CD traz a boa safra de Wado

Catarinense de berço, alagoano por adoção, Wado conheceu o maranhense Zeca Baleiro há aproximadamente 10 anos. De lá para cá, ataram uma parceria firme, que já resultou em “quatro ou cinco canções” (três delas já gravadas) e na primeira coletânea do músico independente em 12 anos de carreira.

O Ano da Serpente (Saravá Discos) sai pelo selo de Zeca Baleiro com produção assinada também por ele. O título embarca no horóscopo chinês para amarrar o ano em que Wado nasceu (1977), o lançamento do primeiro disco, Manifesto da Arte Periférica (2001) e os doze anos de carreira do músico gaúcho, celebrados em 2013.

“A ‘porrada’ inicial quem deu foi ele (Zeca)”, revela Wado, por telefone, sobre a escolha do repertório. “Os critérios (para o repertório) passavam pelas músicas que falassem para mais gente, mais amplo, até o que seria radiofônico. Zeca me falou que tinha umas ambições de botar músicas no rádio, o que para mim seria genial”.

Com 15 faixas, O Ano da Serpente mostra o valor de Wado, ratificando o talento do moço entre os melhores compositores da atual geração. As 14 faixas foram pinçadas entre seis, dos sete discos dele – ficou de fora Vazio Tropical, lançado no ano passado.

Estão lá alguns dos principais hits de Wado, como ‘Pavão macaco’, uma das prediletas de Zeca Baleiro. O autor releva que escreveu a canção – uma balada com refrão rock bem hard - depois de ouvir do polêmico Diogo Mainardi que ele próprio falava pouca bobagem por ser lacônico. “Um ser humano é um macaco tentando se comunicar com 200 palavras”, teria dito o jornalista.

“Fiquei chocado com isso”, admite o compositor barriga-verde, quando fala da canção lançada em 2009. “A minha leitura é que o ‘Pavão macaco’ é meio isso, a nossa incomunicabilidade e a nossa vaidade. Mas é uma onda que ninguém entende! (risos).

Eu tenho uns amigos que me falam ‘a música tava indo tão bem, mas aí vem essa coisa de ‘pavão macaco’... (mais risos).

Eu acho legal, mas é arriscado. É difícil hoje em dia a gente se arriscar. A música vai bonita, tradicional, cheia de metáforas, mas quando chega no refrão ela dá uma reviravolta”.

Além do samba ‘Fortalece aí’, ‘Se vacilar o jacaré abraça’, 'Fita bruta’ e um dueto inédito entre Wado e Zeca para ‘Zás’, música que o maranhense incluiu em O Disco do Ano (2012), o CD traz outro dueto, desta vez com Chico César em ‘Surdos das escolas de samba’, extraído do álbum Samba 808 (2011).

Wado chegou até o paraibano através de amigos comuns, como Totonho, Pedro Osmar e Paulo Ró. “Eu sou muito fã do Chico”, derrete-se. “Aquele DVD com o Quinteto da Paraíba (Cantos e Encontros de Uns Tempos Pra Cá) é fenomenal, uma das coisas mais bonitas que eu ouvi na MPB”, acrescenta o músico, que começou a compor ‘Surdos...’ e Chico terminou.

“Mandei para ele terminar e ganhei de presente a voz dele, que eu acho sensacional”.

É de Samba 808 que Wado também extrai ‘Com a ponta dos dedos’, faixa que conta com Marcelo Camelo e Mallu Magalhães nos vocais e venceu o VMB 2012 na categoria ‘Melhor Música do Ano’. “Pra gente que é periferia da música, foi um dos pontos mais altos da carreira”, comenta o músico, referindo-se ao fato de morar em Maceió (AL), longe do eixo Rio-São Paulo.

Com um belo legado, Wado entra no Ano do Cavalo – 2014 – com vontade de gravar seu primeiro DVD. “Com sete discos, já dá para pensar em gravar um DVD bem bacana, mas é um troço caro”, pondera.