VIDA URBANA
'O preconceito nunca acaba e a gente recebe sempre esses elogios ruins'
Líder do quilombo do Grilo, Leonilda Coelho Tenório dos Santos, a Pakinha, acredita que ser quilombola é fazer o dá vontade.
Publicado em 20/11/2015 às 16:00
“Eu faço o que eu quero, o que me dá vontade. Porque ser quilombola é isso, é ter força, é lutar pelos direitos”. A declaração entusiasmada é da líder do quilombo do Grilo, Leonilda Coelho Tenório dos Santos, a Pakinha, como gosta de ser chamada.
Mas essa garra e afirmação do que se é veio aos poucos e é reforçada até hoje na vida da líder do Grilo, localizado no município de Riachão do Bacamarte, no Agreste paraibano. Cada negativa ou olhar de indiferença que recebe são encarados de frente, como ela aprendeu com a mãe, dona Dôra e com o pai.
“Minha mãe era professora e ensinou muita gente aqui da comunidade a ler e a escrever. Era essa coragem que ela passava para a gente. O preconceito nunca acaba e a gente recebe sempre esses ‘elogios ruins’. Quando eu era jovem, eu tinha medo de ir a uma festa, com gente branca e bonita e eu, ali, com esse meu cabelo. Isso para mim era um desgaste, uma irritação. Depois que eu estudei, comecei a ler sobre os quilombolas, conheci o significado das palavras no dicionário, entendi que eu não sou diferente e o que é ser quilombola, ser negro, e tenho orgulho disso”, recorda Pakinha.
Com as mãos calejadas pela lida na roça e na construção civil, este último ofício ela aprendeu com o pai, a líder quilombola lembra de outra situação embaraçosa que sofreu quando foi cobrar melhorias para a comunidade em um evento, em Brasília (DF). “Era um encontro com quilombolas do Brasil todo. No intervalo, a gente entrou em um restaurante e aí escutamos muitas coisas ruins, muita piada e tinham pessoas que olhavam para a gente como se a gente fosse um ET. Aí, eu pensei: como tem gente assim ainda hoje? É triste. Mas cada um sabe o que é”, diz.
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