TECNOLOGIA
Cólica menstrual reduz produtividade em até 70%
Período dói nas mulheres e no bolso dos empresários. Ginecologista explica quais os tipos de cólicas e como tratar.
Publicado em 14/10/2008 às 8:46
Do G1
Patrícia, Jaqueline, Luciana e Indianara são mulheres muito diferentes que vivem muito longe umas das outras. Mas as quatro têm um problema em comum: já tiveram que faltar ao trabalho ou à escola por causa de crises fortes de cólica menstrual. São exemplos de mulheres que chegam a perder até 70% da sua capacidade produtiva durante os dois primeiros dias da menstruação, de acordo com um estudo feito por ginecologistas e publicado na Revista Brasileira de Medicina.
“A cólica dói na barriga das mulheres e deve doer muito no bolso dos empresários”, afirmou ao G1 o ginecologista César Fernandes, que coordenou o trabalho. “De um ano trabalhado, praticamente um mês de produtividade é perdido por causa da cólica”, explica.
Para a artesã paranaense Patrícia Lós, de 33 anos, o problema é ainda mais grave. Ela afirma que já teve de faltar ao trabalho muitas vezes, não só pela cólica, mas também pela tensão pré-menstrual. “Costumo dizer que perdia 15 dias de minha vida no mês”, conta. “Não conseguia sequer ficar em pé. Sem contar a náusea e a dor de cabeça que acompanhava a cólica”, explica.
A fluminense Jaqueline Pacheco, de 21 anos, chegou ao ponto de desmaiar no trabalho de tanta dor. “Sinto dores de cabeça, enjôos, dores nas pernas, pontadas na pélvis. Enfim, são os dias piores de minha vida”, conta ela. É o mesmo sofrimento da estudante Indianara Alves, de 21 anos, que vive na cidade de Cachoeira, na Bahia. “Minha cólica é péssima. Não consigo sair de casa. Já perdi aula, perdi prova”, afirma.
Algumas vezes a cólica nem é recorrentemente tão intensa. “Minha cólica é branda. Mas, às vezes, fica forte e eu passo mal”, conta Luciana de Carvalho, de 30 anos. “Já aconteceu de eu ter que faltar por cólica, pois era insuportável”, explica.
Por que alguém com uma dor assim sai de casa? É o que o médico César Fernandes se pergunta. “Uma pessoa com dor intensa, qualquer que seja, vai querer se recolher, se defender da dor em uma determinada posição”, afirma. A resposta é simples: “o medo de sofrer sanções, de perder o emprego, faz com que ela vá trabalhar. Seria muito mais apropriado que ela se afastasse por algumas horas para aliviar sua dor e voltasse em plenas condições. Como o jogador que tem uma contusão, se afasta e volta 100%”, recomenda.
Fernandes gostaria que tanto mulheres quanto empresários se conscientizassem de que a cólica nem é “frescura”, nem é algo com que a mulher “tem” que se acostumar.
“As mulheres que têm cólica devem procurar atendimento médico. Os empresários devem estar atentos e prover condições para que elas procurem ajuda”, afirma. “Uma simples consulta ginecológica, sem a necessidade de grandes exames, de grandes recursos, consegue fazer o diagnóstico e dar o atendimento adequado”, explica.
Estudo
O trabalho coordenado por Fernandes foi feito com 156 voluntárias maiores de 18 anos que trabalham em um centro de telemarketing no Rio de Janeiro. “O telemarketing foi escolhido porque é um trabalho que utiliza metas diárias e permite a quantificação da produtividade”, diz o médico.
O trabalho concluiu que 33 milhões de brasileiras sofrem com cólicas menstruais ao ponto de ter um impacto em sua produtividade. A dor faz 30% delas se afastar do trabalho por pequenos períodos ao longo de um dia.
Tipos de cólica
O ginecologista explica que há dois tipos de cólicas e que qualquer dor que atrapalhe o dia-a-dia da mulher precisa ser investigada. “A cólica tem cura, sim”, garante.
“A cólica menstrual pode ser mais ou menos intensa. É uma dor que acompanha a eliminação do fluxo menstrual. Acontece, em geral, no primeiro e no segundo dias da menstruação. Quando se elimina o fluxo, se elimina também substâncias que contraem o útero. Algumas mulheres têm uma contração mais vigorosa, mais espasmódica e, portanto, mais dolorosa”, explica Fernandes.
O primeiro tipo de cólica é também o mais comum, que ocorre em mulheres completamente saudáveis. “De 70% a 80% das mulheres têm cólica menstrual”, afirma o ginecologista. É a chamada “cólica primária”, que ocorre por simples contração do útero.
O segundo tipo, no entanto, é responsável por dores mais intensas, que não passam com remédios comuns, e que merecem uma visita ao médico. “São cólicas que se dão por que a mulher é portadora de uma determinada enfermidade. O útero tem um mioma ou uma doença, uma endometriose. Qualquer coisa que dificulte a eliminação dos resíduos da menstruação e cause dor. É a cólica que chamamos de secundária”, diz o médico.
Tratamentos
Quando a origem da dor é uma doença, o primeiro passo é, é claro, tratá-la. Isso pode ir desde um remédio a uma cirurgia, dependendo do caso.
Na maioria das mulheres, no entanto, o problema é a cólica primária, que é fácil de resolver. Algumas mulheres precisam tomar anticoncepcionais, que reduzem o fluxo menstrual e, por conseqüência, a dor. Quem não quer tomar um contraceptivo, no entanto, pode optar por antiinflamatórios. Só não pode tomar remédio por conta própria. “Cada caso é um caso e a escolha do remédio depende das peculiaridades de cada mulher”, afirma Fernandes.
O ginecologista reconhece, no entanto, que algumas mulheres não gostam de tomar remédio para cólica. Qualquer situação que nos pareça antinatural nos atemoriza. Se historicamente as mulheres sempre tiveram cólicas, se nossas mães nos alertavam para se preparar para a cólica, se a mulher está saudável, a cólica acaba parecendo normal e natural. Tratar seria antinatural. Por isso, algumas mulheres entendem que devem suportar”, reconhece.
Para o médico, não há nada mais errado. “É como um indivíduo da minha idade que tem dificuldade de visão, algo natural, não usar óculos. Óculos não é natural, mas para que eu possa ler, eu tenho que usar. Do mesmo modo, para a mulher se ver livre da cólica menstrual, ela pode usar um antiinflamatório e não há nada de antinatural nisso”, afirma.
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