente de verdadezinha inconveniente , uma pequena e conveniente para mim”, disse. “Não interessa só manipular e trazer uma mentira como verdade, a minha fala por si só vale e eu estou disposto a sofrer as consequências por transmitir esse viés que me interessa”, completou.
O que fazer
Carlos Eduardo Batista defende a criação de mais ferrramentas para mitigar esse tipo de propagação de contéudo falso. “Evitar surgir é impossível, a gente não tem como criminalizar isso.A gente precisa evitar que isso seja em larga escala e consiga influenciar coisas importantes como as eleições”, ponderou.
Batista lembr,no entanto, que por mais ferramentas que existam, o papel da população é fundamental. “Por mais que tenhamos investigações, que apontem envio massivo,exisite uma parte orgânica,existe uma parcela de má-fé, de pessoas que passam as informações sem verificar.As pessoas têm condições de verificar e não o fazem porque percebem que aquela informação se adequa ao viés dela”.
“A imprensa tem que continuar fazendo seu trabalho, mas o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) precisa agir com mais firmezas”, cobrou Ricardo Oliveira.
Veja as fake news mais compartilhadas
1-Urna está programada para autocompletar voto em Fernando Haddad (732,1 mil compartilhamentos)
2-PF apreende van com 152 urnas eletrônicas, dessas 121 estavam preenchidas com votos para o Haddad (60 mil compartilhamentos)
3-Nunca precisou da Lei Rouanet. É o artista brasileiro mais conhecido em Hollywood. Taí a diferença (57 mil compartilhamentos)
4-Palocci afirmou que eleições eram decididas pela cúpula. Urnas foram encomendadas para fraudar eleições! O que o TSE vai dizer agora? (52,2 mil compartilhamentos)
5-Ciro Gomes se declara INIMIGO da Igreja Católica! (50,5 mil compartilhamentos)
6-Jean Wyllys é o futuro ministro da Educação do governo Haddad do PT (50 mil compartilhamentos)
7-"Mulher tem é que calar a boca e não dar um pio. Pois o único papel da minha mulher é o de dormir comigo" - Ciro Gomes (48 mil compartilhamentos)
8-Alunos da UFMG protestam sem roupa contra o candidato Bolsonaro (45 mil compartilhamentos)
9-Flavio Bolsonaro usou camiseta estampada com a frase "Movimento nordestinos voltem pra casa. O Rio não é lugar para jegue” (18 mil compartilhamentos)
10-Vivemos numa época onde querem que os padres se casem e que os casados se divorciem. Querem que os héteros tenham relacionamentos líquidos sem compromisso, mas que os gays se casem na Igreja... — padre Fábio de Melo (8.000 compartilhamentos)
11-Gastos com campanha presidencial 2018. Meirelles: R$ 45 milhões; Alckmin: R$32 milhões; Haddad: R$ 29 milhões; Ciro: R$ 10 milhões; Marina: R$ 4 milhões; Bolsonaro: Wi-Fi de casa (8.000 compartilhamentos)
12-Não vá votar com camiseta amarela ou de outra cor qualquer que possa lhe identificar como ‘bolsonariano’, pois logo que você votar os mesários podem colocar o n° 17 do lado da sua assinatura de quem votou no Bolsonaro e assim anular o voto. (Sem métricas para o Facebook; viralizou no WhatsApp)
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