CULTURA
‘O Rei Leão’: uma live-action apática e desnecessária (que não precisa ser vista)
Para Jãmarrí, efeitos especiais e tecnologia não bastam para produzir um bom filme.
Publicado em 11/08/2019 às 10:24 | Atualizado em 11/08/2019 às 16:39
Muitos dos que assistiram à animação ‘O Rei Leão’, em 1994, se emocionaram frente à história tão shakespeariana. O pequenino leão Simba apontado injustamente como responsável pela morte do próprio pai – Mufasa - e um tio vilanesco e golpista (o debochado e nada ético Scar) disposto a qualquer cambalacho para assumir o reinado. De quebra, os divertidíssimos clowns Pumba e Timão. Em cena, leões, macacos, javali e suricato (Hacuna Matata!!!’) são um espetáculo de ‘caras e bocas’, em uma animação capaz de marejar os olhos dos mais durões e se encaixar na memória afetiva de quem gosta de belas histórias no cinema.
Pois bem... Vinte e cinco anos depois, a mesma história volta a ser contada pela indústria cinematográfica, em uma live-action apática e desnecessária (que não precisa ser vista). Todas as personagens do filme original estão nessa live-action, mas as emoções se perderam devido à robotização das interpretações. Embora os efeitos especiais sejam estonteantes, as ‘caras e bocas’ do original não existem nessa versão. Falta emoção nos rostos das personagens. Há apatia interpretativa. E isso é muito incômodo...
É muito claro que a Disney busca apenas lucrar em cima de um produto requentado, assim como fez com ‘Aladdin’, ‘A Bela e a Fera’, ‘Dumbo’ e ‘Mogli: O Menino Lobo’. O diretor Jon Favreau (que já havia dirigido a live-action ‘Mogli’) optou por uma cópia sem personalidade. Definitivamente, efeitos especiais e tecnologia não bastam para produzir um bom filme. Assim, mesmo com um visual lindo, trilha sonora que toca o coração do espectador e uma sensação de grandiosidade nababesca, essa live-action é quase uma afronta ao filme original.
A estrutura narrativa da live-action de ‘O Rei Leão’ é praticamente a mesma da animação original. O espectador que assistiu à animação vai sentir diferença mesmo é nas interpretações. Certamente, sentirá falta do deboche e da ironia nas falas do vilão Scar (que está mais sério e mais assustador). Também sentirá falta – quando da aparição das hienas - das gargalhadas resultantes mais da insanidade que da vilania (principalmente de Ed). O babuíno Rafiki perde seu tom de gênio louco e ganha uma ‘sobriedade de sábio’.
Uma ressalva: essas percepções aqui apresentadas valem apenas para aqueles eu já assistiram à animação original! Se você não viu ‘O Rei Leão’ de 1994 é muito provável que assista a essa live-action e saia da sala de cinema feliz da vida, achando que assistiu a um longa fantástico. A animação agrada mais a um público infantil. Essa live-action de agora – mais realista e bastante adulta, perde a magia...
Uma outra ressalva: a live-action de ‘O Rei Leão’ não chega a ser ruim (se não houver avaliação comparativa). Mas havendo comparação, ela é fraca. Bem fraca e pouco atraente. A construção estética dos animais é esplendorosa, com um grau de veracidade assustador, assim como os cenários riquíssimos de detalhes. Parece até um documentário da National Geographic (e com os bichos falando!). Mas isso não basta...
Apesar do ‘círculo da vida’ ainda provocar fortes emoções no espectador é certo que o círculo da grana ainda fala mais alto na indústria cinematográfica dos estados Unidos. Essa live-action de ‘O Rei Leão’ é apenas mais um blockbuster para arrecadar dólares, evidenciando que Hollywood não se esforça muito para saltar o triste obstáculo da crise dos roteiros originais. É mais do mesmo que é oferecido pela ganância e pela preguiça travestidas de nostalgia. Vá ver o filme dirigido por Jon Favreau, mas vá disposto a se decepcionar e a ter a certeza de que a animação original não merecia essa live-action...
*Jamarrí Nogueira escreve sobre arte, cultura e comportamento no Jornal da Paraíba aos domingos
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